Por: Affonso Nunes

Mostra Sesc premia 48 filmes independentes

A animação carioca 'A História de Ayana' é um dos títulos premiados na categoria infantojuvenil | Foto: Divulgação

O cinema independente brasileiro vive um momento de efervescência criativa, como demonstra o crescimento expressivo da Mostra Sesc de Cinema em sua oitava edição. Com 2.145 inscrições recebidas, o evento registrou um aumento de 40% em relação ao ano anterior, estabelecendo um recorde que reflete a vitalidade da produção audiovisual nacional que, apesar de sua relevância, dificilmente encontra espaço nos circuitos comerciais.

Dos filmes inscritos, 48 foram selecionados para integrar o catálogo que será exibido em unidades do Sesc por todo o país durante 12 meses, contemplando sete longas-metragens, um média-metragem e 40 curtas. O projeto destinou um montante total de até R$ 200 mil em licenciamentos.

Um dado significativo desta edição é que 60% das obras inscritas eram filmes inéditos, evidenciando como a Mostra Sesc se tornou uma vitrine privilegiada para primeiras exibições de produções independentes. Essas estreias acontecerão durante o evento de setembro, em Vitória, capital do Espírito Santo.

A representatividade feminina na direção merece destaque nesta edição. Entre os filmes selecionados para a mostra nacional, a maioria foi dirigida ou codirigida por mulheres, totalizando 26 realizadoras premiadas.

O repertório selecionado revela a diversidade temática e geográfica do cinema independente brasileiro. Os 48 filmes licenciados estão distribuídos entre três categorias: Panorama Brasil (19 títulos), Infantojuvenil (10 obras) e Destaques Estaduais (19 produções). Todas as obras foram avaliadas por comissões estaduais compostas por especialistas convidados e profissionais do Sesc, garantindo critérios técnicos e artísticos na seleção.

A programação contempla universos narrativos que transitam entre o cotidiano familiar, as lutas por reconhecimento de territórios e identidades, e questões contemporâneas como saúde mental e diversidade. O longa-metragem "Hip Hop Caboclo", de João Nascimento, exemplifica essa diversidade ao estabelecer conexões entre o movimento hip hop e as raízes ancestrais brasileiras, explorando a poesia falada como elemento de resistência cultural.

No segmento infantojuvenil, produções como "A História de Ayana", das diretoras Cristiana Giustino e Luana Dias, abordam questões de identidade e ancestralidade através da trajetória de uma menina negra albina, demonstrando como o cinema independente brasileiro não se furta a discutir temas complexos mesmo quando se dirige ao público mais jovem.

A atenção às questões de saúde mental e qualidade de vida também marca esta edição, com filmes como "Isso é frescura?", de Vanderlildo Silva, que retrata uma jovem enfrentando crises de ansiedade, e "Notícias da Lua", de Sergio Azevedo, que acompanha um menino com Transtorno do Espectro Autista em sua paixão pela astronomia.