Ganhadora de Oscar, a atriz que é um dos pilares do cinema francês exibe no Festival do Rio seu primeiro trabalho como realizadora
Num sorriso dos mais cálidos, Juliette Binoche sintetiza seu acolhimento à gratidão da cinefilia brasileira pelos prêmios que atribuiu a "O Agente Secreto" quando presidiu o júri de Cannes em maio. A visita que faz ao Brasil, na programação do Festival do Rio, mobiliza reações de agradecimento ao que fez pelo nosso potencial candidato ao Oscar e ao tanto que doou de si em quatro décadas de cinema. O carinho que tem pelo audiovisual brasileiro veio à tona em seu papo com o Correio da Manhã no hotel Fairmont, em Copacabana.
"Walter Salles é um diretor de quem gosto muito, pois eu nunca esqueço do plano de abertura 'Central do Brasil'.' Ele gosta de gente e sua arte reflete isso", diz a estrela parisiense de 61 anos, Oscarizada por Hollywood em 1997, com a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante por "O Paciente Inglês", que lhe abriu as portas da produção americana. "Eu amo todas as formas de arte, pois a partir dela eu posso conhecer melhor a condição humana."
A vinda de Binoche ao Festival do Rio envolve a trajetória de lançamento de seu primeiro trabalho como realizadora: "In-I In Motion". A primeira sessão dele foi em San Sebastián, no norte da Espanha, fora da disputa pela Concha de Ouro. Se estivesse no páreo dos troféus bascos, teria a chance de vencer pela vertiginosa montagem, que se constrói a partir de um espetáculo de dança com ela e o bailarino Akram Kahn.
"Preciso confessar que após San Sebastián, eu cortei 30 minutos do que havia apresentado lá, por sentir que o filme estava longo. O que vocês verão aqui é uma versão nova de uma narrativa que se guia pela sensação", diz Binoche em uma reflexão sobre a dimensão cinemática de sua coreografia. "Eu sigo trabalhando no material em busca de sua verdade"
Com sessão nesta quinta, às 18h30, no Cinesystem Belas Artes, "In-I in Motion" documenta o processo criativo e a parceria de Binoche e Khan a partir de um espetáculo que criaram juntos em 2007. O filme usa imagens inéditas para mostrar a jornada íntima da dupla, desde a inspiração inicial até a performance, explorando a essência da criação artística, a vulnerabilidade envolvida e seu impacto transformador.
"Quando fizemos uma apresentação em Nova York, Robert Redford foi nos assistir e disse: 'Faça um filme.' Tínhamos vídeos dos ensaios e partimos deles, trabalhando ainda com filmagens dos sets últimos shows", explica Binoche. "Nosso desafio era dar uma forma para o que tínhamos. Se a ideia é fazer cinema, um artista precisa ser ele mesmo, ter sua voz".
O 27º Festival do Rio segue até domingo.