Depois que "Homem Com H" bateu a marca de 640 mil ingressos vendidos, coroando o apelo popular (outrora testado e aprovado) da produção nacional no âmbito das cinebiografias, o circuito exibidor se pergunta qual será o próximo recordista brasileiro de arrecadação de 2025, ano em que o país ganhou o Oscar com "Ainda Estou Aqui". O longa-metragem de Walter Salles zarpou pelas telas em novembro de 2024 e entrou janeiro adentro desbancando concorrências estrangeiras ao vender 5,8 milhões de entradas. "O Auto da Compadecida 2", lançado no Natal, fez 4 milhões de pagantes até março.
Já "Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa" foi o maior hit do país - entre as estreias deste ano -, com 1 milhão de tíquetes em caixa. Há quem diga que o próximo êxito da fila será "A Melhor Mãe Do Mundo", de Anna Muylaert, a ser lançado no dia 7 de agosto. Exibido na Berlinale, em fevereiro, quando teve sua primeira exibição mundial, o novo exercício autoral da realizadora de "Que Horas Ela Volta?" (2015) ganhou os prêmios de Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Atriz (dado ao desempenho de Shirley Cruz) em terras mexicanas, no Festival de Guadalajara, ao mesmo tempo em que venceu o Cine PE, no Recife. A saga de uma catadora de material reciclável (Shirley) que tenta salvar a filha e seu caçula do namorado abusivo (Seu Jorge) puxa um bonde de potenciais ímãs de plateia cheia.
Estima-se que a coqueluche verde e amarela do segundo semestre seja "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, que ganhou os troféus de Melhor Direção e Interpretação no Festival de Cannes, com Wagner Moura em estado de graça. Esse lançamento fica lá pra Oscar season, em 6 de novembro, de olho nos troféus da Academia de Hollywood. Na Croisette, saíram ainda o Prêmio da Crítica e o Prêmio da Associação dos Exibidores de Filmes de Arte e Ensaio para esse thriller. Na trama, um cientista (papel de Wagner) que é jurado de morte por conta de uma patente que fez no âmbito da universidade pública.
Vencedor do Grande Prêmio do Júri da Berlinale, "O Último Azul", de Gabriel Mascaro, abre o Festival de Gramado, no dia 13 de agosto e estreia 15 dias depois, com Denise Weinberg em atuação luminosa. Num Brasil distópico em que pessoas 70 são condenadas a isolamento em um campo de concentração, sua personagem central, Tereza, sobe rio acima, nos afluentes do Amazonas, em busca de liberdade. Rodrigo Santoro é seu barqueiro.
Agosto está logo ali, ok, mas, antes, neste julho que está para começar, uma pedida quente é "Um Lobo Entre os Cisnes", de Helena Varvaki e Marcos Schechtman. Sua trama revive a cruzada de consagração de Thiago Soares, um garoto do subúrbio carioca que deixa para trás o hip hop e embarca no mundo do balé clássico. O dançarino cubano Dino Carrera vira seu mentor e conduz seus passos para a glória.
No dia 21 de agosto, "Enforcados", de Fernando Coimbra, põe Leandra Leal e Irandhir Santos em rota de colisão com a máfia do Bicho no Rio. Na mesma data, Edmilson Filho brinca de 007 em "CIC - Central de Inteligência Cearense", a fim de salvar a comédia da mesmice.
Em 4 de setembro, nossa produção documental bate cabeça para os orixás com "3 Obás de Xangô", de Sérgio Machado, deu um banho de descarrego na Première ao relembrar a amizade entre o compositor Dorival Caymmi, o best-seller Jorge Amado e o artista plástico Caribé, uma trinca de orixás da Bahia. Esse 4/9 terá outra bênção das ancestralidades africanas: é a data em que "Malês", de Antônio Pitanga, entra em cartaz. Com base num enredo de Manuela Dias (autora da nova versão da novela "Vale Tudo") produzido por Flávio R. Tambellini, esse épico recria a Bahia do século XIX, em meados de 1830. Na ocasião, uma rebelião começou a ser arquitetada por africanos muçulmanos, chamados de malês. A revolta se passa no final do Ramadã, mês do calendário islâmico em que o jejum é uma forma de celebrar Alá. Após o fracasso dessa revolta, os manifestantes foram duramente punidos e a repressão contra as populações pretas no Brasil aumentou. Apesar disso, o exemplo de luta e de resistência deles marcou a História não apenas por uma aula de estratégia política, mas pelo simbolismo intelectual de um povo que combateu o açoite com boas ideias. Num elenco em estado de graça, com destaque para Camila Pitanga e Patrícia Pillar, Rodrigo de Odé explode em cena, triunfante, em várias sequências, numa atuação memorável.
Campeão de bilheteria na década passada, Leandro Hassum promete o que pode ser seu melhor trabalho de interpretação em "Silvio Santos Vem Aí", que a diretora Cris D'Amato lança em 31 de outubro. A produção relembra os tempos em que o Homem do Carnê do Baú sonhou ser presidente da República.
Para 11 dezembro, multiplexes de todo o país terão um réquiem para prestar a Cacá Diegues (1940-2025), que nos deixou em fevereiro, com a projeção de "Deus Ainda É Brasileiro", que foi rodado em Alagoas, em 2022. Antonio Fagundes volta ao papel do Todo-Poderoso na parte dois do longa de 2003, que vendeu 1,6 milhão de bilhetes num ano de pico para a Retomada. O nome ao lado, com R maiúsculo, é o termo usado para a fase compreendida entre 1995 e 2010, em que o país voltou a produzir longas depois de um hiato imposto pelo sucateamento da Embrafilme, a distribuidora criada em 1970. Seu marco zero foi "Carlota Joaquina, A Princesa do Brasil", de Carla Camurati, que volta ao circuito no dia 14/8 para comemorar seus 30 anos. Três décadas atrás, essa fita botou 1,2 milhão de pessoas para ver filmes com o Brasil no DNA. Pode repetir o feito de mobilizar multidões agora, em seu regresso.