Lá se vão 30 anos desde que "Toy Story" oficializou, aos olhos do mundo, o casamento da Pixar com a Disney, assegurando ao estúdio de Mickey Mouse uma usina de produzir sucessos, de infalibilidade altíssima (mas não 100%), como é o caso de "Elio", que chega às telas no feriado deste Corpus Christi para lotar cada milímetro do circuito exibidor. A direção, a seis mãos, é de Madeline Sharafian, Domee Shi e Adrian Molina, que unem talentos para narrar as confusões estelares de um guri de 11 anos.
O tal Elio do título é transportado galáxia afora e confundido com o embaixador intergaláctico do planeta Terra, enquanto trava amizade com um ser lá dos confins das estrelas. Pensou em "E.T., O Extraterrestre" (1982)? Pois é, o bagulho é nessa linha de afeto e fantasia, binômio que, ao longo da História mantém a empresa de Walt Disney no timão da venda de ingressos em salas de exibição. Ano passado, ela emplacou quatro longas no top ten dos maiores faturamentos do mercado audiovisual para circuito, sendo três deles com US$ 1 bilhão de faturamento: "Divertida Mente 2", o recordista absoluto de 2024, com US$ 1,6 bilhão de receita; "Deadpool & Wolverine", com US$ 1,3 bilhão; e "Moana 2", com US$ 1 bilhão e 59 milhões.
Seu quarto acerto, "Mufasa", sobre o pai do Rei Leão, contabilizou cerca de US$ 722 milhões. Seus executivos sonharam com o Oscar animado, mas perderam para "Flow", da Letônia. Perderam público também por conta do investimento na filosofia woke (de correção política extremada) com o recente "Branca de Neve". Ainda assim, Mickey deixou as demais megacorporações de Hollywood para trás e pode repetir o feito em 2025.
Antes de "Elio" chegar para renovar a munição da Disney, seu poderia de fogo mostrou-se bem eficaz com "Lilo & Stitch", a versão em carne e osso e efeitos visuais para o desenho animado de 2002. Sua renda, até domingo passado, beirava US$ 860 milhões em todo o planeta. Hoje, que não é Dia Santo (portanto, recesso oficial) nos EUA, novas atualizações de números serão publicadas por portais eletrônicos especializados como o "Box-Office Mojo", que analisa a economia do cinema. Até o momento, há dois filmes de super-heróis gestados sob a tutoria de Mickey no ranking dos 10 longas mais vistos planetariamente de janeiro até aqui: "Capitão América: Admirável Mundo Novo" (com US$ 415,1 milhões) e "Thunderbolts*" (com US$ 379 milhões). Ambos desapontaram - e muito - as redes de multiplexes (e mais ainda os fãs de HQ) com mudanças estruturais na mitologia da Marvel, motivadas pelo politicamente correto (e por baixa colaboração de cabeças nerds). Ainda assim, levantaram cifras imponentes.
Quem mantém a liderança do ano como filme que mais faturou nos últimos seis meses é um longa da China que investe no mesmo terreno animado (e fantástico) de Mickey: "Nezha: O Renascimento da Alma". Não tem astro conhecido em seu elenco de vozes, contudo, tem misticismo, ancestralidade e exotismo, coisas que Hollywood ambiciona ter, criando parcerias com cineastas de nacionalidades estrangeiras ou fazendo remakes de longas originalmente rodados em línguas que não o Inglês. Cercada de magia, a trama filmada pelo diretor Yang Yu, é a continuação de um filme de 2019. Em seu enredo, os espíritos dos jovens Nezha e Aobing se salvaram de uma catástrofe, mas seus corpos estão condenados a serem despedaçados. Um objeto sagrado, a lótus de sete cores, pode ajuda-los, só que essa flor é cercada de perigos, o que gera toda a sorte de peripécia na telona para agradar plateias de dentes de leite e de bocas banguela.
Para julho, a Disney volta a acenar para o coração do público com os superpoderes da Marvel, ao lançar "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos", com Pedro Pascal e Vanessa Kirby nos papéis do casal Sue e Reed Richards, às voltas com a entidade Galactus. Os trailers apavoram quem cresceu lendo essa HQ, mas... é aguardar e ver.
Quem quiser entender como se deu a imersão de Mickey na indústria pop deve ler "100 Anos do Império de Disney - Da Avenida Kingswell à Conquista do Universo", um tijolaço que se devora numa piscada d'olhos. O livro é fruto de uma ardorosa pesquisa feita pela crítica de cinema carioca Ana Carolina Garcia, que aborda a saga do estúdio fundado por tio Walt e seu irmão Roy. Já é possível comprar essa pérola literária via Amazon.