Por: Pedro Sobreiro

'Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda' chega aos cinemas para resgatar os anos 2000

A sequência do longa traz a filha de Anna (Lindsay Lohan) em problemas com a meia-irmã | Foto: Glen Wilson/ Disney

Lançado em 2003, "Sexta-Feira Muito Louca" é um daqueles filmes geracionais que não saem da cabeça de quem cresceu na época. Remake de "Se Eu Fosse a Minha Mãe", da década de 1970, a versão dos anos 2000 conseguiu sintetizar bem o que era ser jovem naquela época, além de ter virado um ícone da moda street para muitos jovens pelo mundo.

A trama era bem simples: Tess (Jamie Lee Curtis) e Anna (Lindsay Lohan) são mãe e filha que não se suportam. Tess é uma terapeuta que está se preparando para o segundo casamento, enquanto Anna é uma adolescente rebelde que é apaixonada pelo bonitão da escola e tenta emplacar sua banda de garagem, o Pink Slip. Durante os ensaios do casamento, porém, elas comem um biscoito da sorte que faz com que a dupla troque de corpo.

Agora, com uma no corpo da outra, elas vão tentar destrocar antes que chegue a hora do casório. Mas, para isso, elas vão precisar aprender como é viver a vida da outra e entender o motivo que alimenta suas brigas incessantes.

Era a receita pronta para o sucesso. Jamie Lee Curtis não estava numa fase de alta na carreira, mas já era o ícone pop do terror por sua atuação em "Halloween". Por outro lado, Lindsay Lohan era a grande estrela juvenil da época. A combinação da dupla transbordou química, criando um longa relativamente barato - para os padrões de Hollywood - que rendeu uma excelente bilheteria e conquistou o coração dos fãs, sendo constantemente lembrado nas sessões de reprise.

Agora, 22 anos depois, a sequência vê a luz do dia com um lançamento que aposta na nostalgia para cativar os fãs do primeiro, mas não é só isso: a química do elenco é tão boa quanto a da primeira aventura, sabendo trazer bem as questões da juventude atual para brincar com os problemas da geração millennial, que agora assume o papel de "velho do rolé".

"Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda" só aconteceu por insistência de Jamie Lee Curtis, que encontrou com Bob Iger, CEO da Disney, e disse que sempre sonhou com uma sequência do filme, mas aguardava o momento em que Lindsay tivesse idade para convencer no papel de mãe nas telonas.

Foi nesse momento que Iger caiu na risada e disse: "a Lindsay tem 35 anos". Diante do choque com a passagem do tempo, Jamie ligou para a atriz e perguntou se ela toparia fazer o filme... E o resto é história.

Essa dinâmica entre as duas segue como o coração do filme, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (7). Só que a dupla agora é acompanhada de uma nova equipe: as filhas de Anna (Lohan).

Na trama, Anna encontra o amor de sua vida após sua filha, Harper (Julia Butters) arrumar briga na escola com Lily (Sophia Hammons), uma esnobe aluna de intercâmbio que veio do Reino Unido e virou ícone de popularidade dentre os alunos.

O irônico da situação é que Anna acaba se apaixonando perdidamente pelo pai de Lily, fazendo com que as duas inimigas do colégio passem a ser irmãs.

Agora, o cenário da confusão se inverte, já que é Anna que se prepara para o segundo casamento, enquanto as filhas seguem se odiando e brigando o dia inteiro. Mais do que isso, Tess está de volta ao jogo como uma avó sem noção que tenta criar as filhas pela mãe, o que acaba criando novos atritos entre elas.

Então, o destino age novamente para que elas troquem de corpo. Só que, dessa vez, Anna troca de corpo com a Harper, enquanto Tess troca de lugar com a Lily, e aí que começa a diversão.

Ambientado em Los Angeles, o filme involuntariamente acabou se tornando um grande memorial para a cidade, que viria a ser consumida pelas chamas pouquíssimo tempo após o fim das gravações. Então, muitas locações usadas no filme simplesmente não existem mais, fazendo com que as cenas do longa sejam seus últimos registros.

E esse é um daqueles casos em que a cidade atua como personagem da trama. Harper é conectada com L.A., sua vida praiana é parte importante de quem ela é e do conflito que tem com a mãe. Da mesma forma, Anna é uma produtora musical de sucesso e ex-rockstar. Ela conseguir andar nas ruas com tranquilidade é algo que tipicamente só aconteceria em Los Angeles ou Nova York, então foi um acerto tremendo não gravar essa comédia em estúdio, mas sim aproveitando ao máximo a cidade.

Mas o grande destaque mesmo segue com Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis. Mais de 20 anos se passaram e a dupla continua transbordando carisma. Sendo que agora as duas interpretam adultas vivendo em corpos adolescentes. E isso é ridiculamente divertido, não só por criar uma conexão com o público-alvo do longa, que também envelheceu e sente falta dos melhores dias nos anos 2000, mas também porque explora o delicioso timing cômico das atrizes.

O elenco adolescente também é muito bom. Julia Butters principalmente. Ela consegue incorporar todos os trejeitos da Lindsay Lohan, chega a ser assustador.

Por fim, "Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda" é um filme que entende o apoio que tem na nostalgia, mas não se limita a isso. A trilha sonora, que foi tão importante no primeiro longa, volta afiadíssima, trazendo os sucessos anteriores e apostando nos hits teen atuais, principalmente na fenomenal Chappell Roan. E o próprio longa percebe que por mais que mudem as gerações, há certas coisas nas relações entre mães e filhas que só mudam a roupagem, porque seguem iguais. É um resgate dos anos 2000, enquanto celebra os anos 2020. É sensacional!