Coqueluche que bate e fica, o amor, esse objeto pontiagudo que fura e causa paixonite, ganha as luzes da ribalta a cada 12 de junho por conta do Dia dos Namorados, com um extra no 13/6 em função das comemorações do Dia de Santo Antônio, o casamenteiro dos Céus. Assim como "existem sempre duas solidões que se aguardam", como dizia o poeta Lindolf Bell (1938-1998), existe sempre um filme certo para aquecer um coração carente e um filme certo para derreter (mais ainda) o peito dos apaixonados. O Correio da Manhã lista aqui títulos que estão nas telas do circuito exibidor ou nas plataformas digitais como dica de programa a dois (ou a três, para os trisais) para comemorar esta data com muita cinefilia. Tá rolando a retrospectiva "Eu Sei Que Vou te Amar" nas salas do Grupo Estação o que já é um programão e hoje exibe "10 Coisas Que Odeio em Você" (1999), na Gávea, para rasgar miocárdios noventistas e contagiar as novíssimas gerações de lirismo. O rol de ofertas, contudo, é amplo. Saca só:
JUNE E JOHN ("June and John", 2025), de Luc Besson: Numa fase romântica, que inclui uma nova versão de "Drácula" já a caminho, o realizador de "La Femme Nikita" (1990) se arrisca, de novo, a falar do benquerer, tema de seu pouco citado (mas belo) "Um Anjo da Guarda" (2005), agora com foco no tédio nosso de cada dia e nas fissuras que o verbo amar causa nas inércias inerentes à rotina. Seu protagonista, John (Luke Stanton Eddy) vive na mais plena monotonia até trombar com June (Matilda Price), garota enigmática que rouba sua atenção. Fascinado por ela, John se vê imerso em um romance intenso, que o arrasta para uma jornada imprevisível. A montagem febril dos cults de Besson (como "Subway") se faz notar aqui. Onde: em circuito
DEIXE A LUZ DO SOL ENTRAR ("Un Beau Soleil Intérieur", 2017), de Claire Denis: Atração de abertura da Quinzena de Cineastas de Cannes, esse drama romântico flerta com a semiologia de Roland Barthes ao narrar as peripécias amorosas de Isabelle (Juliette Binoche), uma artista parisiense que corre atrás do amor verdadeiro ao fim de um casamento infeliz. Uma série de encontros e desencontros emotivos vai dar um tônus de derrota em sua procura pelo querer, envolvendo diferentes homens (muito deles abusivos) vividos por atores como Xavier Beauvois e Alex Descas. Lampejos de prazer e um analista doidão (Gérard Depardieu) adocicam a trilha de Isabelle. Onde: nas plataformas Reserva Imovision e Amazon Prime Video
O AMOR MANDOU MENSAGEM ("Love Again", 2023), de Jim Strouse: Céline Dion, canário belga do cancioneiro meloso, dá o ar de sua graça, em cena, atuando nesta love story rodada na Inglaterra e decalcada (como remake) do filme alemão de 2016 "SMS für Dich", baseado em um romance de 2009 de Sofie Cramer. A campeã de bilheteria indiana Priyanka Chopra Jonas é o destaque do elenco. Ela interpreta Mira, viúva que tenta aliviar a dor da morte de seu noivo enviando mensagens para seu antigo número de celular, sem saber que a linha já tem um novo dono. O atual titular, Rob (Sam Heughan), é um rapaz cético que, aos poucos, apaixona-se por Mira, à força de seus torpedinhos. Onde: na "Sessão da Tarde" da TV Globo, às 15h25
FALANDO DE AMOR ("Waiting to Exhale", 1995), de Forest Whitaker: Sucesso de público (custou US$ 16 milhões e faturou US$ 81 milhões), a adaptação da prosa de Terry McMillan foi estruturada a partir do carisma de Whitney Houston, então no auge de sua popularidade. Ela, Angela Bassett, Loretta Devine e Lela Rochon são quatro amigas feridas em suas escolhas amorosas. Wesley Snipes é um dos destaques do elenco. Onde: Disney
ELISA E MARCELA ("Elisa & Marcela", 2019), de Isabel Coixet: Uma das maiores diretoras em atividade na Europa hoje, a cineasta catalã desafia tabus nesta produção indicada ao Urso de Ouro da Berlinale. Com o apoio das talentosas Natalia de Molina e Greta Fernández, Isabel regressa ao ano de 1901, quando Elisa Sanchez Loriga adotou uma identidade masculina, fingindo ser homem, para se casar com seu grande amor: a jovem Marcela. Onde ver: Netflix
