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O valor de 'Pi' de Darren Aronofsky

Ellen Burstyn em 'Requiém para um Sonho, do realizador novaiorquino Darren Arofonosky, que completa 25 anos e ganha exibição nas telas do Festival de Tribeca | Foto: Divulgação

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Nos ajustes finais para a estreia de seu esperado "Ladrões" ("Caught Stealing"), em 28 de agosto, Darren Aronofsky tem uma série de reencontros com seu passado de acertos em sua agenda de junho, incluindo um compromisso com o Festival de Tribeca, em NY, nesta terça. À noite, ele reencontra a nonagenária estrela Ellen Burstyn para uma sessão da cópia restaurada de "Réquiem Por Um Sonho", drama barra pesada sobre dependência química (e não só) que lhe valeu um espaço nobre nas telas de Cannes, em 2000.

Os 25 anos do longa, um dos cults da carreira do cineasta - que redefiniu seu prestígio ao ganhar o Leão de Ouro de Veneza em 2008 por "The Wrestler - O Lutador" - serão celebrados nessa conversa nova-iorquina com Ellen e o ator Brendan Fraser. Ele ganhou o Oscar por seu desempenho (sob a batuta de Darren) em "A Baleia", adaptação da peça homônima de Samuel D. Hunter, hoje em cartaz no Rio, no Teatro Adolpho Bloch, com José de Abreu no papel central.

Em visita ao Rio, na semana passada, Samuel conversou com o Correio da Manhã sobre as trocas com o cineasta americano que produziu o único longa-metragem brasileiro a ganhar a Concha de Ouro no Festival de San Sebastián, na Espanha: "Pacificado", de Paxton Winters.

"Quando escrevi 'The Whale', em 2009, nunca sonhei que se tornaria um filme. Darren começou a conversar comigo sobre isso em 2012, portanto, a colaboração foi muito longa. Acho que Darren é um exímio contador de histórias, mas também é um dos melhores fotógrafos que existem - ele tem um olhar tão apurado que não deixa passar nada", disse Samuel. "Portanto, tudo no filme foi meticulosamente elaborado, a ponto de Darren me pedir para decidir quais livros Charlie (o personagem de Fraser, hoje interpretado por Abreu) deveria ter em sua biblioteca pessoal. Ainda é uma loucura para mim o fato de milhões de pessoas terem assistido ao filme. É quase impossível para mim entender isso".

Pois é, Samuel, com Darren sucessos acontecem, vide "Cisne Negro", que ele lançou há 15 anos. Orçado em US$ 15 milhões, a saga de uma bailarina que enlouquece em seu excesso de perfeccionismo faturou US$ 323 milhões e rendeu o Oscar a Natalie Portman. Depois ele rodou o bíblico "Noé" (2014), com Russell Crowe, que custou alto (US$ 125 milhões), mas arrecadou bonito (US$ 359 milhões).

"Eu sou um realizador de filmes de baixo orçamento nos Estados Unidos. Um realizador que escolheu falar sobre os demônios internos das suas personagens, fascinado por figuras que me capturam por sua profundidade", explicou Darren ao Correio quando lançou "A Baleia". "Por meio da engenharia sonora do meu cinema, eu conecto com a plateia a partir do aspeto mais sensorial da imagem em movimento".

Laureado com o Prêmio de Melhor Direção no Festival de Sundance de 1998 com "Pi", que fez dele um farol nas narrativas indie dos EUA, Darren terá que revisitar a descida ao inferno (da droga) com os personagens de "Réquiem Por Um Sonho" na telona de Tribeca. Essa adaptação da prosa homônima de Hubert Selby Jr. (1928-2004) rendeu uma indicação ao Oscar para Ellen Burstyn pelo papel de Sara Goldfarb, mãe judia viúva que passa os dias a ver um programa de variedades (tipo o "Roletrando" de Silvio Santos) na TV. A hipótese de ser chamada para esse jogo televisivo a leva a viciar em remédios para emagrecimento ao mesmo tempo em que seu filho, Harry (Leto), emburaca nos narcóticos injetáveis ao lado da namorada artista plástica (Connelly) e de um amigo da vizinhança (Marlon Wayans). Tudo isso é narrado ao som da hipnótica melodia "Summer Overture", de Clint Mansell, tocada pelo Kronos Quartet.

"Eu reluto para rever os meus filmes antigos", disse Darren ao Correio. "Revi 'Requiem…' faz pouco tempo, quando sua cópia em Blu-Ray saiu, e me lembrei da sensação que tive em cada cena que filmei. Gostei de voltar a elas".

Tribeca segue até domingo em Nova York. O filme candidato a hit do evento é a comédia romântica "The Best You Can", de Michael J. Weithorn, com o casal Kyra Sedgwick e Kevin Bacon. Ele vive Stan Olszewski, um segurança que frustra uma tentativa de roubo na residência da urologista Cynthia Rand (Kyra). Uma amizade intensa se desenvolve entre eles a partir de mensagens de texto bem-humoradas, enviadas tarde da noite. O aprofundamento do vínculo entre eles abala a vida de ambos... para o bem.