Nadav Lapid chega hoje ao Brasil e traz na mala 'Yes', um ímã de polêmicas ao narrar as crises do Oriente Médio
Se o Festival do Rio desse um troféu Redentor de filme mais polêmico do ano, o vencedor, nesta 27ª edição do evento, seria “Yes”, dada a pressão internacional contra os atos do governo de Israel na guerra contra o povo da Palestina. Nascido em Tel Aviv, há 50 anos, Nadav Lapid, diretor da dramédia política que o Odeon exibe nesta quinta-feira, 19h30, tem estraçalhado seu país nas telas a cada novo cult que emplaca nas telas desde “Sinônimos”, que lhe rendeu o Urso de Ouro na Berlinale de 2019. Ele vai estar na projeção que há de mobilizar protestos diante da sala mais tradicional da cidade, embora a simpatia dele por seus governantes seja das mais rarefeitas.
“Minha relação com a minha pátria é similar a daqueles cães que mordem a mão que os alimenta. Ei tenho minhas críticas, mas tenho minha conexão de berço. Esforço-me apenas para nunca olhar para o meu país com estrangeirismo, de fora para dentro. Existe um grau de pertencimento que as minhas perdonagens, sempre com Y, tentam flagrar”, disse Lapid ao Correio da Manhã logo que “Yes” começou a ser rodado, enquanto rodava o mundo com “O Joelho de Ahed”, que lhe assegurou o Prêmio do Júri em Cannes, em 2021, ano em que teve Kleber Mendonça Filho entre os jurados do festival.
“Yes” nasceu também na Croisette, na Quinezena de Cineastas. Sua trama segue os passos de Y. e
Yasmin, respectivamente um pianista e uma dançarina, que sobrevivem como animadores de festas para a elite. Eles aceitam trabalhos degradantes, dizendo sempre "sim" para sobreviver financeiramente, mesmo quando discordam da visão política dos contratantes. O enredo se complica quando Y. é encarregado de compor a melodia do novo hino nacional, cujas letras prevêem a devastação de Gaza. A poesia por trás da melodia inflama ânimos por onde o longa é exibido.
“Sinto que o cinema é a expressão mais próxima à potência da vida, da existência, que existe na arte. E as palavras são parte da experiência de existir. São uma parte sensorial, o que dá a elas uma dimensão física. Há críticos e cineastas que consideram a palavra um elemento da televisão, mas eu encaro as palavras pela essência delas, não apenas pela matéria: o som, as letras. Palavras são signos. As minhas palavras são reminiscências de Israel, elas me conectam à terra de onde venho”, disse Lapid ao Correio, em entrevista por celular, quando “Yes” ainda estava em fase de escrita.
Há mais duas projeções de “Yes” agendadas para o Festival do Rio: sábado, às 19h30, no Cinesystem Belas Artes 6, e domingo, às 18h15, no Reserva Cultural Niterói.