Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
Em campo para os potenciais prêmios da Mostra de São Paulo destinados às suas atrações nacionais com "Dolores" (codirigido por Maria Clara Escobar), Marcelo Gomes aproveitou a maratona cinéfila para festejar os 20 anos de seu maior cult (e ele tem alguns, hein): "Cinema, Aspirinas e Urubus". O sucesso que a produção fez ao voltar à tela grande, numa projeção no Reserva Cultural, vai se estender agora pela TV aberta. Esta noite, às 21h, a TV Brasil transmite a produção que fez sua estreia em Cannes, em 2005, e, naquele ano, ganhou o Prêmio do Júri do Festival do Rio e a láurea de Melhor Ator, dada a João Miguel. É uma vitrine a mais - e de peso - para seu realizador.
Dizer que Gomes é uma presença constante nos maiores festivais do mundo não é exagero — o passaporte comprova e os catálogos confirmam. Além da Croissette, passou por Veneza, Toronto e Roterdão, venceu o Festival do Rio com "Paloma" (2022) e encontrou o seu porto mais fiel na Berlinale. Por lá concorreu ao Urso de Ouro com "Joaquim" (2017), exibiu documentários como "Estou-me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar" e assinou a ficção ensaística "O Homem das Multidões", codirigida com Cao Guimarães.
Em fevereiro, Gomes regressou a complexos exibidores de Berlim com a minissérie da HBO Max "Máscaras de Oxigénio (Não) Cairão Automaticamente", codirigida com Carol Minêm e produzida pela Morena Filmes (de Mariza Leão), que passou também pelo Festival de Munique. Em agosto, o Festival de Gramado foi pista de descolagem para a pré-estreia dessa história sobre o boom da Aids no Brasil. Em setembro, Gomes viajou ao norte de Espanha para lançar "Dolores", em San Sebastián.
Já suas "Aspirinas"... esse filmaço fica para a saudade. Sua trama decorre em 1942, no sertão nordestino, onde dois homens se cruzam: Johann, um alemão que fugiu da guerra (Peter Ketnath), e Ranulpho, um brasileiro que tenta escapar à seca (João Miguel). De povoado em povoado, projetam filmes para pessoas que nunca tinham visto cinema, vendendo um remédio "milagroso". Ao atravessar as estradas poeirentas de um sertão arcaico, buscam horizontes novos e descobrem, na diferença, uma amizade improvável. "A ideia desse filme nasceu de uma história familiar, contada por um tio-avô, e o sertão era o lugar da minha memória afetiva. Nunca imaginei que essa história iria correr o mundo. Nem voltar às telas agora".