Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Polícia para quem precisa: a comédia

Liam Neeson vive Frank Drebin Jr. no esperado 'Corra Que a Polícia Vem Aí' | Foto: Paramount Pictures

Incumbido da missão de ser o Charles Bronson do século XXI, o irlandês Liam Neeson salvou os filmes de ação da indiferença popular em 2009, quando "Busca Implacável" ("Taken") tornou-se blockbuster, sem exibidor nenhum esperar, transformando-o num ferrabrás do tapa na cara. Nos últimos 16 anos, sem ignorar convites de diretores autorais, como Martin Scorsese, Atom Egoyan e seu compatriota Neil Jordan, ele manteve acesa a pólvora dos longas de pancadaria, assumindo um lugar de vigilante crepuscular, já grisalho, fazendo jus à sabedoria dos seus 73 anos.

Em 2025, além de mobilizar telas e streamings com sessões comemorativas dos 20 anos de "Batman Begins" (no qual é vilão), ele tem outra pátria para salvar: a comédia. A escalação dele para estrelar a nova versão de "Corra Que A Polícia Vem Aí!" ("The Naked Gun"), que vai estrear em 31 de julho no exterior e chega ao Brasil em 14 de agosto - é uma forma de angariar plateias para o filão que correção política - vitaminada pela filosofia woke - enfraquece dia a dia. O mesmo vinha acontecendo com os thrillers de adrenalina pura... até Liam salvá-los.

Sob a direção de Akiva Schaffer, o "Corra Que A Polícia Vem Aí!" de 2025 é uma continuação tardia da franquia milionária que fez de Leslie Nielsen (1926-2010) uma estrela. Frank Drebin, o tira abilolado que Nielsen (dublado aqui por Márcio Seixas) encarnava, fez fortunas. O primeiro filme de sua trilogia, lançado em 1988, custou US$ 12 milhões e arrecadou US$ 152 milhões. O segundo custou US$ 23 milhões e ajudou o ano cinéfilo de 1991 a ficar com as contas no azul ao somar US$ 192 milhões. O terceiro e último episódio de suas peripécias - que hoje podem ser vistas na Netflix - contabilizou US$ 132 milhões em 1994. Cabe agora a Liam viver Drebin Jr.

Macaque in the trees
Leslie Nielsen fez do cinema a maior diversão na franquia 'Naked Gun' dos anos 1980 e 90, que hoje pode ser vista na grade da Netflix | Foto: Divulgação

O trailer de suas aventuras, já no YouTube e nos cinemas, é hilário e indica que esse Didi Mocó da Lei e da Ordem tem um assassinato para desvendar em meio à luta para impedir que seu departamento feche as portas. Pamela Anderson é outro destaque do elenco do longa, cujo produtor é Seth MacFarlane, o criador do desenho "Uma Família da Pesada". Mais do que isso, Seth foi o responsável pelo último fenômeno humorístico de Hollywood: "Ted" (2012), aquela deliciosa farofa na qual um adulto (Mark Wahlberg) tinha como melhor amigo um ursinho de pelúcia falante. Sua arrecadação na venda de ingressos beirou US$ 550 milhões há... 13 anos.

Desde então, nos EUA, o gênero que presenteou o planeta com Buster Keaton, Mae West, Jerry Lewis, Lucille Ball, Goldie Hawn, Steve Martin, Lily Tomlin, Jim Carrey e gigantes afins não teve mais cifras astronômicas nos multiplexes. Seu dínamo mais imbatível, Adam Sandler, que lotou salas de 1998 (quando lançou "O Rei da Água") até 2011 (ano de "Cada Um Tem A Gêmea Que Merece"), migrou para a Netflix há uma década. Lá, sob a dublagem indefectível de Alexandre Moreno, ele reina. Não por acaso, seu novo longa, "Um Maluco no Golfe 2" ("Happy Gilmore 2"), que estreia no próximo dia 25 na plataforma, é encarado como uma das maiores apostas do streaming nesta temporada.

Falando em comédias da Netflix, o Brasil emplaca neste fim de semana o que pode ser uma nova coqueluche: "Família, Pero No Mucho", com Leandro Hassum às voltas com o portunhol. Aqui, astros como ele, Ingrid Guimarães, Mônica Martelli, Maurício Manfrini (o Paulinho Gogó) e Tatá Werneck seguem dando lucro em tela grande. Já nos Estados Unidos... O patrulhamento moralista por lá encalacrou a paródia, a piada, a tiração de sarro. Só Liam mesmo na causa! Seu dublador brasileiro, Armando Tiraboschi, leva fé e sua nova empreitada e já emprestou o vozeirão a "Corra Que A Polícia Vem Aí!".

"Liam é um artista muito meticuloso, que faz teatro e tem noção de interpretação de um grande ator clássico. É muito econômico na atuação. É exato. Exige muita atenção para percebermos as nuances na sua fala e em sua expressão, que segue uma linha quase minimalista. Aparentemente ele é frio, mas como um bom irlandês, ataca no necessário, sem muita firula", explica Tiraboschi. "Para a versão brasileira dele, eu fico procurando onde posso dar a Liam uma alma com um toque de brasilidade, para que o espectador se identifique. Isso não é uma dificuldade, é um prazer. Ele me instiga a fazer trabalhos com uma interpretação estudada e exata. Ele é muito bom nisso".

Titã em seu ofício, Tiraboschi vem dublando Liam em quase todo seu histórico de tiroteios, sem ignorar o brilho de seu "boneco" (jargão da dublagem para astros que são dublados pelos mesmos atores de voz) em dramas como "A Lista de Schindler" ("Schindler's List" 1993) e "Nosso Amor" ("Ordinary Love", 2019), hoje na Prime Video.

Até o dezembro, Liam volta a ser visto de arma na mão em "Armazenamento Mortal" ("Cold Storage").