Sexta edição do Cinema Negro em Ação premia produções de todo o país e homenageia Tony Tornado com troféu que leva nome de pioneiro Odilon Lopez
A produção, produção, memória e futuro do cinema negro no Brasil foi celebrada na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, durante a sexta edição do Festival Cinema Negro em Ação, encerrado no último fim de semana. Realizado pela Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul, através do Instituto Estadual de Cinema, o evento consolidou-se como plataforma de visibilidade para narrativas e talentos negros do audiovisual nacional.
O ponto alto da cerimônia de encerramento foi a homenagem a Tony Tornado, figura emblemática da cultura negra brasileira. O cantor, ator e precursor da black music no país recebeu o troféu Odilon Lopez, que leva o nome de outro pioneiro fundamental do cinema negro brasileiro. "Eu fico muito emocionado, lisonjeado. Sinceramente, nem sei se sou merecedor, mas em nome de todos que acreditam na nossa missão (dos artistas negros), nós vamos continuar porque a vitória é certa. Ainda tenho cinco anos para fazer 100 anos", declarou o homenageado, aos 95 anos, demonstrando a vitalidade e o compromisso que marcam sua trajetória de décadas dedicadas à arte e à luta antirracista.
A celebração estendeu-se para além da cerimônia oficial. Logo após receber o troféu, Tony Tornado subiu ao palco da Travessa dos Cataventos para um show que lotou o espaço.
A programação do festival comprovou a vitalidade da produção audiovisual negra, com destaque para realizadores de diferentes regiões do país. A Bahia sobressaiu-se ao conquistar os principais prêmios das categorias longa e curta-metragem. "Quem É
Essa Mulher", dirigido por Mariana Jaspe, levou o troféu de melhor longa, enquanto "Nevrose", de Ana do Carmo, venceu como melhor curta.
Outras regiões também marcaram presença no pódio do festival. O Maranhão foi representado pelo videoclipe "Herança", assinado pela dupla Micah Aguiar e Jonas Sakamoto, que conquistou a categoria específica do formato. Já o Rio de Janeiro teve sua produção reconhecida através de "Ao Mar... Devolvo o Sal das Nossas Lágrimas", videoarte de Giuliano Lucas que integra a safra de 2025 e explora linguagens experimentais do audiovisual. São Paulo recebeu menção honrosa com "Dia de Preto", curta-metragem dirigido por Beto Oliveira.
O festival reservou espaço para valorizar a produção audiovisual gaúcha através dos prêmios Destaque RS, que reconheceram talentos locais em diferentes frentes criativas. Crystom Afronário foi premiado por sua direção no curta "Aconteceu à Luz da Lua". Valéria Barcellos conquistou o prêmio de melhor atriz por sua atuação em "Mãe", curta de 2025 dirigido por João Monteiro.
Além das mostras competitivas, o festival investe na formação e no desenvolvimento de novos projetos através do Sopapo Lab, laboratório de consultoria que ofereceu oportunidades para realizadores negros aprimorarem seus trabalhos em desenvolvimento. Cinco projetos foram contemplados com prêmios que incluem consultorias especializadas, passes para eventos de mercado e cursos profissionalizantes. Entre os contemplados estão "Morada das Lágrimas", longa de ficção da maranhense Nádia Maria que recebeu consultoria da Casa de Cinema de Porto Alegre; "Alguns Nomes Ainda Queimam", projeto dos gaúchos Alexandre Mattos Meireles e Chico Maximila que conquistou consultoria do DiALAB e credencial para o mercado Entre Fronteras de 2025; e "Quase Vira", longa de ficção da carioca Luana Arah que ganhou consultoria com a empresa Tomun. A animação "A Raiz Arandu", da porto-alegrense Viviane Juguero, foi premiada com passe para cursos do Instituto Akamani. Todos os cinco projetos ainda receberam consultoria da Paradiso Multiplica, assim como a série "Anjos de Fogo", de Adry Silva.
Fora da mostra competitiva longas como "Malês", de Antonio Pitanga, e "Kasa Branca", de Luciano Vidigal, foram exibidos na programação do festival.