Um roteiro para as atrações imperdíveis da reta final da maratona audiovisual da cidade
Ter Juliette Binoche no Odeon é tirar muita onda, né? E a gente teve, numa projeção do longa "In-I In Motion", graças aos esforços de Ilda Santiago e Walkíria Barbosa, as diretoras do Festival do Rio. Binoche passou por cá na primeira metade de uma maratona que renovou sua relevância histórica, aos 27 anos de existência, mobilizando o olhar do planisfério cinéfilo para a Cinelândia, para Botafogo, para a Gávea, para o Armazém da Utopia no Cais do Porto (sua sede) e até para a Penha, integrada em seu circuito de telas, que se estende até o Reserva Cultural em Niterói. Não é qualquer evento que congrega 298 filmes de 74 nações e ainda traz vozes autorais estrangeiras de peso como Nadav Lapid, Teresa Villaverde e Diego Céspedes. O nosso festival fez isso tudo. No domingo, encerram-se suas atividades (#sqn, pois de segunda até quarta tem repescagem). O Correio propõe aqui um mapa da mina do que deve ser priorizado nesses momentos finais da nossa micareta estética.
RUA DO PESCADOR N°6, de Bárbara Paz (Brasil): A atriz e diretora gaúcha, apoiada numa montagem frenética de Renato Vallone, revive o desastre climático em Porto Alegre, em 2024, construindo um filme-catástrofe de dar inveja a qualquer "Twister" de Hollywood. Ela vai atrás de pessoas que sobreviveram e se reinventaram. Onde e quando: Cine Santa, sexta, 13h45.
A SAPATONA GALÁTICA ("Lesbian Space Princess"), de Emma Hough Hobbs e Leela Varghes (Austrália): A animação australiana ganhou um reforço e tanto ao conquistar o troféu Teddy da Berlinale 2025 com esta comédia interplanetária. A introvertida princesa Saira, filha das extravagantes rainhas lésbicas do planeta Clitópolis, fica arrasada quando sua namorada, a caçadora de recompensas Kiki, termina repentinamente com ela por ser muito carente. Quando Kiki é sequestrada pelo povo mau, Saira precisa deixar o conforto da "gayláxia" para entregar o resgate solicitado. Onde e quando: Kinoplex São Luiz 2, sexta, 14h
SE EU TIVESSE PERNAS, EU TE CHUTARIA ("If I Had Legs I Would Kick You"), de Mary Bronstein (EUA): Rose Byrne ganhou merecidamente Urso de Prata de Melhor Interpretação na Berlinale por seu desempenho no papel de uma terapeuta em conflito com a maternidade. Conan O'Brien e Christian Slater têm participações impagáveis nesta dramédia sobre desconfortos. Onde e quando: Cinesystem Belas Artes 6, sexta, 16h20
RÉQUIEM PARA MOÏSE, de Susanna Lira e Caio Barreto Briso (Brasil): O Festival de Gramado concedeu o Kikito de melhor roteiro de curta-metragem de 2025 a essa produção de 19 minutos e 16 segundos analisa o racismo por trás do assassinato do imigrante congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, morto com golpes de taco de beisebol num quiosque na Barra da Tijuca, em 2022. Sua narrativa estuda a microfísica da exclusão. Onde e quando: Cine Santa, 18h15
SOBRE TORNAR-SE UMA GALINHA D'ANGOLA ("On Becoming A Guinea Fowl"), de Rungano Nyoni (Zâmbia): Mais badalado dos representantes da África no Festival de Cannes de 2024, essa fábula sombria da Zâmbia nos leva aos bastidores de um enterro, no qual a despedida de um tio provoca uma surreal transformação numa família. Onde e quando: Estação NET Rio 3, sexta, 20h45
SURDA ("Sorda"), de Eva Libertad (Espanha): A pátria de Almodóvar voltou para casa este ano com a láurea da Associação de Cinemas de Arte da Europa, dada a ela na Berlinale, graças à batalha de Ángela, uma mulher com problemas auditivos, e Héctor, seu parceiro. Eles estão esperando um filho. Apesar de muito animados com a gravidez, não sabem se o bebê vai herdar a surdez da mãe. Onde e quando: Reserva Cultural 2, sábado, 14h
UMA QUINTA PORTUGUESA ("Una Quinta Portuguesa"), de Avelina Prat (Espanha): Atuações comoventes do ator andaluz Manolo Solo e de Maria de Medeiros asseguram lirismo a esta narrativa ibérica. A fotografia dionisíaca de Santiago Racaj aquece o clima deste enredo sobre recomeços. Nele, Fernando, um pacato professor de geografia, encontra-se num abismo sentimental após o desaparecimento de sua mulher. Sem rumo na vida, assume nova identidade, com um novo nome (Manuel), e passa a trabalhar como jardineiro em uma vila em Portugal. Onde e quando: Estação NET Gávea, sábado, 16h30
QUARTO DO PÂNICO, de Gabriela Amaral Almeida (Brasil): A diretora se arrisca numa releitura do sucesso homônimo de David Fincher, com Jodie Foster. Na trama, uma mulher que acaba de terminar um casamento (papel de Isis Valverde) e sua filha pré-adolescente (Marianna Santos) se vêem às voltas com supostos ladrões. Onde e quando: Estação NET Rio 3, sábado, 20h30
DOIS PIANOS ("Deux Pianos"), de Arnaud Desplechin (França): De uma destreza notável no trançado de diferentes vértices de uma geometria de solidões e desconexões, o novo melodrama do realizador de "Reis e Rainha" (2004), foi escrito a quatro mãos com Kamen Velkovsky e deleita a sua câmara com a luz da cidade de Lyon. No local, um pianista da mais alta virtude ao teclado chamado Mathias (François Civil) regressa à região para reencontrar a sua antiga tutora, a regente Elena (Charlotte Rampling), que se debate contra uma doença incurável. Onde e quando: Kinoplex São Luiz 4, no sábado, às 21h15.
FAMÍLIA DE ALUGUEL ("Rental Family"), de Hikari (Japão): É "O" filme deste festival. Brendan Fraser está no apogeu de sua maturidade, num equilíbrio fino entre riso e pranto, no papel de um ator falido que vive no Japão. Numa Tóquio repleta de desconexões, ele vira operário numa agência que forja "parentescos" e afetos. Onde e quando: Estação NET Gávea 3, domingo, 17h15
AS MENINAS ("Le Bambine"), das irmãs Valentina e Nicole Bertani (Itália): Um dos roteiros mais festejados no Festival de Locarno. É uma volta a um tempo de crise para a população italiana: 1997. Naquele momento, Linda, de oito anos, foge de uma vila na Suíça pertencente à sua avó rica, onde vive com sua mãe. Na fuga, conhece Azzurra e Marta. Um vínculo de verão une as três meninas em uma gangue formada para proteger umas às outras, sua juventude e sua liberdade. Onde e quando: Estação NET Gávea, domingo, 19h30
ROMARIA ("Romería"), de Carla Simón (Espanha): O novo filme da diretora de "Alcarràs" (2022) narra a cruzada de Marina (Llucia Garcia), uma jovem de 18 anos, órfã desde pequena, que viaja até a costa atlântica da Espanha onde enfrenta um mar de novos tios, tias e primos, sem saber se será acolhida ou recebida com resistência. Onde e quando: Kinoplex São Luiz 2, domingo, 21h30