Com blockbuster no currículo ("Tô Ryca", visto por 1,1 milhão de pagantes há quase dez anos) e uma série de sucessos nas franjas do pop (entre eles, "Evidências do Amor", com Fábio Porchat e Sandy), Pedro Antonio está de volta a uma franquia que redefiniu a representação da "família brasileira", cantando pra subir a sanha moralista que agrilhoou tornozeleiras conservadoras em nossos lares. "Um Tio Quase Perfeito", que encheu salas em 2017 e emplacou uma Parte Dois muito bem prestigiada pelo nosso público em plena pandemia, em 2021, ganha agora um terceiro filme.
Marcus Majella volta ao papel do Tio Tony, que o consagrou na telona como um campeão da alegria. Ele e o cineasta carioca estão juntos também em no thriller cômico queer "Agentes Muito Especiais", com o bamba da risada Pedroca Monteiro no rolê. Essa estreia, oriunda de uma ideia de Majella e do santo padroeiro da gargalhada Paulo Gustavo (1978-2021), ficou para 8 de janeiro. No caminho, o realizador dá conta da terceira peripécia cinematográfica do tio Tony. O Correio da Manhã foi no set, no Grajaú, papear com a direção.
O roteiro é de Sabrina Garcia, de Rodrigo Goulart e do próprio Pedro Antonio, que é filho da produtora Gláucia Camargos e do diretor Paulo Thiago (1945-2021).
"Um Tio Quase Perfeito 3" foi gestado pela Arpoador Audiovisual, em coprodução com a H2O Produções e Sony Pictures International Productions. A distribuição é da H2O Films. A Sony Pictures é codistribuidora. Na trama, Tony (Majella) sente falta dos sobrinhos, que, fora do ninho, estão mais independentes, fazendo planos para férias que não envolvem o titio. Patrícia (Julia Svacinna) planeja estudar no Pantanal. João (João Barreto) pretende fazer um filme. Valentina (Soffia Monteiro) busca um curso de dança em Minas Gerais. Tony segue como professor de Teatro na escola, mas uma nova criança chega para bagunçar a sua rotina: um bebê, que é deixado na porta de sua casa.
No papo a seguir, Pedro Antonio esquadrinha a dimensão humorística dessa premissa.
Sua franquia mudou o lugar de representação simbólica do tio na família brasileira. O que é ser tio numa cultura como a nossa?
Pedro Antonio - Um tio entra onde os pais por vezes faltam. Essa figura cumpre a função da irresponsabilidade afetiva, uma vez que não tem a obrigação de educar. Ele quer que os/as sobrinhos/as sejam felizes. O Tony tem a frase "É coisa que morre? Não? Então pode fazer". Não se esqueça de que a nossa cultura celebrizou "As Tias", a peça lendária do Mauro Rasi. A gente teve também o Tio Maneco do Flávio Migliaccio. O que buscamos na imagem do Tony é o tio moderno... aquele que se vira e vive o mundo real. Não é o "tio do pavê".
Esse tio singular que você e Marcus Majella consolidaram abriu a deixa para ampliar um filão chamado family film, em terras nacionais, falando com as crianças também. Que dimensão infantojuvenil existe nessa cinessérie do Tio Tony?
Sou formado em palhaçaria. O palhaço não inventa piada, ele descobre a piada. A medida do humor infantil é o humor do clown: é descoberta. Fazer um filme que também fale para a criança é não perder de vista o olhar sobre as mães e os pais. Eu faço graça, mas preciso saber ser triste numa medida que jamais tire a leveza.
Quais são as dificuldades de se fazer comédia hoje, sob as patrulhas morais da atualidade?
Para fazer comédia, é necessário um senso de observação do mundo. O riso vem do olhar do querer, não do olhar do poder. Nos novos tempos, o que aumentou foi o senso crítico em torno do 'eu posso' e, portanto, certas violências simbólicas que se praticavam antes, às vezes sem serem percebidas, acabaram... ou estão sob alerta. Eu busco um tipo de comédia onde a graça vem do dia a dia, onde o violento é a dificuldade de sobreviver que nos cerca. A risada que eu busco está a serviço da afetuosidade.
Que estética da afetuosidade se forjou entre você e Marcus Majella?
O que é ser um protagonista? É correr uma maratona, entendendo e sabendo valorizar as cenas heroicas, preservando as autoralidades... a do intérprete e a do diretor. O Majella corre essa maratona comigo. Quando trabalham juntos muitas vezes, artistas formam uma amizade e, sobretudo, cumplicidade. É o que eu mais valorizo. Ele executa tudo de que eu preciso com consciência, com um jeito próprio muito especial.
Existe um Tio Tony na sua vida?
Meu Tio Ricardo. Esse cara preencheu uma alegria na minha infância. Músico e arquiteto, ele me ensinou a gostar de futebol. Eu sou um filho para ele. E ele é um pai pra mim.