Em tempo de cair na real sob o fundamentalismo que cerca, á força do turbilhão "Apocalipse nos Trópicos", hoje na Netflix, o audiovisual começa a preparar suas apostas documentais para o Oscar de 2026. Uma reportagem recente da "Variety", a Bíblia do entretenimento destacou cinco possíveis competidores: "Architecton", "Cutting Through Rocks", "Endless Cookie", "The Perfect Neighbor" e "Selena y Los Dinos". O Festival de Veneza, que rola no fim de agosto, vai divulgar seus concorrentes de 2025 nesta semana e promete ter .docs de peso em sua grade. Estima-se, contudo, que o potencial astro desse certame da não ficção venha lá da Berlinale. Seu título: "Esperando Liat" ("Holding Liat"). Sua narrativa está ligada a tensões no Oriente Médio…
Há tempos, as ofensivas entre Israel e Palestina vitaminam a produção documental, seja interna (naquele perímetro geográfico inflamável), seja na Europa, em análises com foco na resiliência de potenciais vítimas de um ódio histórico. A Berlinale deste ano ampliou o debate a partir de "Esperando Liat", uma expressão audiovisual dos EUA, com Darren Aronofsky (diretor de "A Baleia" e "Pi") entre os seus produtores. O longa, dirigido por Brandon Kramer, ganhou o Prêmio de Melhor Documentário do Festival de Berlim e saiu da Alemanha ainda com a Láurea do Júri Ecumênico. Sua narrativa revive os trágicos episódios de 7 de outubro de 2023, demarcado a sangue no calendário israelense. Essa data é assombrada por uma série de atentados coordenados e conduzidos pelo grupo militante islâmico palestino Hamas, da Faixa de Gaza, às áreas fronteiriças do sul de Israel, na manhã de Shabat, data de vários feriados judaicos.
"Estávamos no casamento de um amigo, numa festa realizada numa área de montanhas quando toda a tragédia aconteceu e decidimos partir para um filme de observação", disse Kramer, em entrevista ao Correio da Manhã.
Seu foco não são os atentados, mas o sofrimento de uma família com quem tinham uma conexão prévia. Depois que a guia de turismo Liat Beinin Atzili foi raptada em pleno 7 de outubro, seus parentes, israelenses e americanos, enfrentam uma fase de horror, com medo de que ela seja assassinada. Seus entes queridos se unem para lutar pela sua libertação e pelo futuro de um projeto político de nação. "Naquele momento, o mundo todo ficou atento para a situação dos reféns", disse Kramer. "A ideia de medo que brota dessa situação passa pela incerteza e de tudo de tóxico que ela traz".
Outro achado documental da Berlinale foi "Timestamp", de Kateryna Gornostai, um mosaico do dia a dia de estudantes e profissionais da educação na cena escolar ucraniana, numa luta para manter viva a fé na educação como um instrumento de revolução.
Lá de telas alemãs veio "La Memorias De Las Mariposas", de Tatiana Fuentes Sadowski, com CEP no Peru. Um merecido Prêmio da Crítica ampliou o futuro desta produção documental. Tatiana teve sua atenção capturada por uma foto antiga de dois homens indígenas levados a Londres para serem "civilizados" por volta da virada do século XX. Seus nomes eram conhecidos - Omarino e Aredomi - mas pouco ou quase nada se sabia sobre eles. Por isso, Tatiana sentiu-se compelida a se aprofundar no passado da dupla - e de sua pátria. O que faz neste poroso filme é desconstruir a história oficial do comércio extrativista borracheiro no final do século XIX e início do século XX.
O Brasil vai brilhar nessa seara, em circuito com a chegada de "3 Obás de Xangô", de Sérgio Machado. O longa, que estreia em 4 de setembro, deu um banho de descarrego na Première ao relembrar a amizade entre o compositor Dorival Caymmi, o best-seller Jorge Amado e o artista plástico Caribé, uma trinca de orixás da Bahia.