Na reta final de 2025, parece difícil que apareça um plano de encerramento de filme (que se lance já em meio aos créditos) mais bonito do que o de "Quase Deserto". É o melhor filme de Jim Jarsmuch que Jim Jamursch não dirigiu, pois quem filmou foi José Eduardo Belmonte. Tem eco forte do diretor americano mais "maluco beleza" de todo o cinema nesse novo filme do artista formado no DF que nos deu "Meu Mundo Em Perigo" (2007) e "Gorila" (2012). É metade "Daunbailó" (1986), metade "Estranhos no Paraíso" (1984), só que com Vinícius de Oliveira, o órfão em busca do pai de "Central do Brasil" (1998), já adulto, a brilhar na tela.
Seu roteiro talvez seja a mais prospectiva abordagem para a rotina de estrangeiros em terras distantes. No caso, um brasileiro (Vinícius, bem à pampa) e um argentino (Daniel Hendler) se arvoram a tentar a sorte numa Detroit que é um oceano de perigos, nos EUA pós-pandemia.
Tem uma participação de se aplaudir de pé de Alessandra Negrini, coruscante sobretudo na sequência de uma entrevista de visto. O mais forte de "Quase Deserto" é mostrar o que (ainda) é ser latino no país que reelegeu Trump. No jeitinho brasileiro, a truculência vai se debelando e fica o afeto, o que faz desse Belmonte uma carta de intenções para o futuro, reivindicando dias melhores, numa geopolítica de solidariedades.