Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Soluços da História

O cineasta romeno Bogdan Mure?anu integrará o júri do Cairo | Foto: Divulgação

Quem venceu a competição oficial do Cairo em 2024 foi o painel histórico à moda romena "O Ano Novo Que Nunca Veio" ("The New Year That Never Came"), antes coroado com o prêmio oficial da mostra Horizontes do Festival de Veneza. Seu realizador, Bogdan Muresanu, é um dos artistas essenciais à manutenção do interesse mundial pelas imagens que se produzem em Bucareste e arredores. Meses depois de correr mundo com a animação "The Magician" ("O Mágico"), lançada em junho no Festival de Annecy (a Meca dos desenhos, sediada na França), o cineasta regressa ao Egito, agora como jurado oficial. O júri de longas, do qual faz parte, tem como presidente o diretor turco Nuri Bilge Ceylan. Julgar filmes é uma forma de Bogdan fazer uma pós-graduação poética nas Ciências Sociais do audiovisual.

"A História não é confiável. Ele escrita por vencedores. Aí entra a arte. Arte não lida com certezas, mas, sim, com sombras. A perspectiva da arte é a dúvida", disse o cineasta ao Correio da manhã no Festival de Buenos Aires, o Bafici, onde ganhou uma retrospectiva, em abril. "Eu nasci na Romênia de Nicolae Ceausescu (estadista que governou aquele país de 1965 a 1989 como secretário do Partido Comunista). A presença dele ainda se faz sentir toda vez que alguém, lá, começa a falar bem do Comunismo. Quem fala assim não deve se lembrar mais de como ele era. A Romênia daquele tempo era um lugar sombrio. Parecia que vivíamos uma noite perpétua".

O Festival do Cairo segue até o dia 21 de novembro.