Por: Affonso Nunes e Rodrigo Fonseca

Fernanda Montenegro: 'Ela é um ser humano absoluto. E bem brasileiro'

Fernanda Montenegro estrela 'Vitória', que puxa um bonde potenciais sucessos nacionais para 2025 | Foto: Suzanna Tierie/Divulgação

Estreia nesta quinta-feira (13) um dos filmes mais aguardados da safra de longas brasileiros de 2025. Trata-se de "Vitória", com Fernanda Montenegro, a grande dama das artes cênicas brasileiras. Aos 95 anos, a atriz afirma que sua nova personagem reflete a conjuntura social do Brasil. "Ela é uma porta-voz do momento em que se vive no país, da miséria, dos que não têm para onde ir", disse a veterana atriz em entrevista ao Fantástico (TV Globo) exibida no último domingo (9).

Dirigido por Breno Silveira e Andrucha Waddington, o longa narra a história real de uma mulher idosa que, da janela de seu apartamento em Copacabana, observa as movimentações do tráfico de drogas. Ela se une a um jornalista, interpretado por Alan Rocha, para denunciar o esquema. O elenco ainda conta com Linn da Quebrada, Laila Garin e Thawan Lucas.

"Um ser humano absoluto. E bem brasileiro esse ser humano. Ela não é uma sofrida, melodramaticazinha", disse Fernanda sobre sua personagem. O projeto teve início sob a direção de Breno Silveira, que faleceu repentinamente no primeiro dia de filmagens, sendo sucedido pelo amigo Andrucha Waddington, genro de Fernanda - ele é casado com Fernanda Torres.

No longa, a atriz interpreta Dona Nina, uma aposentada que combate uma quadrilha de traficantes e policiais corruptos. O filme é baseado na trajetória real de Joana da Paz, uma senhora que, com sua câmera VHS, desmascarou a quadrilha da janela de seu apartamento. Sua identidade foi mantida em sigilo por 17 anos, até sua morte em 2023, após o término das filmagens.

Com roteiro de Paula Fiúza, "Vitória" é inspirado no livro "Dona Vitória Joana da Paz", do jornalista Fábio Gusmão. O longa promete emocionar o Brasil a partir de sua uma narrativa poderosa sobre coragem, resiliência e o impacto transformador contido na luta de uma única pessoa por justiça.

É mais um personagem marcante para a trajetória única dsta atriz com talento do tamanho do Brasil.

 

Fernanda Montenegroé a maior diversão

'Central do Brasil' | Foto: Instituto Moreira Salles

 

Apoiado na mise-en-scène mais delicada de Andrucha Waddington desde "Eu, Tu Eles" (um dos achados do Festival de Cannes de 2000), "Vitória" chega este fim de semana aos cinemas a fim de ampliar a estrada de lucros do cinema brasileiro em 2025. A rota do milhão foi pavimentada pelo ganhador do Oscar "Ainda Estou Aqui", por "O Auto da Compadecida 2" (hoje na Amazon Prime) e por "Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa".

A presença luminosa de Fernanda Montenegro no papel central é um chamariz de plateias. Sua personagem, a massagista Nina, é baseada no caso verídico de Joana da Paz, aposentada que desmascarou uma quadrilha de traficantes e policiais corruptos, na Ladeira das Tabajaras, na Zona Sul do Rio, com filmagens em fitas VHS. Incluída no Serviço de Proteção à Testemunha, Joana mudou de nome (e de lar) e teve sua identidade mantida em sigilo por 17 anos, até morrer em 2023, após o término das filmagens do longa.

Esse lançamento abre deixas para que a obra vastíssima de "Fernandona" nas salas de exibição seja revisitada, com o auxílio das plataformas de streaming. O rosto dela está por todo lado na streaminguesfera.

Indicado ao Urso de Ouro e ao Oscar, em 1998, "O Que É Isso, Companheiro?", de Bruno Barreto, abre para maior diva de nossos palcos os holofotes da MUBI. Sua participação é pequena, mas rouba aplausos numa adaptação da prosa de Fernando Gabeira sobre os Anos de Chumbo.

Na Amazon Prime, é possível vê-la brilhar num filmaço que teve sua carreira atropelada pela pandemia: "Piedade" (2019), de Claudio Assis. O título se aplica a uma praia, que é alvo do apetite predatório de uma corporação interessada em ocupar paraísos naturais e fazer deles chão para suas explorações econômicas. Um executivo de índole cruel, Aurélio (Matheus Nachteragele), tenta adquirir aquele Éden litorâneo enquanto curte os prazeres da carne com Sandro (Cauã Reymond), dono de um cinema pornô. O exibidor vivido por Cauã serve de ponto de interseção com a anciã sabia interpretada por Fernanda.

Ainda na Prime Video da Amazon encontra-se "Eles Não Usam Black-Tie", que rendeu a Leon Hirszman (1937-1987) o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica do Festival de Veneza de 1981. Sua sequência mais emblemática traz Montenegro catando feijão, na mesa da cozinha, ao lado de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), autor da peça que inspirou o longa.

Na Netflix, "Central do Brasil", ganhador do Urso de Ouro de 1998, encontra um lar. Fernanda ganhou o prêmio de melhor interpretação do Festival de Berlim e concorreu ao Oscar por seu desempenho (visceral) no papel da professora aposentada e escrevinhadora de cartas Dora. A tarefa de arrastar um menino órfão do Centro do Rio até os confins do Nordeste modifica sua vida. A direção é de Walter Salles, que voltou a dirigir a estrela em "Ainda Estou Aqui", hoje em cartaz em múltiplas salas, lotando multiplexes, caminhando para 6 milhões de pagantes. Nele, Fernandona divide com sua filha, F. Torres, a função de interpretar a advogada e ativista Eunice Paiva (1929-2018), que desafiou a ditadura militar.

Tem Fernanda na Netflix também em "O Tempo e o Vento" (2013), de Jayme Monjardim. Já no Globoplay, há como prestigiar essa titã em "Redentor" (2004), de seu filho, Cláudio Torres; em "Tudo Bem" (1978), de Arnaldo Jabor (1940-2020); e "A Hora da Estrela" (1985), de Susana Amaral (1932-2020).

Ainda este ano, Fernanda voltará à telona no thriller cômico "Velhos Bandidos", do já citado Cláudio Torres, ao lado de Ary Fontoura, Vera Fischer e Reginaldo Faria.