Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

'Cinco Tipos De Medo' é ovacionado em Gramado

O elenco de 'Cinco Tipos de Medo' recebe calorosos aplausos após a exibição do longa de Bruno Bini | Foto: Cleiton Thiele/Ag.Pressphoto

Último (e mais convulsivo) dos seis longas-metragens de ficção em concurso no 53º Festival de Gramado, “Cinco Tipos De Medo”, produção com CEP do Mato Grosso, foi o único a ganhar ovação na disputa pelo troféu Kikito de 2025 - a ser entregue neste sábado (23).

Teve grito de "Bravo!" e teve mais aplauso quando os créditos subiram e as luzes se acenderam. Bruno Bini (de “Loop”) é seu diretor e pode dar à região Centro-Oeste um bicampeonato no evento gaúcho. Em 2024, o vencedor, “Oeste Outra Vez”, veio de Goiás, sem que nada se soubesse de sua estrutura narrativa. O que se sabia do filme de Bini era a presença de Bella Campos, a Maria de Fátima do remake de “Vale Tudo”, em seu elenco. Se alguém duvidava de sua potência, essa dúvida caiu por terra à luz de um sorriso que leva esperança a um campo minado a céu aberto.

Ligado numa genealogia latino-americana à obra inicial do mexicano Alejandro González Iñarritu, em seus tempos de “Amores Brutos” (2000), “21 Gramas” (2003) e o genial “Babel” (2006), “Cinco Tipos De Medo” é um "filme coral", ou seja, a narrativa dele segue núcleos de personagens distintos - e autônomos - que trombam sob vetores sociais. Murilo, um violinista enlutado após a covid (vivido por João Vitor Silva), envolve-se com Marlene (papel de Bella), uma enfermeira presa a um relacionamento abusivo com o traficante Sapinho (Xamã, um titã em cena). As angústias deles cruzam as de Luciana (Bárbara Colen), policial em cruzada de justiçamento, e de Ivan (Rui Ricardo Dias), um advogado com intenções ocultas. São cinco vidas aparentemente desconectadas e elas colidem num caminho sem volta, numa cartografia de desamparos enquadrada na direção de fotografia dionisíaca de Ulisses Malta Jr.

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Bella Campos é a protagonista de 'Cinco Tipos de Medo', produção matogrossense com a grife de Bruno Bini | Foto: Divulgação

Bini também assina a montagem da fita, a esbanjar destreza, embalado numa trilha sonora que nunca perde o prumo. Gramado foi ao delírio com o encaixe azeitado de cada peça em seu roteiro, que se comporta como panóptico - como só se via “Amnésia”, de Christopher Nolan, de 2000 -, capaz de revisar cada sequência anterior sob novos e reveladores prismas. É o filme mais audacioso em concurso.
Gramado termina neste sábado.