Depois da consagração de "O Agente Secreto" em Cannes, com quatro láureas para o filme do pernambucano Kleber Mendonça Filho no mais prestigiado festival do mundo, nosso cinema pode ter mais um blockbuster a caminho, neste momento em que "Homem Com H" tateia a marca de 550 mil ingressos vendidos. Em meio ao fenômeno "Ainda Estou Aqui", que ganhou o Oscar e vendeu 5,8 milhões de tíquetes, "O Auto da Compadecida 2" contabilizou 4,2 milhões de pagantes e "Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa" passou da marca de 1 milhão de entradas vendidas.
Em 31 de julho, Edimilson Filho pode lotar salas com a chanchada pé na cara "C.I.C. - Central de Inteligência Cearense" e, no início de agosto, a diretora Anna Muylaert chega com força ao écran com "A Melhor Mãe Do Mundo", que bombou na Berlinale. Por lá, o Brasil foi laureado com o Grande Prêmio do Júri por "O Último Azul", que estreia em setembro com Denise Weinberg a buscar a felicidade Amazônia adentro.
O panorama pro nosso país é dos mais fortes em circuito, mas chegamos à chamada Summer Season, a temporada do verão estadunidense, quando potenciais fortunas com CEP nos EUA se aboletam nos multiplexes do planeta. A bola da vez é a versão em carne e osso do desenho de 2002 "Lilo & Stitch". Ao longo de uma semana, seu faturamento arranha a casa dos US$ 400 milhões neste ano em que Hollywood sua a camisa para disputar o topo do pódio dos maiores faturamentos cinematográficos.
O primeiro lugar de 2025 está ocupado pela China: a animação "Nezha: O Renascimento da Alma". Sua receita beira US$ 1,9 bilhão a um custo de produção cinco vezes menor do que uma animação da Disney, por exemplo. Cercada de misticismo e ancestralidade asiática, a trama animada por Jiao Zi é a continuação de um filme de 2019. No enredo, as almas de Nezha e Aobing se salvaram de uma catástrofe, mas seus corpos estão condenados a serem despedaçados. Um objeto sagrado, a lótus de sete cores, pode ajuda-los, mas trata-se de um fetiche cercado de perigos.
O nº 2 do ranking, encarado hoje como o maior acerto hollywoodiano deste primeiro semestre, é "Um Filme Minecraft", de Jared Hess. Sua receita está em US$ 940,6 milhões. Seu maior apelo é a conexão do longa com uma linha de videogames que alfabetizou gerações de crianças nos últimos 14 anos, mas a figura de Jack Black, em estado de graça, ajuda um bocado.
Buscado meios de salvar filmes de super-heróis baseados em HQs da falência anunciada, vide o desastre comercial do último "Capitão América" e seu Hulk Vermelho, a Meca americana do cinemão tem constatado que jogos eletrônicos podem ser a maior (e mais rentável) diversão. "Super Mario Bros." (2023) faturou US$ 1,3 bilhão quando se esperava bem menos dele. A franquia "Sonic" (2020-2024) não cessa de dar lucro, tendo arrecadado US$ 1,2 bilhão. Projetos ainda em gestação pautados por games, como a versão para as telonas de "Fantasma de Tsushima", movimentam multidões nas redes sociais. Em meio a esse cenário, "A Minecraft Movie" veio para ficar. Custou alto (US$ 150 milhões), mas já faturou alto também. Entre nós, somou cerca de 5,4 milhões de espectadoras/es.
O fenômeno é calçado no apelo infantojuvenil do jogo criado em 2011 pelo Mojang Studios, que refaz a realidade a partir de uma geometria de cubo. Há nele algo do "Jumanji" (1995) original: um clima pueril de peripécias sem fim. Um tempero de bom humor em pitadas generosas amplia o paladar de uma narrativa de correrias, que tem a função (importante) de atrair plateias mirins, de dentes de leite, para descobrir o cinema e aprender a amá-lo.
A premissa central é a do desajuste. Há um grupo de pessoas solitárias em cena: os irmãos Natalie e Henry (Emma Myers e Sebastian Hansen); a corretora e fã de animais Dawn (Danielle Brooks); e o ex-craque de videojogos "The Garbage Man" Garrison (Jason Momoa). Por razões distintas, eles esbarram com uma mina que os transporta para o mundo mágico de Overworld, onde tudo é cúbico. Lá, encontram um humano perdido, Steve (papel de Jack Black), em busca de meios para voltar à Terra. Ele finge pactuar com as criaturas que dominam aquela realidade do avesso, mas acaba ajudando a turma recém-chegada a encontrar um veio de voltar, numa dinâmica de correrias com viradas sucessivas. Até dezembro, Black há de arrancar mais uma fortuna em dólares com a estreia do remake de "Anaconda". A seu lado está Selton Mello, um fazedor de blockbusters brasileiros.
Lançado em Cannes, "O Acerto Final", o (suposto) desfecho da franquia "Missão: Impossível", com Tom Cruise, já arrecadou cerca de US$ 230 milhões, mas nem de logo faz jus ao que se esperava de seu astro. Agora em junho, dois potenciais hits - "Elio", da Disney, "Extermínio: A Evolução", com Ralph Fiennes - devem dar dinheiro. O novo Super-Homem, que será lançado em 10 de julho, com David Corenswet no papel de Clark Kent, é a superprodução que mais (e melhor) periga trazer alegrias para o cinemão. No âmbito das surpresas, o achado do ano, para o mercado, foi "Pecadores" ("Sinners"), de Ryan Coogler, com Michael B. Jordan a combater vampiros e a Ku Kux Klan numa narrativa antirracista.