Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

O chef virou'The Boss'

Jeremy Allen White encarna The Boss em 'Springsteen: Salve-me do Desconhecido' | Foto: The Walt Disney Company

Tricampeão na festa anual do Globo de Ouro, onde conquistou três estatuetas pela série "O Urso", com a qual ganhou ainda dois Emmys pelo papel do chef Carmy, o nova-iorquino Jeremy Allen White lança agora, aos 34 anos, a candidatura para o Oscar de 2026, pelo desempenho no devastador "Springsteen: Salve-me do Desconhecido". A estreia brasileira está apontada para quinta-feira (30), mas nesta terça, às 17h, a 49ª edição da Mostra de São Paulo projeta o longa no Cinesesc. A sessão cimenta a pedra fundamental para o êxito dessa cinebiografia da ave canora do rock, Bruce Frederick Joseph Springsteen, celebrizado entre seus fãs como The Boss (O Patrão). A gênese de hits como "Born In The US" está lá.

"Estamos narrando uma história de isolamento, falando de uma fase mais interiorizada de Bruce, que sempre demonstrou muita franqueza em sua expressão na música... e em sua vida, por isso, nesse período em que nós o retratamos, buscamos compreendê-lo a partir de suas composições", disse Jeremy ao Correio da Manhã, numa coletiva online, via Zoom, depois de analisar o conflito interno de Springsteen com seu pai, Douglas, vivido por Stephen Graham, ator e autor da minissérie "Adolescência".

Baseado em livro de Warren Zanes, "Springsteen: Deliver Me from Nowhere" (título original da produção de US$ 55 milhões sobre o cantor) acompanha a turbulenta criação do álbum "Nebraska", arquitetado por Bruce num 1982. A direção é de Scott Cooper, de "Coração Louco", que oscarizou Jeff Bridges, em 2010. Na época filmada por Cooper, numa América ainda assombrada pela Guerra do Vietnã, ele era um jovem músico à beira do estrelato global, em luta para conciliar as pressões do sucesso com os fantasmas do seu passado. Há um amor no meio do caminho, há pressões do mercado fonográfico e há o carinho de fãs ao seu redor. Há, ainda, o desejo de expressar inquietações existencialistas. É o que o disco registra. Captado em um gravador de 4 canais no quarto de Springsteen em Nova Jersey, o LP marcou um momento crucial na vida do cantor - e na cena musical dos EUA - e é considerado uma de suas criações mais importantes, e de maior êxito de vendas, numa toada crua e atormentada.

"Ver o Bruce ao vivo foi uma experiência avassaladora, pois ele é um intérprete extraordinário. No início, senti um peso enorme de interpretá-lo", disse Jeremy Allen à imprensa, durante uma coletiva híbrida, com imprensa estrangeira presencialmente alocada e jornalistas dispostos em salas de Zoom. "Quanto mais eu o conhecia e mais aprendia sobre ele, mais o admirava. o que, obviamente, só aumentava a pressão. Tive de absorver tudo o que pudesse no processo: assistir a concertos, ouvir entrevistas, ler, estudar. No entanto, percebi que tinha de me concentrar no que estava ao meu alcance — na nossa história, no argumento do Scott, nesta versão de Bruce durante um período específico. Isso ajudou-me a focar e a encontrar paz. Nós sabíamos que eu não me parecia exatamente com o Bruce, por isso, concentrei-me no que estava sob o meu controle interiormente. Não era um concurso de sósias".

Existe ainda um outro eixo de excelência na narrativa de "Springsteen: Salve-me do Desconhecido", que é o companheirismo, na relação de Bruce e seu manager e produtor, Jon Landau, cuja composição pode rende a Jeremy Strong indicações a estatuetas douradas.

"Recordo-me de algo que o agente do Bruce disse: 'O mundo do espetáculo pode ser uma vida ótima, divertida e excitante, mas tem de ser parte de uma vida maior — não pode substituí-la'. Enquanto a minha vida for plena fora disso, vou me sentir bem", diz Jeremy Allen. "Sinto-me afortunado. Comecei a representar aos 14 ou 15 anos e tudo aconteceu de forma gradual. Hoje tenho 34, e ainda bem. Aos 19 não teria lidado bem com isto. Tenho duas filhas pequenas e, quando chego a casa, sei exatamente quem sou. Não há confusão. Depois de filmar, fui para casa, passei tempo com a minha família e limpei a casa. Tinha o jardim ao abandono. Descansar me fez bem. Acabamos de filmar em janeiro e, em fevereiro, eu já estava trabalhando novamente em 'O Urso'. Foi um período longo, intenso, e no final senti-me feliz por poder simplesmente… não fazer nada durante um mês".

Encarado como um dos maiores galã da atualidade, Allen desponta nas apostas para os troféus da Academia de Hollywood ao lado de Leonardo DiCaprio ("Uma Batalha Após A Outra"), Michael B. Jordan ("Pecadores") e (tudo indica) Wagner Moura, por "O Agente Secreto". Seja ou não indicado, o astro de "O Urso" (que pode ser visto na Disney ) transformou-se radicalmente no contato com a poética de Springsteen.

"Antes do filme, eu tinha um conhecimento básico dele, pois conhecia "Born to Run", "The River", as canções que tocavam no rádio. Ao mergulhar na discografia dele, especialmente em 'Nebraska', percebi a profundidade de suas letras", explica Jeremy Allen. "O público dele é transgeracional — avós, pais, filhos —, e isso deve-se à empatia que transmite. Bruce não julga nas suas músicas: observa, compreende. É um contador de histórias brilhante, escreve com um detalhismo impressionante. Antes, ouvia-o pela melodia; agora, escuto cada palavra".