Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Mostra de SP revela a natureza autoral de 'Corpo e Alma'

O Gingko biloba é testemunha ao torvelinho de 'A Amiga Silenciosa' | Foto: Divulgação

Laureado com o Prêmio da Crítica no Festival de Veneza, onde concorreu ao Leão de Ouro, o drama metafísico "Amiga Silenciosa" ("Silent Friend") será exibido no Cinesesc nesta quarta, às 15h, na grade da 49ª Mostra de São Paulo, matando as saudades do circuito exibidor brasileiro pela diretora húngara Ildikó Enyedi. Para arrematar o reencontro, há mais duas sessões de seu filme: uma no sábado, às 18h50, no Multiplex Playarte Marabá, e uma na próxima terça-feira, às 14h15, no Cultura Artística.

A ausência foi sentida não só pela força estética de sua (curta) obra, mas por ela mobilizar (sempre que volta aos cinemas) uma quantia bojuda de pagantes. Ficou meses a fio em cartaz com o longa que lhe deu notoriedade: "Corpo e Alma", ganhador do Urso de Ouro da Berlinale, em 2017. Há três anos, ela passou por Cannes, em competição pela Palma de Ouro, com um filme magistral, "A História da Minha Esposa". Esse, à luz de Léa Seydoux, também atraiu um público respeitável.

"Existe uma riqueza sentimental enorme em pessoas que são fechadas em si. É isso o que eu tentei explorar, interessada na delicadeza", disse Ildikó ao Correio da Manhã, quando escrevia o roteiro de "A Amiga Silenciosa", que tem Tony Leung em seu elenco.

Ela é um dos expoentes de um movimento chamado Outono Húngaro, que explodiu com a consagração de "O Filho de Saul", de László Nemes, em 2015. "Eu venho de um país que pode ser assustador sob muitas óticas, na política e na economia, mas que desenvolveu um cinema muito potente num intervalo de tempo que, não corresponde ao período fértil da minha geração. Nos últimos 30 anos, em meio aos problemas que eu e meus contemporâneos encaramos, cresceu uma nova turma, com um cinema inovador", diz a cineasta, que rodou curtas, documentais e a versão húngara da série "Em Terapia". "É um orgulho ver que grandes autores cinematográficos estão surgindo da minha nação".

"A Amiga Silenciosa" rendeu o Prêmio Marcello Mastroianni de Melhor Revelação para Luna Wedler no Festival de Veneza. Seu enredo se desenrola no coração de um jardim botânico em uma cidade universitária medieval da Alemanha, onde se vê um majestoso Gingko biloba. Testemunha muda da História, a planta acompanha, por um século, os discretos ritmos de transformação de três vidas humanas. Em 2020, um neurocientista de Hong Kong, dedicado a estudar a mente dos bebês, inicia um experimento inesperado com a antiga árvore. Em 1972, uma estudante é profundamente marcada pelo simples gesto de observar um gerânio e se conectar a ele. Em 1908, a primeira aluna mulher da universidade descobre, pelas lentes de uma câmera fotográfica, padrões sagrados do universo escondido nos vegetais. A partir desse velho gingko, Ildikó nos aproxima do que significa ser humano, em busca por pertencimento.

 

AS BOAS DA PAULICÉIA - QUARTA-FEIRA (22/10)

À Paisana | Foto: Divulgação

À PAISANA ("Plainclothes"), de Carmen Emmi (EUA): Sensação no Festival de Sundance, este thriller se impõe pelo desempenho de Tom Blyth. Ele vive Lucas, um policial que perde uma carta cheio de segredos. Em meio ao sufocante ambiente familiar, a busca por essa mensagem desperta memórias de um passado que ele tenta deixar para trás. Meses antes, Lucas trabalhava disfarçado no banheiro de um shopping e prendia homens depois de seduzi-los. Porém, quando conhece Andrew, tudo muda. O que seria uma armadilha para prendê-lo acaba se transformando em algo muito mais inquietante e profundo. Onde: Cinemateca, 14h.

 

Macaque in the trees
Sorry, Baby | Foto: Divulgação

SORRY, BABY, de Eva Victor (EUA): Referência na comédia, a estrela de “Eva vs. Anxiety” jogou-se na dramaturgia e na direção dessa narrativa confessional, que saiu laureada de Sundance com o prêmio Waldo Salt de Melhor Roteiro. Exibida ainda na Quinzena de Cineastas, a trama sugere que algo ruim aconteceu com Agnes e de ordem sexual. Mas a vida continua — pelo menos para todos ao redor dela. Onde: Espaço Petrobras 2, 15h30.

Macaque in the trees
Memória das Borboletas | Foto: Divulgação

A MEMÓRIA DAS BORBOLETAS (“La Memoria de las Mariposas”), de Tatiana Fuentes Sadowski (Peru): Um merecido Prêmio da Crítica na Berlinale ampliou o futuro desta produção documental peruana. Diretora de “La Huella” (2012), Tatiana teve sua atenção capturada por uma foto antiga de dois homens indígenas levados a Londres para serem “civilizados” por volta da virada do século XX. Seus nomes eram conhecidos - Omarino e Aredomi – mas pouco ou quase nada se sabia sobre eles. Por isso, Tatiana sentiu-se compelida a se aprofundar no passado da dupla – e de sua pátria. O que faz neste poroso filme é desconstruir a história oficial do comércio extrativista borracheiro no final do século XIX e início do século XX. Onde: Espaço Petrobras 3, 21h45.