"'O Agente Secreto' teve um financiamento inicial via Estados Unidos que não foi pra frente, e nos encontramos no final de 2022 tendo que reconstruir um orçamento do zero", conta Emilie Lesclaux.
Ambientado em meio à era do general Ernesto Geisel (1907-1996) no poder, em 1977, "O Agente Secreto" tem Wagner Moura como protagonista. O astro da série "Narcos" encarna Marcelo, um especialista em tecnologia que foge de um passado misterioso e volta ao Recife em busca de paz. Ele logo percebe que a cidade está longe de ser o refúgio que procura.
Ao lado de Wagner estão Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Hermila Guedes, Thomás Aquino, Alice Carvalho, Edilson Filho e o alemão Udo Kier.
O filme é uma coprodução Brasil (CinemaScópio Produções, de Emilie e de Kleber), França (MK Productions), Holanda (Lemming) e Alemanha (One Two Films) e terá distribuição em circuito brasileiro da Vitrine Filmes.
"Começamos o processo de procurar fundos no Brasil, com a nossa distribuidora, a Vitrine", diz Emilie. "Em Cannes, novamente, começou uma parceria com a MK Productions, e alguns meses depois, com a One Two Films (Alemanha) e a Lemming Film (Holanda). Nosso equipamento de câmera ARRI, com lentes Panavision dos anos 1970, veio da França, assim como a nossa diretora de fotografia, Evgenia Alexandrova, e realizamos boa parte da pós produção na Europa. Gravamos a trilha sonora num estúdio maravilhoso em Amsterdam (STMPD) e fizemos correção de cor na Rotor, nos Estúdios Babelsberg na Alemanha. Nós mixamos o filme em Paris, com o grande Cyril Holtz", detalha a produtora.
"Tudo foi contribuindo para novas camadas criativas num filme que continua extremamente brasileiro... pernambucano. Aliás, uma das coisas mais belas foi ver franceses assobiando um frevo e ver um alemão aperfeiçoando a cor de um ônibus elétrico dos anos 1970", recorda.
Quando lançou "Retratos Fantasmas", um estudo sobre a memória, dirigido por Kleber a partir de fotos - sobretudo de antigas salas de projeção, a maioria de rua, hoje fechadas ou substituídas por farmácias ou templos -, Emilie contou ao Correio como construiu sua brasilidade.
"Lembro de descobrir o Cinema do Parque e o Cinema São Luiz quando cheguei em 2002. Lembro de ficar maravilhada com a beleza desse patrimônio e entender também a importância dessas salas como espaços de formação e de valorização do cinema nacional, do cinema pernambucano", disse Emilie à época. "Ver 'Cidade de Deus' e 'Amarelo Manga' nessa época, no centro da cidade, foi uma experiência incomum. Também vivi como produtora a exibição dos nossos filmes nessas salas, e ver as filas de pessoas querendo assistir a 'Bacurau' darem a volta do quarteirão do Cine São Luiz foi algo emocionante".
Nesta segunda, na seção Cannes Classics, o festival acolhe "Para Vigo Me Voy!", um documentário sobre Cacá Diegues (1940-2025) dirigido por Karen Harley e Lírio Ferreira. A data bate com o aniversário do diretor de "Chuvas de Verão" (1978), que faria 85 anos na segunda.
Cannes encerra seus trabalhos no dia 24, com a entrega da sempre cobiçada Palma de Ouro e 'O Agente Secreto' renova as esperanças brasileiras pela premiação.