Com uma receita estimada em US$ 996 milhões, "Lilo & Stitch", da Disney, tá quaaaaaaaaase chegando a US$ 1 bilhão em seu faturamento bruto mundial, sendo que "Superman", lançado na quinta-feira passada, com James Gunn em sua direção, arrecadou US$ 217 milhões em apenas três dias em cartaz. Emissário de Krypton, Kal-El não para de encher salas, sobretudo no Brasil, onde vendeu 1 milhão de ingressos no fim de semana inaugural. "Jurassic World: Recomeço" também segue lotando multiplexes, com US$ 532,6 milhões em seus cofres.
Apesar dessas cifras parecerem coisa de doido pra gente, elas não refletem, nem de longe, o poder de fogo que Hollywood teve no passado, sobretudo pelo fato de o único filme de 2025 a cruzar a fronteira do bilhão, na arrecadação das salas exibidores, não ter nenhuma ligação com estúdios dos EUA. Em meio à guerra comercial dos EUA com o resto do mundo, empunhada com afinco pelo governo de Donald Trump, o sucesso do ano, de janeiro até agora, é uma animação chinesa: a aventura "Nezha: O Renascimento da Alma". Estima-se que sua renda vá ultrapassar US$ 2,2 bilhões até o fim de semana. O ranking de popularidade de 2025 tem ainda uma outra aventura animada egressa da Ásia: o japonês "Detective Conan: One-Eyed Flashback", de Katsuya Shigehara.
Sua renda está em US$ 97 milhões. Estima-se que a Coreia do Sul vai entrar nesse espaço, no segundo semestre, com "No Other Choice" ("Eojjeolsuga Eobsda"), dirigida pelo artesão autoral Park Chan-wook, de "OldBoy" (2004).
Cercada de misticismo e ancestralidade asiática, a trama de "Nezha: O Renascimento da Alma", animada pelo cineasta Yang "Jiaozi" Yu, é a continuação de um filme de 2019. No enredo, as almas de Nezha e Aobing se salvaram de uma catástrofe, mas seus corpos estão condenados a serem despedaçados. Um objeto sagrado, a lótus de sete cores, pode ajuda-los, mas essa flor é um fetiche cercado de perigos. Sua periculosidade envolve tradições milenares do povo chinês. Essa é uma premissa que o cinemão dos EUA apenas arriscou arranhar ao investir na franquia "Kung Fu Panda" (2008-2024), mas o fez sem a mesa potência dramatúrgica de Jiaozi, sem uma riqueza antropológica tão ampla quanto a que esse realizador atingiu.
Seu lucro dói no mercadão estadunidense. Do século 20 até hoje, 57 longas-metragens ligados a grandes conglomerados audiovisuais da América cruzaram a marca do bilhão de dólares, na venda de ingressos. Entre os títulos que encabeçam esse clube bilionário, três foram dirigidos por James Cameron. Ele ocupa o 1° lugar da fila - com "Avatar", de 2009 - e se espalha no pódio também na terceira colocação (com "Avatar: O Caminho da Água", de 2012) e na quarta, com o rasga-coração "Titanic", de 1997. O segundo lugar é de "Vingadores: Ultimato" (2019), dos Irmãos Russo, e em quinto vem "Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força" (2015), de J.J. Abrams. Sabe quantos filmes de outras nacionalidades cruzaram essa barreira? Um só. Qual? "Nezha: O Renascimento da Alma", o próprio, em oitavo lugar. É um marco histórico.
O Brasil nem arranha essa equação, mas anda fazendo bonito este ano, sendo que seu mais recente acerto, com cerca de 650 mil tíquetes vendidos, foi "Homem Com H", de Esmir Filho, com Jesuíta Barbosa no papel do cantor Ney Matogrosso. Laureado com o Oscar de Melhor Filme Internacional em março, na segunda de carnaval, com "Ainda Estou Aqui", o cinema brasileiro abriu o ano com o Grande Prêmio do Júri da Berlinale, na Alemanha, para "O Último Azul", de Gabriel Mascaro, que vai inaugurar o Festival de Gramado no dia 15 de agosto, e pode virar blockbuster. Em maio, emplacamos quatro vitórias no Festival de Cannes com o thriller "O Agente Secreto", do pernambucano Kleber Mendonça Filho: Melhor Direção, Melhor Ator, Prêmio da Crítica e Prêmio da Associação de Exibidores de Filmes de Arte e Ensaio. Baiano de Rodelas, Wagner Moura, o eterno Capitão Nascimento, protagoniza esse suspense com CEP no Recife que estreia no dia 6 de novembro com fome de plateias abarrotadas. Tem muita coisa boa com DNA verde e amarelo vindo aí, começando por "A Melhor Mãe do Mundo", de Anna Muylaert, que estreia em 7 de agosto.