Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

Centro-Oeste Outra Vez: Mato Grosso vence o Festival de Gramado com o frenético thriller social 'Cinco Tipos De Medo'

Ao lado da equipe de 'Cinco Tipos de Medo', de Bruno Bini recebe o prêmio de Melhor Filme na Serra Gaúcha. Longa matogressense ainda conquistou outros três Kikitos | Foto: Edson Vara/Ag. Pressphoto

Um ano depois de Goiás ter vencido o Festival de Gramado com “Oeste Outra Vez”, hoje em streaming (no Telecine), região Centro-Oeste emplaca um bicampeonato na maratona cinéfila mais popular do país, agora, via Mato Grosso. Veio de lá o frenético “Cinco Tipos de Medo”, mistura de ação com melodrama, tendo Bella Campos em seu elenco de múltiplas destrezas. “É o primeiro Kikito de Mato Grosso”, disse Bini, no palco.

Mais audacioso dos seis concorrentes ao Kikito de Melhor Longa deste ano, “Cinco Tipos De Medo” foi o único a ser ovacionado e foi o primeiro a ser laureado na premiação do mais popular festival de cinema do país. Abriu a festa com o troféu de Melhor Montagem, dado ao cuiabano Bruno Bini, que assina sua direção também. Poucos momentos depois, ele iria ao palco de novo, buscar o troféu de Melhor Roteiro, na esteira da conquista da estatueta de Ator Melhor Coadjuvante, confiada ao colossal desempenho do rapper de Seropédica Xamã.

Bini deu a Gramado um “filme coral”, ou seja, a narrativa dele segue núcleos de personagens distintos - e autônomos - que trombam sob vetores sociais. Murilo, um violinista enlutado após a covid (vivido por João Vitor Silva), envolve-se com Marlene (papel de Bella), uma enfermeira presa a um relacionamento abusivo com o traficante Sapinho (Xamã, um titã em cena). As angústias deles cruzam com as de Luciana (Bárbara Colen), policial do Bope numa cruzada de justiçamento, e de Ivan (Rui Ricardo Dias), um advogado com intenções ocultas. “É possível fazer um filme com temas relevantes que seja capaz de entreter pelas vias do cinema de gênero”, disse Bini ao Correio da Manhã.

Macaque in the trees
Equipe do longa 'A Natureza das Coisas Invisíveis', de Rafaela Camelo com Kikitos de Melhor Trilha Musical e Melhor Atriz Coadjuvante | Foto: Cleiton Thiele/Ag. Pressphoto

Exibido na Berlinale, em fevereiro, na seção Generation, “A Natureza das Coisas Invisíveis” volta de Gramado para o DF, seu lar, com o Prêmio Especial do Júri, uma das mais cobiçadas láureas de qualquer premiação. Sua trama é conduzido com serenidade e ganha a plateia pela delicadeza. Nele, a menina Glória, de 10 anos (vivida por Laura Brandão), acompanha a mãe, a enfermeira Antônia (Larissa Mauro), no trabalho, em um hospital. A garota já conhece o local e costuma explorá-lo sozinha. Um dia, ela conhece Sofia (Serena), da mesma idade, que está lá por causa de sua avó, uma curandeira espiritual (Aline Marta Maia) que sofre de Alzheimer. Uma relação de cumplicidade entre as garotas vai nascer ali. Coube ainda ao longa os Kikitos de Melhor Atriz Coadjuvante (dado para Aline) e Melhor Trilha Sonora (Alekos Vuskovic).

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Laís Mello (E) e o elenco do longa-metragem brasileiro "Nó", de Renata Corrêa por Melhor Fotografia e Prêmio do Júri da Crítica | Foto: Cleiton Thiele/Ag. Pressphoto

Nascida em Minas, mas criada no Paraná, Laís Mello lava a Curitiba o Kikito de Melhor Direção por “Nó”, que venceu ainda na categoria Fotografia (Renata Corrêa) e recebeu o Prêmio da Crítica. A potência de sua atriz principal, Saravy, é devastadora no papel de uma operária que briga pela guarda de suas três filhas com um ex-marido abusivo, em meio a uma possível promoção no trabalho.

