Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Passaporte para a terra da garoa

O pescador | Foto: Zoey Martinson/Divulgação

Uma lista de títulos imperdíveis para o fim de semana na maratona cinéfila paulistana

Prestes a chegar a cinco décadas de excelência, a Mostra de São Paulo assegurou ao Brasil visitas ilustres ao longo das últimas 48 edições. Francis Ford Coppola passou pelo evento no ano passado e saiu laureado com o Troféu Leon Cakoff, depois de exibir "Megalópolis". Do início dos anos 2000 para cá, astros de peso - como Claudia Cardinale e Benicio Del Toro - e um coro de vozes autorais do naipe de Abbas Kiarostami, Maria de Medeiros, Amos Gitai, Manoel de Oliveira, Mohsen Makhmalbaf e Hirokazu Kore-eda, entre outros, passaram pelo festival que, desde a década de 1970, faz da diversidade estética sua bandeira. Confira a seguir o que sua 49ª edição oferece de essencial neste seu primeiro fim de semana.

Macaque in the trees
Sonhadoras | Foto: Dreamers Production

SONHADORAS ("Dreamers"), de Joy Gahororo-Akpojotor (Reino Unido): Um dos achados da Berlinale deste ano. Depois de dois anos vivendo de forma irregular no Reino Unido, a nigeriana Isio é detida e levada ao Centro de Deportação Hatchworth, onde aguarda que seu pedido de asilo seja avaliado. Convencida de que a única saída é seguir as regras, ela resiste mesmo quando sua nova colega de quarto, a carismática Farah, a alerta do contrário. Aos poucos, Isio se adapta à rotina do centro e acaba se apaixonando por Farah. Mas sua fé começa a vacilar diante das repetidas negativas ao pedido de asilo. Quando os sentimentos entre as duas se intensificam, surge a possibilidade de fuga como uma chance para que o amor sobreviva. Onde e quando: Instituto Moreira Salles Av. Paulista, sexta, 13h.

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O Riso e a Faca | Foto: Divulgação

O RISO E A FACA, de Pedro Pinho (Portugal): Paisagens da Guiné-Bissau fotografadas pelo cearense Ivo Lopes Araújo se agigantaram poeticamente nesta espécie de "O Céu Que Nos Protege" luso-brasileiro do diretor de "A Fábrica de Nada" (2017). Tem ecos d'África(s), do Brasil e da "terrinha" numa jornada que fala de origens e de futuros possíveis para povos que, unidos por uma língua, precisam superar os ranços do pacto colonial. A trama segue o périplo de um engenheiro europeu (vivido por Sergio Coragem) que caça lastros identitários de uma cultura branca ocidental manchada de sangue. A atriz cabo-verdiana Cleo Diára foi premiada em Cannes por sua atuação. Onde e quando: Reserva Cultural 2, sexta, 19h30.

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Kontinental'25 | Foto: Divulgação

KONTINENTAL'25, de Radu Jude (Romênia): Produzido pela RT Features, de Rodrigo Teixeira, este exercício de razão cínica do diretor de "Má Sorte No Sexo ou Pornô Acidental" (2021) foi laureado com o prêmio de Melhor Roteiro na Berlinale. Em seu enredo, Orsolya (Eszter Tompa) é oficial de justiça em Cluj, na região da Transilvânia. Um dia, ela precisa despejar um homem sem-teto que mora no porão de um prédio. Um acontecimento inesperado cria uma crise moral que ela tenta resolver da melhor maneira possível. Onde e quando: CineSala, sexta, 21h.

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Papaya | Foto: Divulgação

PAPAYA, de Priscilla Kellen (Brasil): Animação nacional em puro estado de fricção. Apaixonada pela ideia de voar, uma pequena semente de mamão precisa continuar se movendo para evitar enraizar-se. Perseverante, ela descobre o poder de suas raízes, que conectam a vida por caminhos profundos e misteriosos, e desencadeia uma grande revolução, transformando seu ambiente e realizando seu sonho da forma mais inusitada. Onde e quando: CineSala, sábado, 11h.

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Maya Me Dê um Título | Foto: Partizan Films

MAYA, ME DÊ UM TÍTULO ("Maya, Donne-Moi Un Titre"), de Michel Gondry (França): Cerca de 21 anos depois de rodar "Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças" (2004), o mestre do videoclipe resolve apostar na animação, fazendo um experimento nas raias da colagem, estruturado como uma carta de amor à sua filha. Faz dela personagem, numa reflexão sobre como as crianças reinventam a realidade a partir de referências banais do cotidiano, como batatas fritas. Ganhou o Urso de Cristal da mostra Generation da Berlinale. Onde e quando: Espaço Petrobras, sábado, 13h30.

