Aclamada na TV em sua passagem pela telenovela "Bom Sucesso", antes da pandemia, Shirley Cruz fez Berlim se comover numa das atuações de maior requinte se todo o festival alemão de 2025 à frente de "A Melhor Mãe Do Mundo", um drama exibido pelo evento na sexta passada. De lá para cá, ele não saiu do radar da Alemanha ao narrar a peleja da catadora de material reciclável Gal (o papel de Cruz) para fugir de uma relação tóxica, forjada nas raias da agressão.
Sua protagonista cria a figura dessa mãe resiliente com base em um vasto espectro de gestos, usando o silêncio como um cinzel para esculpir a dor. O dilema de Gal é proteger a filha e o filho, ambos menores, do atual companheiro, um segurança (vivido por Seu Jorge) que parte pra pancada quando exagera na cerveja.
A direção é de Anna Muylaert, realizadora do aclamado "Que Horas Ela Volta?" (2015). Sua dramaturgia aposta na cartografa de uma São Paulo a céu aberto, com grandes depósitos de papel, lata e plástico.
"A cada duas mulheres com quem você conversar, uma, pelo menos, terá algum histórico de violência doméstica para contar", disse Shirley ao Correio. "Tenho muito respeito pelo trabalho da Anna, pois eu me atraio pela força do roteiro, algo que ela faz muito bem. Foi importante encarar com ela esse mundo dessas profissiinais tão corajosas que catam materiais".