 

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Por vídeo, Malu Galli recebe o anúncio da premiação como Melhor Atriz por seu desempenho em 'Querido Mundo", de Miguel Falabella | Foto: Edison Vara/Ag. Pressphoto

Igualmente devastador foi o trabalho da estrela de “Vale Tudo” Malu Galli em “Querido Mundo”, de Miguel Falabella. Ela vive Elsa, uma mulher massacrada por um esposo brutal que prova do benquerer numa noite de revéillon com um estranho (Du Moscovis).

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Gero Camilo, de 'Papagaios' recebe o prêmio de Melhor Ator | Foto: Edison Vara/Ag. Pressphoto
 

O fator surpresa de Gramado veio do Rio de Janeiro, com “Papagaios”, um thriller de tons cômicos efervescente de Douglas Soares, que traz o cantor Leo Jaime no elenco, vivendo a si mesmo. Levou o Júri Popular na flauta. Gero Camilo, seu protagonista, deixa a serra gaúcha com o Kikito de Melhor Ator. Somam-se ao troféu dele os prêmios de Melhor Desenhor de Som e de Direção de Arte. É a saga de um “papagaio de pirata”, um daqueles aficionados por câmeras de TV e fotos de jornal, que fazem tudo para aparecer num flash. Um deles, Tunico (papel de Gero), envolve-se numa encrenca ao arrumar um pupilo em meio a um tributo a Jaime em Curicica.

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'Lendo o Mundo', de Catherine Murphy (foto) e Iris de Oliveira recebe o prêmio de Melhor Documentário Brasileiro | Foto: Edison Vara/Ag. Pressphoto
 

Na seara documental, venceu o potiguar “Lendo o Mundo”, de Catherine Murphy e Iris de Oliveira. Suas diretoras fazem uma evocação do educador Paulo Freire (1921-1997), revivendo a época em que ele liderou um projeto de alfabetização no Nordeste. Os arquivos repletos de depoimentos de Freire são de um valor inestimável.

 

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'Para Vigo Me Voy', de Lírio Ferreira (C) e Karen Harley recebe Menção Honrosa, entregue pelo ator Marcos Breda | Foto: Edison Vara/Ag. Pressphoto

Houve ainda menção honrosa para um ímã de lágrimas, “Para Vigo Me Voy!”, que celebra o legado de Carlos Diegues (1940-2025).

Terminado Gramado, o cinema nacional volta suas atenções agora para o Festival de Brasília, que vai começar no dia 12 de setembro com “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho.

Veja, abaixo, a relação dos demais vencedores

PREMIAÇÃO DE GRAMADO

Melhor Filme: “Cinco Tipos De Medo”, de Bruno Bini

Júri Popular: “A Natureza das Coisas Invisíveis”, de Rafaela Camelo

Melhor Direção: Laís Mello (por “7”)

Melhor Documentário: “Lendo o Mundo”, de Catherine Murphy e Iris de Oliveira

Melhor Ator: Malu Galli (por “Querido Mundo”)

Melhor Ator: Gero Camilo (por “Papagaios”)

Melhor Atriz Coadjuvante: Aline Marta Maria (por “A Natureza das Coisas Invisíveis”)

Melhor Ator Coadjuvante: Xamã (por “Cinco Tipos De Medo”)

Melhor Roteiro: Bruno Bini (por “Cinco Tipos De Medo”)

Melhor Fotografia: Renata Corrêa (por “Nó”)

Melhor Direção de Arte: Elsa Romero (por “Papagaios”)

Melhor Montagem: Bruno Bini (por “Cinco Tipos De Medo”)

Melhor Trilha Musical: Alekos Vuskovic (por “A Natureza das Coisas Invisíveis”)

Melhor Desenho de Som: Bernardo Uzeda, Thiago Sobral e Damião Lopes (por “Papagaios”)

Menções honrosas: “Para Vigo Me Voy!” e “Sonhar Com Leões”

Júri Popular: “Papagaios”

Prêmio daCrítica: “Nó”