AMOR À FLOR DA PELE ("In The Mood For Love", 2000), de Wong Kar-Wai: Poema sinestésico com Nat King Cole em sua trilha sonora, esta coprodução de US$ 3 milhões entre Hong Kong e França faturou cinco vezes mais e conquistou 45 láureas, entre elas o prêmio de Melhor Ator do Festival de Cannes, dado a Tony Leung. Sua recriação da década de 1960 utiliza referências do próprio cinema como base. Em 1962, o jornalista Chow Mo-wan (Leung) e a secretária Su Li-zhen (Maggie Cheung) alugam quartos em apartamentos adjacentes. Cada um tem um cônjuge que frequentemente trabalha até tarde, deixando-os sozinhos durante os turnos extras. Eles se aproximam ao perceberem que seus cônjuges estão tendo um caso. Uma vez que a mulher dele transa com o marido dela, por que eles não podem ensaiar um idílio? O problema é que o Cupido é maroto. A fotografia de Christopher Doyle também. Onde: Estação NET Botafogo, 19h
O DIA QUE TE CONHECI, de André Novais Oliveira: Distante da estética de invenção que deu fama a seu diretor em "Quintal", essa RomCom (comédia romântica) mineira devassa clichês do gênero ao incorporar fracassos (profissionais, existenciais) e comprimidos em sua dramaturgia com ecos de Hong Sangsoo. Num misto de humor, angústia e romantismo, André narra um pedacinho da vida atribulada de Zeca (Renato Novaes), um bibliotecário que luta para manter o trabalho e a paz, numa jornada que será coroada por um encontro com Luísa (Grace Passô). O filme ganhou o Prêmio do Júri do Festival do Rio de 2023. Onde: Globoplay
30 NOITES COM A MINHA EX ("30 Noches Con Mi Ex", 2022), de Adrián Suar: Dirigido por um dos comediantes de maior prestígio na Argentina, essa comédia romântica foi um fenômeno popular, apoiada no carisma de Pilar Gamboa. Ela e Suar vivem um casal separado há três anos, com uma filha adulta. Ele, Turbo, é um investidor de sucesso na bolsa de valores. Ela, Loba, é cantora. Mas sua vida foi pro beleléu depois que ela passou por surtos esquizofrênicos dos quais não se recuperou. A fim de ajudá-la, sua psiquiatra recomenda que Loba passe um mês morando com Turbo. O problema é que essa volta dela ao lar gera desastre. Onde: Disney
FOLHAS DE OUTONO ("Fallen Leaves"), de Aki Kaurismäki: Comédia triste laureada com o Prêmio do Júri de Cannes e com o Grand Prix Fipresci em San Sebastián. Seu diretor, o mestre finlandês das narrativas agridoces, escancara a ferida da Guerra da Urânia de maneira brilhante em seu novo roteiro, sempre propondo uma comicidade agridoce. Na narrativa, há um rádio sempre com notícias contra a Rússia ligado na casa da protagonista, Ansa (Alma Pöysti). Primeiramente, ela aparece no enredo como funcionária de supermercado, depois disso, vira faxineira de bar e, por fim, torna-se operária de fábrica. Sua vida é monótona, solitária e embolorada. Até as lasanhas congeladas que compra dão mofo. Tudo muda quando ela se encanta por um homem que conhece num karaokê, vivido pelo brilhante Jussi Vatanen. Ele também se encanta por ela. Seu problema: o boy bebe. Muito. O porre da paixão, contudo, derruba mais. Onde: na plataforma MUBI
EU SEI QUE VOU TE AMAR (1986), de Arnaldo Jabor: Fernanda Torres ganhou o prêmio de Melhor Interpretação Feminina em Cannes por este tocante parlatório do realizador de "Tudo Bem" (1978). Na trama, um casal que se conheceu na juventude (Fernanda e Thales Pan Chacon) se separa após dois anos. Três meses depois, decidem se reencontrar e, ao longo de uma longa noite, mergulham em uma conversa profunda sobre amar. Por meio de risos, lágrimas e lembranças, eles revisitam os momentos mais marcantes de sua história. A delicada fotografia de Lauro Escoral dá requinte ao papo. Onde: Estação NET Botafogo, 21h