Laureado planetariamente a partir de sua estreia no Festival do Rio 2023, de onde saiu com o Prêmio Especial do Júri, “O Dia Em Que Eu Te Conheci” é uma das (muitas) boas razões que fizeram o Sesc escolher o diretor mineiro André Novais Oliveira como homenageado de suas atividades cinematográficas deste semestre. Coube a ele um tributo centauro: metade mostra de filmes, metade masterclass. Nesta terça (18h), às 17h, a unidade Tijuca do Serviço Social do Comércio (sesc) recebe o cineasta para uma aula. No dia 20, às 18h, é a vez de ele levar seus curtas-metragens para Campos dos Goytacazes e debater a estética que o conduziu a festivais como Cannes (“Pouco Mais De Um Mês”) e Locarno (“Temporada”). Ao longo da semana, ele agita um circuito do Sesc que contempla as cidades de Nova Iguaçu, Nova Friburgo, São João de Meriti e São Gonçalo.
A mostra “Retrospectiva Brasil: O Cinema de André Novais Oliveira” contará com 151 sessões e 12 masterclasses em dez estados. Já a filmografia do realizador foi licenciada para estar disponível para 22 estados por todo o ano de 2025, abrangendo todas as regiões do país. Os debates e aulas com André acontecem em diferentes unidades do Sesc país adentro. No Tocantins, o ator Renato Novaes, astro assinatura desse investigador das pequenas maravilhas que tornam a vida grandiosa, conduzirá as ações educativas do evento.
Por meio da produtora Filmes de Plástico, da qual é sócio, André estruturou uma voz autoral, expressa em títulos como “Ela Volta na Quinta” (2014), mesclando vida e fabulação. Segundo o
analista em Audiovisual no Departamento Nacional do Sesc Lorran Dias, a obra dele “transforma o afeto — aos lugares, aos familiares e amigos e à própria comunidade — em ferramenta de criação artística e modo de produção”.
É “o afeto como um gesto que mobiliza amigos, familiares e vizinhos para construírem juntos histórias que atravessam o real e o ficcional, com a capacidade de inspirar outros realizadores periféricos, através de uma compreensão coletiva que seus universos cotidianos são fontes abundantes de cinema e de vida”, diz Lorran Dias.
Na entrevista a seguir, André compartilha inquietudes criativas com o Correio da Manhã.
Você estudou História em paralelo ao trabalho com cinema. De que forma o saber do passado te ajuda a fazer filmes sobre o presente? De que forma fazer itinerância, como se dá no projeto do Sesc, é fazer é, de alguma medida, fazer História, só que no Presente?
André Novais Oliveira - Ter feito o curso de História, para mim, foi bem importante para fazer cinema. Sinto isso não só na coisa de ter nos filmes títulos que remetem a coisas do passado, mas na questão de os tempos históricos estarem bem presentes nas narrativas do filme. Pensar no presente é sempre pensar no futuro e no passado. Matérias como Teoria da História me fazem refletir muito sobre a História do Cinema Brasileiro e pensar em como a mostra é importante para pensar o momento e entender como os filmes estão chegando às pessoas. É legal fazer parte dessa mostra, fazer essas masterclasses e debates, pois é uma forma de vivenciar o que vivemos em um passado muito próximo e pensar que essas pessoas que estão frequentando (as sessões) podem ser as próximas a fazerem os filmes.
De que forma seus filmes ligados a seus parentes mudaram a sua noção da palavra “família”? Que família é a Filmes de Plástico, produtora formada por você, Gabriel Martins, Maurilio Martins e Thiago Macêdo Correia?
É muito amplo. Não somos apenas nós quatro. A gente vai chamando várias pessoas para participarem das produções, e é muito importante entender como isso tudo se dá.
Existe, com frequência, espaço para o amor nos seus filmes, o que explode em “O Dia Em Que Te Conheci”. Que lirismo norteia esses filmes?
Não sei se seria lirismo, mas essa coisa do amor e principalmente a vontade de contar uma história vem de toda equipe e elenco.
Qual (e como) é a Minas Gerais do teu cinema?
A Contagem e a BH nos filmes vêm muito da vontade de falar de lugares que não são muito retratados, mas que pessoas da idade dos personagens frequentam.
Quais são os próximos projetos de curta e de longa que você tem por filmar?
Estamos finalizando um longa da produtora que eu dirigi no ano passado e se chama “Se Eu Fosse Vivo... Vivia”.