Ciente de ter marcado um golaço em prol das salas de exibição quando adquiriu o ganhador do Urso de Ouro da última Berlinale, a distribuidora Imovision ficou confiante no apelo comercial de sua dimensão romântica e assegurou uma série de sessões da joia norueguesa "Dreams (Sex Love)", em diferentes cidades brasileiras. Há 35 praças ao todo na grade de seu Festival de Cinema Europeu, que serve como um aperitivo para a futura estreia desse longa-metragem, e de outras atrações como "Emmanuelle", de Audrey Diwan, e "A Luz", de Tom Tykwer. Dag Johan Haugerud, cineasta nascido em Eidsberg há 60 anos, é quem assina a direção desse drama sobre o benquerer. Na quarta, há sessões dele no Rio agendadas no Cine Santa Teresa (17h); no CineCarioca José Wilker (17h50); nos Kinoplexes Leblon (18h45) e Fashion Mall (17h45); e no Cinemark Downtown (18h40). Essa mostra com a mirada voltada para o Velho Mundo se encerra no dia 30. Nessa data, o xodó do Festival de Berlim tem mais uma sessão em Niterói, no Reserva Cultural, às 17h40.
Em fevereiro, a produção explodiu nas telas da competição oficial da Berlinale como o mais fofo dos concorrentes exibidos. Formou-se um fã-clube em torno desse painel geracional da juventude escandinava que o define como um retrato essencial para o amor queer. Na ativa desde 1998, Dag virou um ímã de holofotes depois de sua vitória na Alemanha. "Acredito que saber olhar o outro é um caminho essencial para se criar uma dramaturgia que traduza o nosso tempo", diz Haugerud ao Correio, apoiado na força de um elenco encabeçado pela jovem Ella Overbye e pela veterana Anne Marit Jacobsen.
Enxuto, "Dreams (Sex Love)" é parte de um projeto que Dag idealizou a fim de entender modos de amar, de gozar e de temer o querer. Ele integra uma trilogia antecedida por "Sex" e "Love", ambos de 2024, já lançados por aqui. Antes, a notabilidade do cineasta vinha de "Nossas Crianças" (2019). Agora, assume um lugar de relevo no audiovisual de uma pátria conhecida pela diva bergmaniana Liv Ullmann. Seu país gerou vozes autorais como Joachim Trier ("A Pior Pessoa Do Mundo"), Erik Poppe ("Utoya 22 de Julho"), Maria Sodahl ("Ficaremos Bem"), Kare Bergstrom ("O Lago dos Mortos") e Hans Petter Moland (de "O Cidadão do Ano").
"Embora a Noruega seja um país de mente aberta, enfrentamos questões em nosso dia a dia, ligadas à aceitação a angústias comportamentais, que são desafiadoras", disse Haugerud.
Na trama de "Dreams (Sex Love)", ele faz uma ode à literatura ao narrar o processo de escrita de uma adolescente (Ella) no registro (em prosa) de suas fantasias sentimentais por uma mulher mais velha, que jamais a enxerga com desejo. "Se a partir do exercício literário, uma pessoa for capaz de reescrever quem é, ela pode criar uma representação melhorada de si melhor", disse Haugerud. "A literatura é um instrumento de reinvenção".