Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Estação Chan-wook nas telas cariocas

Premiado em Cannes em 2016, 'A Criada', de Park Chan-Wook, terá sessão neste sábado e domingo | Foto: Divulgação

Apelidado de "o 'Parasita' dos anos 2020" antes de ter sido exibido, pela força da expectativa ao seu redor, o thriller "No Other Choice" marca a volta do sul-coreano Park Chan-wook às telas. Responsável por redesenhar a relevância de seu país no audiovisual, à força do sucesso de "OldBoy", o cineasta regressa ao écran três anos depois do sucesso de "Decisão de Partir", que lhe rendeu a láurea de Melhor Direção em Cannes, e um ano depois do trabalho conjunto com o diretor paulista Fernando Meirelles na minissérie "O Simpatizante", na grade da MAX.

A trama - um desempregado passa a matar seus rivais na disputa por uma vaga de emprego - é derivada do romance "The Ax" (1997), de Donald Edwin Westlake (1922-2008), filmada antes pelo franco-grego Costa-Gravas, em 2005, com o título "O Corte". Espera-se que o projeto faça sua estreia no Festival de Veneza, em disputa pelo Leão de Ouro, com fome de Oscar e fôlego para virar sucesso de bilheteria. O cinema que Chan-wook faz lota salas de projeção com frequência, como foi o caso de "A Criada", laureado com o Prêmio Vulcan (Melhor Direção de Arte) no Festival de Cannes de 2016, que terá sessão no Rio neste fim de semana nas salas do Estação NET, na Gávea (sábado, às 20h30) e em Botafogo (domingo, às 15h20). Sua projeção faz parte da 3ª edição da mostra "Quem Quer Queer?", que vai até 7 de julho.

Com raras exceções, como "Shiri - Missão Terrorista" (1999), de Kang Je-kyu, e "A Ilha" (2000), de Kim Ki-Duk (1960-2020), pouco se notava a Coreia do Sul no planisfério das imagens em movimento até "Oldboy" chagar, 21 anos atrás, conquistando o Grande Prêmio do Júri de Cannes. Ele "chegou chegando", ao rasgar os puderes morais e os preconceitos inerentes à representação do Oriente nas telas, consagrando seu realizador, Chan-wook.

"Tenho uma relação muito forte com a palavra, pela literatura e, talvez, ela seja a responsável pelos trilhos narrativos que eu tento oferecer ao cinema: a trilha da imaginação, que se liberta nos livros, mas pode também nos libertar pela imagem", disse Chan-Wook ao Correio da Manhã, na Croisette, ao justificar seu interesse em filmar o romance "Na Ponta dos Dedos", da galesa Sarah Waters, que serviu de base para "A Criada".

Seu orçamento de US$ 8,8 milhões, alto para as cifras da Coreia do Sul, foi compensado com a arrecadação do longa na venda de ingressos, estimada em US$ 38,6 milhões. Antes desse suspense erótico que terá mais sessões em telas cariocas nos dias 2 e 7 de julho, ele foi ao Tennessee filmar "Segredos de Sangue" (2013) com Nicole Kidman, Matthew Goode e Mia Wasikowska. Quem quiser conhecer a obra do cineasta, não pode ignorar essa iguaria em língua inglesa, na grade da Disney .

No terreno das plataformas digitais, a Prime Video da Amazon e a Apple TV lançaram "Decisão de Partir", de olho no culto em torno de Chan-wook, que ganhou um novo colorido depois de "A Criada" levar 69 prêmios para a Coreia do Sul. Um deles foi o Bafta (o Oscar britânico) de Melhor Filme Em Língua Não Inglesa. Seu enredo pavimenta uma recriação histórica suntuosa.

De 1910 a 1945, a Coreia sentiu a baioneta dos exércitos japoneses em sua garganta, a cada palavra que era obrigada a dizer na língua de seus invasores, abrindo mão de sua soberania e de sua identidade. O roteiro de "A Criada", escrito por Chan-wook e Jeong Seo-kyeong, incrusta-se nos anos 1930 e escolhe uma intriga pautada nas artes de enganar e na engenharia do sexo como catarse para dissecar esse período histórico de garrote para sua pátria. Numa Seoul ocupada, um vigarista que opera sob a alcunha de "Conde Fujiwara" (Ha Jung-woo) planeja seduzir uma herdeira japonesa chamada Lady Hideko (Kim Min-hee), depois casar com ela e despachá-la para um sanatório a fim de roubar a sua herança para bancar seus caprichos. Para ajudá-lo na sedução da futura noiva, ele contrata Sook-heea (Kim Tae-ri) para se tornar a empregada de Hideko e encorajar a patroa a casar com ele.

Nesta sexta, às 20h30, a mostra "Quem Quer Queer?" do Estação Gávea, celebra os 20 anos de "O Segredo de Brokeback Mountain", que rendeu o Leão de Ouro para Ang Lee em 2005, além do Oscar de Melhor Direção, em 2006.