Festival marroquino traz uma das sensações do cinema animado de 2025, o francês 'Arco', em um painel diverso de desenhos com foco em ecologia e violências históricas
Uma das apostas mais quentes para o Oscar de Melhor Longa-metragem de animação de 2026, vitaminado pela conquista do troféu Cristal em Annecy (a Merca dos desenhos, do stop-motion e da computação gráfica), "Arco" viveu um fim de semana agitado nas telas do Marrocos e terá uma terça-feira igualmente agitada - e colorida - na África árabe. A aventura que tem feito do animador francês Ugo Bienvenu um ímã de elogios, atraindo os olhares de estúdios de peso para seu talento, é uma das produções que integram o circuito animado da 22ª edição do Festival de Marrakech.
Graças a essa seleção, majoritariamente talhada para plateias de dentes de leite e para seus responsáveis, o evento marroquino vê seu público crescer como raro viu de sua inauguração, em 2001, até hoje.
Com passagens pela Guatemala, pelo Chade e pelo México em sua formação artística como ilustrador e cineasta, Bienvenu mira num amanhã catastrofista. Arco, de 12 anos, vive no ano 2932, num futuro distante onde é possível viajar no tempo através do arco-íris. Durante seu primeiro voo solo num mar de cores, ele sai da rota e, acidentalmente, acaba no ano 2075. Lá, ele conhece Iris, uma jovem cujo mundo está marcado pelas mudanças climáticas, com cidades cobertas por cúpulas, temerosas de um colapso ambiental. Iris ajuda Arco a navegar por esse tempo desconhecido, enfrentando os perigos e as maravilhas de um futuro próximo que mudou drasticamente desde o nosso tempo. Juntos, eles tentam encontrar uma maneira de fazer o guri voltar para casa, forjando um vínculo improvável e terno.
A linha ecológica de animar debates sobre o meio ambiente assegurou uma passagem do longa holandês "Tummy Tom and the Lost Teddy Bear", de Joost van den Bosch & Erik Verkerk, por Marrakech. O enredo assume como protagonista o felino Tom, um pequeno gato ruivo travesso. É curioso e alegre… e um pouco impulsivo. Quando perde o seu peluche favorito — aquele com o qual dorme todas as noites desde que era um gatinho — é um verdadeiro desastre. Não há hipótese de ficar de braços cruzados: tem de o encontrar. Felizmente, Tom pode contar com o Ratinho, o seu melhor amigo, para o acompanhar nas aventuras que se seguem. E assim partem numa expedição alucinada.
A fauna animada de Marrakech inclui aves - e meninas travessas - na fofura "Le Secret des Mésanges", de Antoine Lanciaux. Sua heroína, Lucie, tem nove anos e chega à região de Bectoile para as férias, sem a ideia das peripécias que a aguardam. Sua mãe, Caroline, está liderando uma escavação arqueológica na região com seu colega Pierrot. Bectoile é a cidade onde Caroline cresceu e o cenário de um segredo de família, que a pestinha de sua filhota está prestes a desvendar. Lucie está determinada a mergulhar na história de seus ancestrais com a ajuda de seu novo amigo Yann e um par muito especial de pássaros canoros.
Como Guillermo Del Toro é um dos homenageados deste ano em Marrakech, com tributo a ser recebido nesta sexta-feira, o evento marroquino assegurou tela grande para a animação que lhe deu um Oscar em 2023: "Pinóquio". No dia 5, antes de sua honraria, o cineasta mexicano fala sobre sua releitura para o bonequinho de pau que adora mentir, agora assombrado pelo avanço do fascismo de Mussolini.
Nesta terça-feira, a competição pela Estrela de Ouro, o troféu mais cobiçado de Marraquexe, segue com "First Light", produção meio filipina, meio australiana, do diretor James J. Robinson. Em sua trama, uma freira idosa testemunha um acidente em que um jovem operário da construção civil morre e é levada a questionar os princípios éticos da instituição à qual dedicou sua vida. Entre seus concorrentes já exibidos - serão 13 ao todo, a serem projetados daqui até sexta -, o mais devastador é o sul-africano "Laundry", da diretora Zamo Mkhwanazi. Seu roteiro reconstitui o racismo institucional do apartheid, numa viagem no tempo até 1968, com foco num jovem músico às voltas com a lavanderia de seu pai. No sábado serão conhecidas as narrativas vencedoras, eleitas por um júri que conta com o diretor cearense Karim Aïnouz.