Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

'Super Feliz Para Sempre', um shoyu da despedida

Nem a morte pode separar o casal de 'Super Feliz Para Sempre', de Kohei Igarashi, destaque da grade da Mubi | Foto: Divulgação

Um dos temas mais recorrentes do cinema internacional em 2024 (vide "O Quarto ao Lado", de Almodóvar), a relação com a finitude frequentou o garimpo de todos os grandes festivais do mundo ano (Cannes, Veneza, Berlim) e bate ponto agora no streaming, na grade da Mubi, pelas vias de uma delicada expressão narrativa japonesa: "Super Feliz Para Sempre".

É um drama com toques líricos sobre como se faz as pazes com uma perda. A produção, chamada "Super Happy Forever" no exterior, chega a telas paulistanas vitaminada por uma aclamada recepção que teve em San Sebastián, no norte da Espanha, no mês passado. Basta zapear o www.mubi.com para se encantar com o longa-metragem.

Recentes investimentos autorais da diretora Naomi Kawase (de "Esplendor") mantiveram o lirismo romântico bem aquecido no audiovisual nipônico, mas não ao ponto de fervura que seu conterrâneo Kohei Igarashi alcança com "Super Feliz Para Sempre", que trata do tema da melancolia sob uma mirada doce, inspirada por love stories clássicas, asiáticas e americanas.

"Apesar de o romance ser um gênero um tanto fora de moda hoje, eu tenho apreço por seus códigos e por sua forma de encarar as relações interpessoais e entender a dinâmica de perder alguém. Nem sempre uma pessoa que se vai desaparece do nosso convívio. Ela está entre nós de formas novas, diferentes do que esperamos", disse Igarashi ao Correio da Manhã no Festival de San Sebastián. "Passamos antes da Espanha por Veneza e vamos ainda a festivais na Coreia, nos EUA e no Canadá, com essa parada no Brasil. Tento levar às telas imagens de um espaço geográfico, os resorts luxuosos de outrora, que servem como registro sentimental de um Japão do pós-guerra, de uma fase de reconstrução do meu país".

Seu enredo se passa num resort onde, um dia, o jovem Sano foi muito feliz com sua finada mulher, Nagi. A nostalgia dessa época já seria motivo suficiente para ele regressar, mas há um motivo extra: sair em busca de um chapéu vermelho que sua companheira perdeu lá.

"Na sociedade japonesa, não lidamos com a perda de uma forma definitiva, pois há sempre resquícios de quem partiu a sobreviver na memória e no tempo. Eu tento partir desses vestígios para abrir uma discussão sobre o que é tristeza e sobre como a dor se acomoda. O conceito japonês de 'relato triste' é muito fluido", diz Igarashi ao Correio. "O colorido do filme lida com contraste, acentuando o azul do mar. Esse contraste é um reflexo da vida".

Nesta sexta, a Mubi estreia com exclusividade "Magic Farm", nova comédia de Amalia Ulman ("El Planeta"), na qual uma equipe desastrada de documentaristas aterrissa por engano em um vilarejo rural argentino em busca de uma história viral. Chloë Sevigny, Alex Wolff e Simon Rex estão no elenco. No fim do mês, no dia 25, a plataforma traz ao país "Tóxico" ("Akipleša"), de Saule Bliuvaite, lá da Lituânia. O ganhador do Leopardo de Ouro do Festival de Locarno de 2024 gravita entre a perplexidade e a sororidade. Abandonada pela mãe, Maria, de 13 anos, é obrigada a viver com a avó numa cidade industrial deprimente. Durante um confronto violento na rua, ela conhece a aspirante a modelo Kristina. Buscando se aproximar dela, Maria se inscreve numa escola misteriosa que prepara meninas para o principal evento da região. A relação ambígua com Kristina e o ambiente intenso, com ares de culto, da instituição empurram Maria para um processo de autodescoberta - e de implosão.

Em seu rol de títulos permanentes, a Mubi mantém "Titane", de Julia Ducounau, que ganhou a Palma de Ouro em 2021. Encontra-se lá também "Dahomey", de Mati Diop, que rendeu o Urso de Ouro para o Senegal em 2024, e o badalado espanhol "Alcarràs", vencedor do Festival de Berlim de 2022, pilotado pela catalã Carla Simón.

Entre os lançamentos da semana passada na Mubi destacam-se "Hot Milk", da inglesa Rebecca Lenkiewicz, e "Diamante Bruto", da francesa Agathe Riedinger.