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Garça Azul | Foto: Divulgação

GARÇA-AZUL ("Blue Heron"), de Sophy Romvary (Canadá/ Hungria): Um painel de angústias geracionais, este drama sobre amadurecimento e aceitação familiar rasga corações ao falar de desamparo. Tudo se passa no fim da década de 1990, quando Sasha, de oito anos, e sua família de imigrantes húngaros, mudam-se para uma nova casa, em Vancouver. Seu recomeço é interrompido pelo comportamento cada vez mais perigoso de Jeremy, o filho mais velho, que esbanja desconforto diante do Novo Mundo. Onde e quando: Sala Grande Otelo da Cinemateca Brasileira, sábado, 15h45.

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Folha Seca | Foto: Divulgação

FOLHA SECA ("Dry Leaf"), de Alexandre Koberidze (Geórgia): Ganhador do Prêmio da Crítica do Festival de Locarno, onde recebeu ainda uma menção honrosa do júri oficial, essa aventura metafísica parte do sumiço de uma fotógrafa. A última informação que se tem da moça é que ela estava fotografando estádios de futebol rurais em aldeias georgianas. Seu pai, Irakli, parte em busca da garota, viajando de um lugar para outro. O melhor amigo da jovem, que é considerado uma pessoa invisível (literalmente), também parte para ajudar, neste estudo sobre a atomização de subjetividades. Onde e quando: Espaço Petrobras 2, sábado, 16h25.

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Nova'78 | Foto: Divulgação

NOVA '78, de Rodrigo Areias e Aaron Brookner (Portugal/ Reino Unido): Este .doc de narrativa nevrálgica resgata imagens (a maioria inéditas) da lendária Nova Convention, um evento de três dias, realizado na cidade de Nova York de 30 de novembro a 2 de dezembro de 1978, numa homenagem ao escritor beatnik William S. Burroughs (1914-1997). A "convenção" incluiu seminários, apresentações musicais, leituras, performances e ... confusão. Onde e quando: Reserva Cultural, sábado, 17h50.

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Papagaios | Foto: Divulgação

PAPAGAIOS (Brasil): Uma sequência de justaposição de rostos ao som de "Naquela Mesa", na voz de Nelson Gonçalves (1919-1998), gravou este thriller queer com ecos de "O Rei da Comédia" no imaginário do Festival de Gramado, de onde saiu com quatro Kikitos, incluindo o de Júri Popular. É a saga de um "papagaio de pirata", aqueles aficionados por câmeras de TV e fotos de jornal, que fazem tudo para aparecer num flash. Um deles, Tunico (Gero Camilo), envolve-se numa encrenca ao arrumar um pupilo em meio a um tributo ao cantor Leo Jaime em Curicica. Onde e quando: Sala Grande Otelo da Cinemateca Brasileira, Sábado, às 19h30.

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Bugonia | Foto: Divulgação

BUGONIA, de Yorgos Lanthimos (EUA): Emma Stone volta a se unir ao realizador grego que lhe assegurou o Oscar com "Pobres Criaturas" (Leão de Ouro de 2023), agora no papel da CEO de uma megacorporação que é sequestrada por dois perdedores profissionais obcecados com a invasão de alienígenas. Para os raptores, a empresária é um ET. Indicado ao Leão de Ouro, o longa vale pela taquicárdica atuação de Jesse Plemons, como um dos sequestradores. Onde e quando: Multiplex Playarte Marabá, domingo, 14h25.

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Eclipse | Foto: Divulgação

ECLIPSE, de Djin Sganzerla (Brasil): Cinco anos depois de sua estreia na direção com "Mulher Oceano" (2020), a premiada atriz de "Falsa Loura" (2008) narra a saga de Cleo, astrônoma de 43 anos grávida (vivida pela própria Djin) que é surpreendida pela visita de sua meia-irmã Nalu, de origem indígena (papel de Lian Gaia). Ela revela um segredo perturbador, despertando memórias fragmentadas. Apesar das diferenças, as irmãs se aliam para investigar Tony (marido de Cleo, vivido por Sérgio Guizé), que esconde um passatempo sombrio, enquanto mergulham nas entranhas da Deep Web. Onde e quando: Cinesesc, domingo, 17h20

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O pescador | Foto: Zoey Martinson/Divulgação

O PESCADOR ("The Fisherman"), de Zoey Martinson (Gana): Eis uma aula de realismo mágico que rendeu à sua diretora uma láurea da Unesco no Festival de Veneza. Seu protagonista, um pescador ganês, estava afastado do ofício, mas embarca numa jornada inusitada, ao lado de um peixe falante (e sarcástico!), em busca do sonho de ter um barco. Na jornada, ele aprende a se adaptar ao mundo moderno. Onde e quando: Cine Satyros Bijou, domingo, 21h15.