Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Wagner Moura, um Astro rei

Wagner Moura na pré-estreia de 'O Agente Secreto' durante o Festival do Rio | Foto: Festival do Rio/Divulgação

Despedindo-se dos palcos, na última apresentação de ‘Um Julgamento - Depois do Inimigo do Povo', ator vê ‘O Agente Secreto’ pavimentar sua estrada para o Oscar, enquanto se espalha por streamings

Despedindo-se esta noite dos palcos do CCBB-RJ, onde encena "Um Julgamento - Depois do Inimigo do Povo", sob a direção de Christiane Jatahy, o baiano Wagner Moura confirmou ser uma aposta quente para o Oscar de Melhor Ator, em 2026, ao ser indicado, semana passada, aos Gotham Awards - premiação nova-iorquina para expressões artísticas visionárias. Ele está em disputa com "O Agente Secreto", thriller que lhe rendeu a láurea de Melhor Interpretação Masculina no Festival de Cannes, em maio.

Já em pré-estreia, a produção escrita e dirigida por Kleber Mendonça Filho entra em circuito, oficialmente, nesta quinta-feira, com chances de se consagrar como blockbuster, não só no Brasil como mundo afora. E Wagner é essencial nisso, sobretudo neste momento em que se encontra onipresente nas plataformas de streaming. 

 

'É bom falar português nas telas de novo'

Wagner Moura ciceroneou o Todo Poderoso em 'Deus é Brasileiro' | Foto: Divulgação

"É bom falar português nas telas de novo e não quero mais passar um ano sem fazer um filme no Brasil, onde eu me afinei com Kleber, onde a gente se conectou pela política", disse Wagner ao Correio da Manhã em Cannes.

Tem muitos Wagners em "O Agente Secreto", mas é necessário que se fale o mínimo sobre as variações de sua figura em cena, numa trama ambientada em 1977, quando um pesquisador e professor da universidade pública é perseguido por assassinos de aluguel por conta da disputa por uma patente científica no Recife, em meio ao governo de Ernesto Geisel (1907-1996).

"As universidades públicas sempre foram atacadas quando governos de extrema direita sobem ao Poder, sem entenderem que o interesse da política deveria ser, acima de tudo, o bem do povo. Quando pensamos na educação... ela deveria ser um direito", disse Wagner, que antes de "O Agente Secreto" emplacou sucesso na série "Ladrões de Droga", na Apple TV, também acessível via Prime Video.

Produzido e codirigido por Ridley Scott, esse seriado soma carismas, ao colocar a estrela de "Tropa de Elite" (Urso de Ouro de 2008) ao lado de Brian Tyree Henry. A trama acompanha amigos de longa data, delinquentes de carteirinha, que se fazem passar por agentes da DEA para roubar uma casa no campo. No golpe, acabam revelando - e desvendando -, sem querer, o maior corredor de narcóticos escondido na Costa Leste.

Na Amazon e na Netflix, encontra-se um dos maiores êxitos de Wagner em sua carreira no exterior: "Guerra Civil" ("Civil War"), que custou US$ 50 milhões e faturou US$ 127 milhões. O ator tem um dos papéis principais do thriller político dirigido pelo escritor inglês Alex Garland, que ganhou notoriedade primeiro pela via da literatura, em 1996, ao lançar "A Praia" - filmado em 2020, com Leonardo DiCaprio.

Garland dá ao arlequim da Bahia o papel de um ambicioso jornalista, Joel, que cruza os EUA tentando entrevistar o presidente num amanhã distópico em que a Casa Branca ruiu. É um dos grandes papéis dele, que passou ao posto de cineasta com "Marighella".

Lançado na Berlinale, em 2019, o filme estreou em 2021, depois de passar por mil pressões no governo Bolsonaro, e virou um sucesso de público e crítica em meio à pandemia. É possível vê-lo na Globoplay. Seu Jorge interpreta o guerrilheiro e poeta que combateu a ditadura.

Na Netflix, um dos maiores sucessos do passado de Wagner está disponível: "Deus É Brasileiro" (2003), um blockbuster de Cacá Diegues no qual ele vive o malandro Taoca, que vira guia do Todo-Poderoso (Antonio Fagundes) em sua passagem pela Terra. Na mesma plataforma é possível vê-lo em "Saneamento Básico" (2007), de Jorge Furtado, integrando uma trupe de cinema amadora no Sul do Brasil. Por lá também se vê "Cidade Baixa", que conquistou o troféu Redentor de Melhor Filme na Première Brasil do Festival do Rio em 2005.

Na ocasião, Alice Braga ganhou o troféu de Melhor Atriz, estrelando um triângulo amoroso no submundo da Bahia, onde ela vive uma garota de programa disputada por dois amigos fidelíssimos: um boxeador, Deco (Lázaro Ramos), e o assaltante Naldinho (um Wagner Moura pré-Capitão Nascimento). A produção conquistou ainda o Prêmio da Juventude em Cannes.

Vale catar Wagner na Netflix em "Sergio" (2020) e em "Wasp Network: Rede de Espiões", que disputou o Leão de Ouro, em 2019, além de "A Busca", uma pequena joia que concorreu a láureas em Sundance em 2012.

No streaming da Amazon está "Praia do Futuro" (2014), que concorreu ao Urso de Ouro do Festival de Berlim há onze anos. Sob a direção de Karim Aïnouz, Wagner encarna um salva-vidas do Ceará que larga tudo e parte para Berlim a fim de viver um grande amor.

Pelo Prime Video também se vê "O Caminho das Nuvens", dirigido por Vicente Amorim há 21 anos. É a saga de uma família que sai do Nordeste e vem para o Rio de bicicleta.

Até no cenário da animação Wagner anda prolífico. Emprestou a voz a "Meu Tio José", longa da Bahia, dirigido por Ducca Rios, e dublou a Morte no fenômeno de bilheteria hollywoodiano "Gato de Botas 2: O Último Pedido".

A próxima incursão de Wagner na telona será "The Last Day", de Rachel Rose, com Alicia Vikander. Em breve, ele filma "Angicos", de Felipe Hirsch, abordando a cruzada do educador Paulo Freire.