Por: Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / FILME / FALE COMIGO: A mão que balança a tela

Ao apertar a mão do demo, uma jovem acaba condenada ao tormento do Além no longa 'Fale Comigo' | Foto: Divulgação

Depois do fenômeno "Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo", laureado com o Oscar de Melhor Filme lá em 2023, cresceu a procura por longas-metragens com a estética TikTok, ou seja, cortes mais rápidos do que o Flash, com viradas de roteiro a cada segundo, porém com atenta concentração dedicada a dilemas juvenis. São novos (os) tempos. Com eles nascem novas linhagens de se narrar, o que abre espaço para produções de pequeníssimo porte, como o terror anglo-australiano "Fale Comigo" ("Talk To Me"), brilharem. Orçado em cerca de US$ 4,5 milhões, esse thriller sobrenatural teve um faturamento de US$ 92 milhões mundo afora, além de ter conquistado vitrine nobre na programação da Berlinale, na capital alemã.

É possível conferi-lo em telona no Rio, neste sábado, às 18h, no Festival de Cinema Australiano, no CineCarioca José Wilker, em Laranjeiras. No mesmo dia tem "Better Man", às 14h. No domingo, rolam "Casamento Australiano" e "Furiosa: Uma Saga Mad Max".

O evento é seminal para o entendimento das estéticas do chamado Novíssimo Mundo, pátria de Peter Weir, de Jennifer Kent, de Shannon Murphy, de Justin Kurzel. Não se abrem as veias estéticas de uma nação ignorando suas investidas em filões de gênero. Daí a presença, mais do que sabia, de "Talk To Me", um estudo sobre comunicações profanas com mortos, estruturado sob a direção dos YouTubers (e gêmeos) Danny e Michael Philippou. Eles não se avexam de usar jump scares, a técnica histórica (hoje patrulhada pelo mimimi do politicamente correto) de fazer a plateia saltar das cadeiras ao topar com o Demo - ou assassinos armados.

O elemento que causa medo na trama rodada pelos irmãos Phillipou é uma estatueta em forma de mão. Trata-se de um patuá supostamente produzido a partir de um punho embalsamado. Quem a aperta e diz o imperativo "Fala comigo" abre um portal para espíritos, quase sempre maus. O erro da jovem Mia (vivida pela ótima Sophie Wilde) é fazer esse ritual sem ter feito as pazes com seu inconsciente acerca da morte misteriosa de sua mãe. O que vai sair das incursões dela ao Além é tenebroso, e clama por sangue. Trata-se de uma eletrizante atualização dos códigos do horror juvenil, com uma edição enervante.