Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Franco, como o sobrenome sugere

'Sonhos' Concorreu ao Urso de Ouro da Berlinale, em fevereiro | Foto: Divulgação

Diretor mexicano que mais expõe a falência moral de sua pátria desarma ardis paternalistas da America Latina nas telas com 'Sonhos', que disputou o Urso de Ouro

Michel Franco não almeja ser chamado para dirigir filmes de super-heróis ou fantasias no molde Harry Potter, ao contrário de seus compatriotas Guillermo Del Toro e Alfonso Cuarón. O México que enquadra não tem espaço para vigilantes nem para magia. Quem for à projeção de "Sonhos", no Kinoplex São Luiz 2, nesta quinta, às 19h, vai sentir a crueza... e a crueldade... de que ele fala. Concorreu ao Urso de Ouro da Berlinale, em fevereiro, a produção parte do mundo da dança para estruturar uma geopolítica de desilusão.

"Yves Cape, um fotógrafo belga que virou o meu colaborador mais próximo nos últimos anos, numa trajetória de seis longas, já sabe que opero a partir de processo de comunicação com minha equipe no qual só o olhar basta para dar as indicações da cena", respondeu Franco ao Correio da Manhã, em Berlim, ao falar sobre a dinâmica criativa de uma trama com foco nas sequelas da imigração entre a sua nação e os Estados Unidos.

Trump havia acabado de ser reeleito quando Franco levou "Sonhos" às telas alemãs, pautado por uma lógica avessa a esperanças a partir da qual cunhou os devastadores "Nuevo Orden" (Grande Prêmio do Júri em Veneza, em 2020) e "Chronic", ganhador do prêmio de Melhor Roteiro em Cannes, em 2015.

"Se acredito no sonho americano? Hoje, não mais, e tenho autonomia para sobrrviver de forma autônoma, apoiado na confiança que estrelas como Jessica Chastain, uma das maiores atrizes do mundo, depositam em mim".

Da mesma forma como fez uma parceria sólida com Tim Roth, Franco tem estabelecido Chastain como a sua atriz assinatura. Fizeram "Memory", em 2023, e unem-se agora no que o cineasta chama de "uma história de amor".

Jennifer, a milionária vivida por Jessica em "Sonhos", é a administradora de uma fundação de filantropia que investe em dança, em São Francisco, num apoio a quem migrou. Passa a viver uma tórrida paixão com um bailarino do México: o jovem Fernando (Isaac Hernández). Vetores da política americana acerca de estrangeiros vão influir na relação de ambos, e liberar demónios no rapaz. "Depois de ver Isaac em cena, a bailar, percebi que ele e responsável por reaproximar o México da arte da dança", diz Franco, produtor de "Olmo: Entre o Dever a Festa", que passa no Festival do Rio na sexta, às 19h45, no CineCarioca José Wilker.