Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
Passados 25 minutos da primeira projeção mundial do drama familiar "Valor Sentimental" ("Affeksjonsverdi"), no último Festival de Cannes, a imprensa presente na sessão do longa norueguês entreolhou-se e compartilhou... baixinho... na cumplicidade, um comentário: "Vem Oscar daí". Concorrente à Palma de Ouro, o novo exercício autoral de Joachim Trier, realizador de "A Pior Pessoa Do Mundo" (2021), saiu da Croisette com o Grande Prêmio do Júri e seguiu sendo aclamado em telas de Roterdã e de San Sebastián.
É a vez de dar o ar de seu esplendor sob as bênçãos do Redentor, no 27º Festival do Rio, onde estreia nesta segunda (6), às 19h30, no Odeon. Haverá uma segunda projeção na sexta, às 21h30, na sala 6 do Cinesystem Belas Artes.
Joachim retoma a parceria com a (monumental) atriz Renate Reinsve nesse devastador relato sobre acerto de contas entre filha, pai, teatro e cinema. Seu cacife só faz subir nas apostas para as estatuetas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
"Meu pai fazia som no cinema e eu construí essa história buscando meios de domar os hiatos que o silêncio produz, sem o interesse de preenche-los, mas, sim, de contorna-los", respondeu Joachim ao Correio da Manhã em Cannes.
Em fevereiro, a Noruega, país que ele representa, conquistou o Urso de Ouro da Berlinale com "Dreams (Sex Love)", já lançado no Rio, e também atento a faíscas em família. Dilemas maternos e (sobretudo) paternos explodem em "Valor Sentimental". Seu roteiro aborda o ônus nas conexões de sangue a partir da simbiose entre as irmãs Nora e Agnes, vividas por Reinsve e Inga Ibsdotter Lilleaas. Elas reencontram seu pai distante, o carismático cineasta Gustav Borg (encarnado num Stellan Skarsgård em estado de graça), com quem perderam, faz tempo, o convívio. Depois que a mãe delas suicidou-se, ele foi se afastando gradualmente, para se dedicar a uma carreira, consagrada, como documentarista. No momento em que Nora vive o apogeu de sua trajetória como atriz nos palcos escandinavos, ele volta e oferece a ela um papel central num projeto que marca seu retorno à ficção. Quando Nora recusa, ela logo descobre que ele deu seu papel a uma jovem estrela de Hollywood, Rachel (Elle Fanning), que almeja ser mais do que uma jovem diva hollywoodiana. Com a chegada da moça, as duas irmãs precisam lidar com as mágoas de outrora e exorcizar fantasmas. "Escolho filmes que discutam a dramaturgia da falta do diálogo, hoje tão presente na sociedade", disse Renate ao Correio.
Tem mais uma sessão do longa no domingo, às 16h45, no Estação NET Gávea 5.