Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

'Tubarão' de mandíbulas abertas

Roy Scheider enfrenta o monstro marinho no clímar de 'Tubarão' | Foto: Divulgação

Homenageado em 'O Agente Secreto' e citado na peça de Wagner Moura no CCBB, o cult de Spielberg volta ao circuito brasileiro, na comemoração de seus 50 anos, com .doc na Disney

Mais radical acontecimento do teatro brasileiro de 2025, "Um Julgamento - Depois do Inimigo do Povo", no CCBB, abre espaço para uma evocação cinéfila na qual o personagem de Wagner Moura, o Dr. Thomas Stockmann, evoca "Tubarão" (1975), de Steven Spielberg, para explicar ao júri a manipulação das verdades pelo Poder. O astro baiano cita um diálogo do prefeito de uma cidadezinha costeira, o alcaide Larry Vaughn (Murray Hamilton), em sua defesa em prol do silêncio acerca dos ataques de um faminto peixão nas praias locais. "Se você gritar 'Barracuda!', todo mundo diz... 'Hã! O quê?'. Se grita 'Tubarão!'..., vamos ter um pânico nas mãos".

O longa faz parte de títulos revolucionários gerados nos EUA de 1967 a 1981, a geração da Nova Hollywood. Steven está lá. Seu fenômeno marinho regressa às telonas brasileiras. Nos EUA, o site https://thedailyjaws.com/, uma página dedicada a "Tubarão", está em festa com as celebrações do 50° aniversário do longa, que pode ser visto em diferentes salas de exibição do Rio de Janeiro, inclusive com cópias dubladas. Há uma versão brasileira mais recente, feita pela Double Sound, em 2005, para DVDs, e há a versão clássica, da BKS, de 1984, que pode ser encontrada nas transmissões no Telecine e na Prime Video da Amazon, com gênios da voz como Carlos Campanile, Antônio Moreno (1946-2022) e Ézio Ramos (1946-1999) nos papéis principais.

Fora isso, na Disney , encontra-se o documentário delícia "Jaws @ 50: The Definitive Inside Story", de Laurent Bouzereau, que revela tudo (e mais um pouco) sobre o longa que mudou a maneira de se pensar êxito de bilheteria na América.

"No momento em que o tubarão branco do Spielberg abriu sua boca, nós, que fazíamos filmes baseados em ideias provocativas, pautados em orçamento pequeno, pensamos: 'Caímos numa arapuca, pois agora tudo será grande'. E foi...", disse o cineasta Peter Bogdanovich (1929-2022) ao Correio da Manhã, numa derradeira entrevista ao Brasil, num balanço dos anos 1970, época de seus aclamados "A Última Sessão de Cinema" (1971) e "Lua de Papel" (1973).

Com base num romance de Peter Bencheley (1940-2006), roteirizado pelo próprio escritor, em parceria com Carl Gottlieb, "Jaws" (título original) foi lançado em 20 de junho de 1975 nos EUA - e no Natal daquele ano por aqui, no Brasil - e, ao largo de meses em cartaz, contabilizou cerca de meio bilhão de dólares nas bilheterias. Conquistou três Oscars - de Melhor Som, Montagem e Trilha Sonora - e consagrou o conceito de blockbuster (arrasa quarteirão) ao transformar as férias escolares do verão americano (maio, junho e julho) no período ideal para superproduções de ação e aventura.

Macaque in the trees
O elenco de titãs (Robert Shaw, Roy Scheider e Richard Dreyfuss) congraça com o jovem Spielberg no set de filmagens do longa | Foto: Divulgação

Na trama de "Jaws", rodada em Massachusetts, com cenas de praia na Califórnia, Scheider vive o policial Martin Brody, um xerife que não gosta de mar, mas aceita se mudar para o litoral a fim de dar a seus filhos uma vida mais pacata. Mas o ataque de um tubarão branco vai ameaçar a paz do local. Um biólogo marinho (Richard Dreyfuss) tentará auxiliar o policial. Mas é um veterano lobo do mar, o pescador Quint (Shaw), quem vai se oferecer para fisgar a criatura - batizada de Bruce nos bastidores, em referência maldosa ao advogado de Spielberg - numa narrativa regada a litros de adrenalina e aos acordes do compositor John Williams. A maioria dos takes foram feitos com a câmera na mão da equipe de fotografia.

Spielberg prepara neste momento um longa novo, sobre contatos imediatos com Ets, tendo Emily Blunt e Colman Domingo no elenco.