Desde o fim da chamada ‘Saga do Infinito’, há seis anos, quando os Vingadores derrotaram o Thanos em uma das batalhas mais épicas já vistas no cinema, a Marvel vem sofrendo para conseguir conquistar o interesse do público da mesma forma como antes. Com exceção de um filme ou outro, como ‘Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa’ (2021), ‘Guardiões da Galáxia Vol.3’ (2023) e ‘Deadpool & Wolverine’ (2024), o estúdio não conseguiu chegar perto do sucesso de público e crítica que seus longas antigos faziam.
E muito disso se deve à avalanche de produções que foram lançadas após ‘Vingadores: Ultimato’ (2019). Além de construir esse universo nos cinemas, a Marvel passou a investir em séries de TV, que ajudariam a moldar os rumos dessas novas fases no cinema. O problema é que muita gente não quis assinar o Disney+, que conta com uma mensalidade realmente cara, só para acompanhar os novos caminhos do Universo Cinematográfico Marvel, o popular ‘MCU’. Para piorar a situação, foram pouquíssimas as séries que se tornaram unanimidade dentre os assinantes.
Não bastasse essa desconexão entre público e ‘MCU’, ‘Ultimato’ marcou a despedida da formação inicial dos Vingadores, com seus principais heróis passando o manto para seus substitutos. E como fazer para fidelizar esse público novamente se alguns desses novos heróis foram desenvolvidos justamente nas séries, que não foram acompanhadas por todos os fãs?
Partindo dessa complicação, chegou aos cinemas nesta quinta-feira (13) a nova tentativa da Marvel de emplacar um novo ícone nos cinemas. Em ‘Capitão América: Admirável Mundo Novo’, Sam Wilson, o Falcão, assume o manto do Capitão América para inspirar as pessoas e manter a ordem nos EUA, em um período marcado pelo extremismo político. O longa dá continuação aos eventos de ‘Falcão e o Soldado Invernal’, uma das melhores séries do Disney+, que mostrou o Falcão (Anthony Mackie) sofrendo com o racismo do governo norte-americano, que tira o escudo e o uniforme dados a ele pelo próprio Steve Rogers, o Capitão América original, e entrega para um soldado branco com tendência à psicopatia.
A produção foi realmente espetacular ao mostrar Sam se questionando se merecia ou não ser um herói, enquanto compreendia a importância que teria para o mundo ver um Capitão América negro.
Já no filme, Sam é aceito e idolatrado mundialmente como o Capitão América, enquanto ‘treina’ seu parceiro, o novo Falcão. Porém, após um velho amigo se envolver em um atentado ao presidente dos EUA, Sam parte em uma investigação que o levará a uma trama de conspirações envolvendo o próprio presidente e um antigo vilão do Hulk, o Líder.
Logo de cara, vale ressaltar que o filme não repete a temática da série. Sam já é aceito como o herói e ninguém tentará substituí-lo. O grande embate da maior parte do filme é junto ao presidente Ross, interpretado por Harrison Ford, que substitui o falecido William Hurt. Para quem não se lembra, o General Ross caçou o Hulk por décadas e foi o responsável por trazer o Tratado de Sokovia, o acordo internacional que acabou com os Vingadores. Agora como presidente dos EUA, ele tenta mostrar ao povo que está mudado e se tornou um homem mais diplomático. Só tem um problema não tão pequeno assim: ele também se tornou um Hulk.
Apesar de flertar com o thriller político, o filme nunca se torna um. É uma aventura clássica de heróis, que não se aprofunda em temas políticos e tenta conquistar o público por meio das boas cenas de ação e da criatividade da direção para retratar os golpes e viagens mirabolantes. Dito isso, o roteiro, bastante previsível, funciona para entreter – apesar de ter uma ‘barriga’ um tanto incômoda enquanto se encaminha para o ato final – e acaba sendo melhorado pela excelente química em tela de Anthony Mackie e Harrison Ford. A dupla dá show e convence em seus respectivos papéis, trazendo ainda mais carisma para o ‘MCU’.
No entanto, incomoda um pouco que praticamente todo o núcleo de coadjuvantes do filme seja do Hulk. É como se o longa fosse construído para ser um ‘O Incrível Hulk 2’, mas com o Capitão América no papel principal. E fica ainda mais estranho constatar isso ao lembrar que a Marvel já recuperou os direitos do Hulk, então poderia ter utilizado o verdão, deixado o Capitão para uma trama que estivesse mais conectada ao seu núcleo de atuação, como enfrentar a Sociedade da Serpente, que é brevemente mencionada no longa.
De qualquer forma, o filme passa longe de ser a tragédia prometida pelos trailers e pelas fake news de bastidores, mas também não chega nem perto do altíssimo nível conquistado pela franquia ‘Capitão América’ desde 2011. Preso neste meio termo, ‘Capitão América: Admirável Mundo Novo’ constrói uma diversão honesta, morna e que deixa aquela sensação de que dava para ser melhor. É um típico sucesso da Sessão da Tarde, mas que provavelmente não será o bastante para resgatar o ‘fenômeno Marvel’ nos cinemas.