Depois da consagração no exterior, o novo longa de KMF é exibido no Festival do Rio em sessão esgotada que reuniu integrantes do elenco
Após rodar os principais festivais do mundo, conquistando prêmios por onde passou, "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, desembarcou no Brasil para uma campanha de lançamento fora dos padrões. Em vez de focar no eixo Sul-Sudeste, o longa iniciou sua trajetória em terras brasileiras pelo Nordeste e Centro-Oeste, promovendo uma reparação histórica, já que essas regiões costumam ser as últimas nas turnês de lançamentos, apesar de serem polos cinematográficos poderosíssimos. E como o filme é dirigido por um recifense, estrelado por um soteropolitano e fala sobre Recife na década de 1970, nada mais justo do que lançar o longa em casa.
Após promover um carnaval fora de época em Cannes Paris e rodar o Nordeste numa turnê de ingressos esgotados, o novo sucesso brasileiro desembarcou no Festival do Rio com três sessões disputadíssimas e lotação total. As primeiras foram nesta terça e quarta-feira (7 e 8), com cabine de imprensa e a pré-estreia com presença do elenco no Odeon e sessão em Botafogo. Todas com ingressos esgotados.
E nem mesmo a chuva que tomou a Cinelândia na terça foi capaz de afastar os fãs, que fizeram fila na frente do Odeon na esperança de conseguirem ingressos de última hora.
A grande estrela do noite foi Wagner Moura, que chegou na surdina e protagonizou momentos curiosos, como quando interrompeu as entrevistas para falar com Caetano Veloso, que apareceu de surpresa. Ao Correio da Manhã, Moura disse que o filme tem um fator de identificação que sobrepõe nacionalidades. "Para além da cultura pernambucana, nordestina, brasileira do filme, que é muito forte, as pessoas se identificam com os personagens, com a humanidade deles. E isso não muda de país para país. Todo mundo, em qualquer lugar do mundo, sabe como é se sentir injustiçado, sabe o que é lutar por seus valores, sabe o que é viver sob opressão. As pessoas têm se identificado muito, e esse valor cultural nosso traz uma força estética muito grande", disse.
E falou da importância de levar "O Agente Secreto" para o mundo. "O cinema brasileiro, a cultura brasileira, tem importância para o Brasil. Hoje, a gente tem um governo que entende isso, o que é muito bom. Quando a gente está viajando o mundo, a gente está mostrando o Brasil, um olhar sobre o Brasil. Mais do que isso, é importante quando nós, brasileiros, nos vemos na nossa produção cultural".
O ator também contou o que o convenceu a estrelar esse longa.
"Ele [Kleber Mendonça Filho] trabalha muito com memória nos filmes dele. Nesse filme aqui sobretudo. Mas o que me cativou mesmo foi trabalhar com ele. Na totalidade do artista, da pessoa que ele é", concluiu Wagner Moura.
Por conta da rotina insana de divulgação do filme, Kleber Mendonça Filho não pôde comparecer ao tapete vermelho. Segundo Emilie Lesclaux, produtora e esposa de KMF, ele estava na Alemanha para promover "O Agente Secreto". Ela também comentou sobre o impacto do resgate da memória no longa. "A memória é um tema muito presente nos filmes do Kleber. Vindo de 'Retratos Fantasmas', são dois filmes que resgatam memórias e fazem viagens no tempo pela história do Brasil. E com Kleber sendo filho de historiadores, é algo muito importante para ele", disse.
Quem também falou sobre o impacto do filme foi a atriz Alice Carvalho, que interpreta Fátima, uma das protagonistas do filme. "O mais importante disso tudo é a forma como o povo brasileiro tem olhado para o nosso cinema. É muito interessante e me faz ter esperança em continuar sendo atriz, porque depois desse filme, eu e meus amigos temos que continuar trabalhando, e a gente depende bastante dessa repercussão, dessa mudança de autoestima do povo brasileiro em relação a seu próprio cinema. E acho que a gente tem uma chance muito grande de fazer um barulho bacana internacionalmente", explicou Alice.
E Gabriel Leone, que interpretou recentemente o ídolo brasileiro Ayrton Senna, na série da Netflix, e foi dirigido por Michael Mann, em "Ferrari", explicou como foi trabalhar no grande filme brasileiro do ano. "Estou muito feliz. É uma construção de carreira de muitos anos, e estar envolvido em projetos incríveis, com personagens incríveis, é aquilo pelo que batalhei muito. No caso do Kleber [Kleber Mendonça Filho], é um dos diretores que mais admiro e sonhava em trabalhar com ele. O processo de filmagem foi delicioso, e tenho um orgulho danado desse filmaço. Não à toa ele está tendo essa repercussão mundo à fora", disse. "É um filme que fala sobre um dos períodos mais abomináveis da nossa história, que foi a ditadura; é um filme que fala sobre memória. E é sempre importante que as pessoas vejam nas primeiras semanas para que possa ter ainda mais sessões e possa trilhar uma bela jornada", disse.
"O Agente Secreto" chega ao circuito comercial brasileiro em 6 de novembro.