Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

Farol do Velho Mundo em telas cariocas

'Misty' mostra a vida e carreira de Errol Garner, um gigante do jazz | Foto: Gachot Films

Sacudido no início desta semana por um apagão na Península Ibérica, o Velho Mundo segue de luzes acesas em nosso circuito graças ao Festival de Cinema Europeu Imovision, que fecha sua programação nesta quarta-feira, às vésperas do feriado do Dia do Trabalho, com uma seleção de peso. O maior achado do garimpo que Jean Thomas Bernardini (o organizador do evento) fez, ao fuçar as pérolas da Berlinale, na Alemanha, é o thriller "A Arte do Caos" ("Verbrannte Erde"), de Thomas Arslan. Trata-se de um tenso estudo sobre o crime. O Cine Santa Terea exibe uma sessão dele esta noite, às 19h10. É pegar ou largar. Em seu enredo, o bandido Trojan (Misel Maticevic) volta à capital alemã depois de um exílio de 12 anos, em busca de uma fonte de renda ilícita. A atravessadora Rebecca (Marie-Lou Sellem) oferece ao criminoso, que está falido e precisando de oportunidades, uma proposta lucrativa: roubar um quadro de Caspar David Friedrich (1774 -1840) de um museu. Tudo parece promissor para a empreitada, mas o cliente e um de seus mais violentos capangas têm planos próprios para a pintura. Assim, o assalto que havia sido meticulosamente planejado sai do controle. Resultado: adrenalina.

Para quem curte a estética documental da Europa, a boa do dia vem lá da Suíça: o filmaço de não ficção "Misty - A História de Erroll Garner". Suas projeções serão às 16h (no Knioplex São Luiz) e às 18h30 (no Estação Net Rio). Seu realizador, Georges Gachot, é entusiasta da música popular brasileira, como se nota em filmes como "Onde Está Você, João Gilberto", de 2018, e "Maria Bethania: Música É Perfume", de 2005, que fizeram sua fama.

Gachot estruturou a fita a partir de um hit. Gravada originalmente em 1954, "Misty" virou a trilha sonora de muitos amores e inspirou até filmes de culto, o que deu ao seu idealizador, o pianista Erroll Garner (1921-1977), lugar entre os autores dos grandes standards do jazz nos EUA. Há, entretanto, um lado doloroso na sua trajetória pessoal e profissional do qual pouco se sabe e que levou o documentarista franco-suíço a retratar a sua vida num exercício biográfico regado de poesia.

Várias salas, entre elas o CineCarioca José Wilker (às 17h50) e o Cinemark Donwtown (às 18h40), agendaram para neste 30 de abril o ganhador do Urso de Ouro do Festival de Berlim deste ano, "Dreams (Sex Love)", do norueguês Dag Johan Haugerud, cineasta nascido em Eidsberg há 60 anos. Seu enredo faz ele faz uma ode à literatura ao narrar o processo de escrita de uma adolescente (papel de Ella Overby) no registro (em prosa) de suas fantasias sentimentais por uma mulher mais velha, que jamais a enxerga com desejo.

Da Grécia, o Festival Imovision buscou "Síndrome da Apatia" ("Quiet Life"), do realizador Alexandros Avranas. Passa às 17h15, no Cinesystem Botafogo. Em seu roteiro, Sergei e Natalia são refugiados políticos que imigraram para a Suécia com suas duas filhas, Katja e Alina, em busca de uma nova vida. Suas esperanças são destruídas quando o pedido de asilo deles é rejeitado. Sua filha Katja, traumatizada por esse episódio, desmaia e subitamente entra em um coma, desenvolvendo uma condição conhecida como Síndrome de Resignação, explicada como uma autoproteção contra o sentimento de medo. Sergei e Natalia tentarão de tudo para conseguir o asilo e criar a atmosfera segura que sua filha precisa para despertar.