Já tem data para a próxima edição do festival europeu considerado uma espécie de Cannes do documentário, o Visions du Réel, criado em 1969 e realizado em Nyon, na Suíça: de 17 a 26 de abril de 2026, experimentos de não ficção do mundo todo passarão por lá. Falta muito para sua programação começar, mas o Rio de Janeiro terá chance de provar do gostinho plural de sua seleção recente via Estação NET Rio num intercâmbio entre o evento helvético e a grade de 2025 do 14º Filmambiente.
Essa mostra, uma das mais tradicionais do Brasil quando o assunto é a representação da ecologia nas telas, segue até o dia 5 em solo carioca. Sua curadoria estabeleceu uma parceria com a maratona documental dos suíços e ofereceu a ela uma Carte Blanche a fim de receber uma fornada de longas que pensem a saúde física do planeta.
"Abordamos a questão ambiental, entre muitos temas, a partir de tópicos urgentes do mundo, como as mudanças climáticas e a preservação da Amazônia, sempre sob a chave temática da sobrevivência", explica Mourad-Anis Moussa, membro do comitê de seleção e codiretor de programação do Visions du Réel, ao avaliar sua interseção com o Filmambiente, criado em 2011 pela produtora Suzana Amado.
Moussa passa pelo Rio neste fim de semana para ministrar uma masterclass sobre curadoria para 35 diretores, produtores e curadores convidados
"Nosso festival aposta em abordagens pessoais e autorais para questões de urgência trazendo múltiplas perspectivas para discussões filosóficas da contemporaneidade", diz o programador ao Correio da Manhã.
Com apoio da Embaixada da Suíça, o Visions du Réel incluiu seis filmes na Carte Blanche do Rio, começando por "A Montanha de Ouro", da Bélgica, exibido na quinta. Nesta sexta tem "Forrageadores" (Palestina), às 16h30. No sábado tem "A Cidade Que se Mudou" (Polônia), às 20h30. Na segunda, será exibido o argentino "A Vida em Comum", às 16h30. Terça é dia de ir à Índia nas imagens de "Contra a Maré", às 16h30. Quem fecha o pacote, no dia 3, é "Far West" (Portugal), às 16h30). Moussa conversa com o público após as sessões de cada atração.
"São filmes que mostram como a Terra reage aos riscos de desaparição", disse Moussa, que cita um marco dos anos 2000 entre os longas que o formaram. "Eu cresci vendo .docs na TV, mas ao assistir a 'O Homem Urso', de Werner Herzog', minha visão sobre o cinema de não ficção foi a um outro patamar. Hoje, vejo muitos documentários nos streamings. Talvez as plataformas estejam impondo uma formatação para as narrativas do real, mas ampliaram a visibilidade para o que documentaristas fazem".
Ele cita com orgulho a participação de uma produção (luso-)brasileira no último Visions du Réel: "Aurora", de João Vieira Torres. Na sequência de um sonho, seu diretor parte em busca das crianças que sua avó Aurora, parteira, ajudou a nascer. Por meio de encontros com vivos e mortos, ele descobre destinos trágicos que refletem uma história estrutural de violência contra as mulheres.
"Embora existam nesse filme muitas questões que o cinema brasileiro costuma abordar, como a agressão contra a mulher, ele segue uma forma muito original", disse Moussa.
O filme de encerramento da mostra competitiva do Filmambiente, a ser exibido no dia 3, às 20h30, é "Paraíso", da carioca Ana Rieper (de "Vou Rifar Meu Coração"), que participa do debate após a exibição. O longa, que parte de uma narrativa musical, pautada no uso de arquivos, propõe uma viagem inquieta por relações forjadas pela posse de terras. É uma sinfonia popular sobre violência, resistência, força e afeto.