Alçada à condição de estrela na versão do seriado "As Panteras" para a telona, em 2000, e eternizada como vilã ao som de "Don't Let Me Be Misunderstood" em "Kill Bill: Volume 1" (2003), Lucy Liu vai dar um passo além na carreira nesta sexta-feira, numa produção com cheiro de Oscar: "Rosemead". Situado no coração do San Gabriel Valley, com base numa história real, o filme é a saga de uma imigrante chinesa com doença terminal que descobre a perturbadora fixação de seu filho adolescente por tiroteios em massa. À medida que sua saúde se deteriora, ela toma medidas cada vez mais desesperadas - e moralmente complexas - para protegê-lo e enfrentar as trevas que o atraem.
O enredo é perfumado de polêmica. Não por acaso, sua plataforma de lançamento mundial será um festival que serve de casa à controvérsia desde seu berço: Tribeca. Nova York é sua sede e reaprendeu a repensar a dimensão política da imagem em movimento com as programações sempre provocativas deste evento, que abriu as portas de sua edição de 2025, na quarta, com o documentário "Billy Joel: And So It Goes", de Susan Lacy e Jessica Levin, sobre o bardo das baladas românticas.
Apesar da força de Sundance e do sucesso recente do SXSW, em Austin, o festival de cinema dos EUA que mais e melhor sintetizou as lutas do audiovisual do século XXI - incluindo pelejas antirraciastas, lutas contra a trans/homofobia e a guerra antissexista por equidade de gêneros - foi Tribeca. Sua história começou em 2002, graças ao empenho do ator Robert De Niro. Touro Indomável do audiovisual americano, ele fundou a maratona cinéfila nova-iorquina em parceria com a produtora Jane Rosenthal e o investidor Craig Hatkoff, em resposta à tragédia do 11 de Setembro.
Seu intuito era levantar o moral da cidade a partir de uma celebração da diversidade fílmica. Sua mais famosa descoberta foi "Deixa Ela Entrar" (2008), do sueco Tomas Alfredson, uma das histórias de vampiro mais invejados deste século. Por sua aposta nas expressões narrativas mais indies, o festival virou grife de invenção tendo o astro de "Taxi Driver" (1976) como mecenas.
Tribeca já colheu grandes filmes em sua história, incluindo títulos brasileiros como "Festa de Margarette", de Renato Falcão; "Santiago", de João Moreira Salles; "Elvis & Madona", de Marcelo Laffitte; "Califórnia", de Marina Person; "Marte Um", de Gabriel Martins; e "Estranho Caminho", de Guto Parente. Na edição deste sábado, o Brasil passa por NY com "Pavilhão", de Victoria Fiore. No Rio de Janeiro, Aleksia faz uma viagem no tempo, revelando as origens do samba numa conexão com a ancestralidade africana.
A pedida desta sexta em Tribeca é a produção francesa "A Second Life", de Laurent Slama. No enredo, Elisabeth (Agathe Rousselle) é uma mulher deprimida que trabalha para uma empresa de hotelaria em Paris, levando turistas, muitas vezes rudes, aos seus apartamentos alugados para os jogos olímpicos - um trabalho estressante que a faz viajar pela cidade. O único alívio que ela tem é desconectar seu aparelho auditivo e observar os "Nenúfares" de Monet. No entanto, tudo muda quando ela conhece um jovem viajante de espírito livre (Alex Lawther) que traz a alegria e a aventura necessárias para sua vida enquanto a cidade ao redor deles fervilha de energia.
Neste sábado, Tribeca acolhe a estreia do que pode ser seu maior hit: a comédia romântica "The Best You Can", de Michael J. Weithorn, com o casal Kyra Sedgwick e Kevin Bacon. Ele vive Stan Olszewski, um segurança que frustra uma tentativa de roubo na residência da urologista Cynthia Rand (Kyra). Uma amizade intensa se desenvolve entre eles a partir de mensagens de texto bem-humoradas, enviadas tarde da noite. O aprofundamento do vínculo entre eles abala a vida de ambos... para o bem.
Na semana que vem, Tribeca recebe da Berlinale "Esperando Liat" ("Holding Liat"), de Brandon Kramer, que saiu do maior fesival da Alemanha com o Prêmio de Melhor Documentário. Seu realizador faz uma eletrizante análise observacional do paiol de pólvora que o Oriente Médio pode ser. Seu foco é o sofrimento de uma família com quem tinham uma conexão prévia. Depois que a guia de turismo Liat Beinin Atzili foi raptada, em Kibbutz Nir Oz, em 7 de outubro de 2023, seus parentes - os israelenses e os americanos - enfrentam uma fase de horror, com medo de que ela seja assassinada. Seus entes queridos se unem para lutar pela sua libertação e pelo futuro de um projeto político de nação. Em Berlim, Kramer ganhou ainda o Prêmio do Júri Ecumênico pela forma como condensa a angústia de uma espera.
A maratona nova-iorquina deste ano vai até 15 de junho. O encerramento fica por conta de uma coprodução documental entre Áustria, EUA, Canadá, Alemanha e Brasil, dirigida por Richard Ladkani com foco no Pará: "Yanuni". Sua protagonista é a cacique paraense Juma Xipaia em sua luta para proteger as terras indígenas de seus parentes Takumãs. Sua luta se intensifica quando ela descobre que está grávida.