Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Maratona na TV a cabo e cults no streaming celebram os 79 anos de Sylvester Stallone

'Rambo - Programado Para Matar', de 1982, será exibido pelo Megapix neste domingo, numa maratona em tributo aos 79 anos de Sylvester Stallone | Foto: Divulgação

Depois de passar pelo circuito brasileiro ao lado de Isis Valverde em “Código Alarum”, Sylvester Stallone está finalizando a terceira temporada do que se estabelece como seu maior sucesso em uma década: a série da Paramount + “Tulsa King”. Vai ter até crossover com projeto novo estrelado por Samuel L. Jackson, numa celebração das dramaturgias sobre máfia. Nesse novo ambiente, o streaming, onde mobiliza a Prime Video com o sult “Risco Total” (1993), ele chega próximo dos 80: domingo agora é seu aniversário de 79 anos. A TV a cabo no Brasil não deixa a data passar batida. O Megapix preparou um maratonão de êxitos do astro, a começar por “Creed: Nascido Para Lutar”, que lhe valeu uma indicação ao Oscar de Coadjuvante e um Globo de Ouro em 2016. O festival Sly (apelido do artista) abre-alas às 10h50 e segue “Rota de Fuga” (às 13h20), “Os Mercenários” (às 15h30), “Rambo - Programado Para Matar” (às 17h25) e a pérola B “Falcão - O Campeão dos Campeões”, às 19h15.

No comecinho de 2025, Stallone arrumou uma antipatia pesada na ala do Partido Democrata dos EUA – e de grupos de esquerda – ao anunciar seu apoio ao presidente Donald Trump, comparando-o a Jesus Cristo. O gesto surpreendeu seus fãs, dada a histórica postura de neutralidade do ator, que sempre evitou alinhamentos com líderes políticos. Foi explicitamente cobiçado por Ronald Regan (1911-2004) como um garoto propaganda para ideologias intervencionistas no tempo em que brilhava com “Rambo II – A Missão”, que comemora 40 anos agora. Hoje, uma série de mudanças na dinâmica simbólica de Hollywood, supostamente impostas pela cultura woke, levaram-no a pensar e agir diferente, frente ao sucateamento do cinema de ação, do qual é um ícone. Sua mudança para as plataformas digitais, com a série (de sucesso) “Tulsa King”, facilitou sua escolha, que fez sua reputação humanista se arranhar.

Apesar do arranhão, o pavimento de sua carreira, Rocky Balboa, segue intacto e amado, num culto. Neste momento, Peter Farrelly (de “Green Book: O Guia”) prepara o longa “I Play Rocky”. A trama revive os bastidores da produção cinematográfica de 1976, orçada em US$ 1,1 milhão, que fez de Balboa um signo de resiliência. Sua bilheteria beirou US$ 225 milhões, ganhando cinco continuações entre 1979 e 2006, além de inspirar a franquia “Creed” (2015-2023). Em 1977, o longa conquistou os Oscars de Melhor Filme, Direção (John G. Avildsen) e Montagem (Richard Halsey e Scott Conrad).

Parte dessa história foi narrada no documentário “40 Years of Rocky: The Birth of a Legend” (2020), do cineasta Derek Wayne Johnson. Ele tratou do tema também no seminal “John G. Avildsen: King of the Underdogs” (2017), com depoimentos de Seu Sylvester.

“O primeiro Rocky traz uma das cenas mais emblemáticas de redenção de toda a História do Cinema: no round 14, quando Balboa cai, todo mundo diz para ele continuar no chão e desistir, mas ele fica de pé, mesmo cambaleante, sem desistir, afoito por mais uma chance de lutar”, lembrou Johnson em entrevista ao Correio da Manhã concedida na finalização de seu longa anterior, “Stallone: Frank, That Is”, sobre o irmão mais moço de Sylvester. “Minha vida não teria sido a mesma sem essa cena de Rocky, que John G. Avildsen dirigiu. É a história de alguém que duvida de si, sobre ser capaz de vencer, mas que tenta. Daí ganhar a simpatia de plateias há tanto tempo”.

Mítica, a escadaria do Museu de Arte da Filadélfia, revisitada por Johson, virou História a partir do dia 21 de novembro de 1976, data da primeira exibição pública de “Rocky, um Lutador”. Quando vendeu seu roteiro (escrito em três dias e meio, como ressaca pós uma luta de Muhammad Ali) para a United Artists, sonhando protagonizá-lo, Stallone ouviu nomes mais famosos do que ele serem citados como potenciais escolhas para interpretar o Garanhão Italiano. Os mais cotados eram Robert Redford, Ryan O’Neal, Burt Reynolds e James Caan. Mas Stallone bateu o pé: só venderia o script se o papel central fosse seu. E Irwin Winkler e Robert Chartoff bancaram a escolha, levantando o filme com orçamento de US$ 1 milhão.

Pensaram em Carrie Snodgress e Susan Sarandon para viverem Adrian, mas quem levou a personagem foi Talia Rose Coppola Shire, maninha de Francis Ford. Para o lugar de Apollo, o Doutrinador, pensou-se no boxeador Ken Norton, mas quem ganhou o short com as cores e listas da bandeira dos EUA foi Carl Weathers, morto em 2024.

Avildsen inovou a engenharia de filmagem hollywoodiana da década de 1970 ao deixar uma câmera móvel nas filmagens das lutas. “Na vida, você nunca pode baixar a guarda e deixar de socar os desafios”, disse Stallone no Festival de Cannes em 2019, ao receber da Croisette uma homenagem por suas cinco décadas de carreira. “Meus planos iniciais, nos anos 1970, quando filmamos ‘Rocky, um lutador’, em 29 dias, em 1976, era parar a série no terceiro filme. Mas havia mais coisa a ser contada. Tinha muita vontade, sim, de seguir com uma outra figura, a de Stallone Cobra, que é uma espécie de Bruce Springsteen da ação”.
Quem sabe o que a Era Trump oferece ao eterno Balboa. Até a resposta chegar, vale zapear a Netflix e conferir o documentário “Sly”, sobre os feitos desse Maciste ítalo-americano.