Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Thriller de elite: José Padilha mobiliza a rede, em streamings e site

Daniel Brühl é um dos terroristas de '7 Dias em Entebbe', thriller da maturidade na filmografia de José Padilha | Foto: Divulgação

Envolvido num curso de direção online para a Casa Folha, o realizador carioca José Padilha tem atraído o olhar curioso da indústria audiovisual para a URL americancancerstory.com/, onde é possível encontrar seu filme mais recente. O curta-metragem "American Cancer Story" fala sobre conscientização em relação ao armamento nos EUA. Fazia tempo que nada inédito dele circulava entre os fãs que angariou, há 18 anos com "Tropa de Elite", o ganhador do Urso de Ouro da Berlinale 2008.

O projeto de um seriado para a Globo sobre a morte de Marielle Franco, em 2018, fez parte das atividades do diretor e produtor depois de sua polêmica investida na Netflix com "O Mecanismo", na grade dessa plataforma digital há sete anos. Filme, o suporte artístico que fez dele uma promessa, lá em 2002, com "Ônibus 174", é algo que ele não lança faz tempo. O último, "7 Dias Em Entebbe", lançado na Berlinale, também sete anos atrás, ganha novos holofotes agora, em meio a conflitos em Israel. Sua inclusão em streamings, na Max e na Diamond Films , dão um novo gás a um ato de ousadia de Padilha. É um trabalho de maturidade.

No tabuleiro da estética, no qual moveu casas ligadas à Segurança Pública no Rio, Padilha avança 20 casas, na rota do amadurecimento como diretor, com "7 dias em Entebbe", um thriller político sobre causa e consequência na prática de ideologias. Desde o documentário que o revelou, o "Ônibus 174" (na gradr da Prime Video da Amazon), sua linha autoral é a mesma, e sempre foucaultiana: analisar os dispositivos que vigiam e punem a sociedade sobre múltiplos pontos de vista, para a construção de uma dialética na qual há sempre um cordeiro a ser imolado em nome da fé na ordem. Era assim com a inocência dos "aspiras" do "Tropa de Elite" original, de 2007. Era assim com a carne do policial do futuro transformado em homem de lata no subestimado "RoboCop" (2014). Foi assim com a crença na lei do policial Ruffo (Selton Mello) em "O mecanismo". É assim em "Entebbe" a se julgar pela inquietude dos personagens ligados ao sequestro de um avião da Air France, em 1976, com tripulantes de Israel.

Crises de consciência no cumprimento do dever são o sintoma essencial dos protagonistas de Padilha, a julgar pelo Capitão Nascimento, que fez de Wagner Moura um titã. Por isso, elas transbordam aqui - nesta produção de CEP anglo-americano, com custo estimado em US$ 3,9 milhões - tanto nos envolvidos no sequestro quanto nas forças de retaliação a esse crime. Existe tensão (o conflito da responsabilidade civil) do lado do primeiro-ministro Yitzhak Rabin (papel dado a Lior Ashkenazi) e do lado dos extremistas (classificados como terroristas) alemães vividos com maestria plena por Rosamund Pike e Daniel Brühl (especialmente luminoso). Eles sequestram uma nave para forçar a libertação de palestinos.

Como é de costume em sua obra, Padilha não isenta ninguém de nenhum delito. Existe o delito da ação e existe o delito da negligência. Esse debate sobre falta de isenção não elimina a riqueza interna de cada ator social em cena: todos têm sentimentos modulando suas escolhas e seus erros. Uma das maiores riquezas de "7 Dias Em Entebbe", construído como um filme de estratégia à moda Costa-Gavras (o diretor de "Z", cuja filmografia é adorada por Padilha), está no cuidado do diretor com os dramas humanos (psicológicos) de sequestradores, políticos e vítimas. É um jogo de War com peças vivas.

Há uma só figura em cena, cuja tessitura dramática parece mais horizontal (sem camadas): o ministro da Defesa de Israel, Shimon Peres, papel dado ao brilhante ator inglês Eddie Marsan. Essa suposta natureza unidimensional de Shimon vai caindo por terra conforme a montagem de Daniel Rezende vai se aprofundando na situação política e moral do governo de Israel, calçando-se no talento de Marsan.

É na edição de Rezende que Padilha estrutura o mais engenhoso dispositivo de "7 dias em Entebbe": um balé que encena uma coreografia febril sobre tradição e modernidade, a partir das leis do povo israelense.

A câmera, taquicárdica, é guiada pela direção de fotografia de Lula Carvalho.