Por: Affonso Nunes

Cinema é o melhor remédio

Pacientes de todas as idades têm a arte como um suporte terapêutico para seus tratamentos | Foto: Divulgação

O projeto social Curta Terapia - O cinema nos hospitais está redefinindo a experiência hospitalar ao levar a sétima arte para pacientes em tratamento oncológico. Nesta quinta-feira (13), o Hospital Pediátrico Jutta Batista, em Botafogo, será palco de mais uma sessão de curtas-metragens, promovendo momentos de alívio e conexão com a vida e a arte.

Criado por Marcela Siqueira - atriz, produtora e estudante de Psicologia -, o projeto tem uma missão clara: humanizar o ambiente hospitalar. Em instituições públicas e privadas, crianças e adultos encontram na tela uma janela para fora das paredes brancas e frias da rotina médica.

"O Curta Terapia vai além do entretenimento. Ele reformula a interação entre profissionais de saúde e pacientes, oferecendo uma experiência que transforma o ambiente hospitalar", relata Laudicea Henriques da Silva, coordenadora de fisioterapia do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, que já recebeu sessões do projeto.

Entre os convidados da próxima exibição está o ator Cauê Campos, conhecido pelo trabalho na novela "Garota do Momento" e na série "Detetives do Prédio Azul". "A arte salva. A cultura cura. Estar nesses espaços é uma honra e uma responsabilidade", comenta ele.

O evento contará também com a presença do cineasta José Bial e da cantora Joyce Cândido. Filho do jornalista Pedro Bial, José tem um portfólio que inclui roteiros e direção de curtas premiados. Joyce, por sua vez, é uma artista de renome que já dividiu o palco com Elza Soares, Bibi Ferreira e João Bosco.

Produzido pela Tom & Luz Produções, o Curta Terapia foi aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura e conta com apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Rede D'Or e CVA.

A gênese do Projeto

Durante seus estudos em Psicologia, Marcela investigou o impacto da arte na humanização do atendimento hospitalar. Sua pesquisa revelou um potencial transformador: a cultura poderia suavizar o peso do tratamento clínico e resgatar a identidade dos pacientes.

O ponto de virada viria em 2016, quando ela inscreveu o curta-metragem "Impermanência" no Festival de Cinema Celucine. A produção quase não aconteceu devido aos custos, mas um encontro fortuito mudou o rumo da história. Um entregador, ao deixar equipamentos de filmagem na casa de Marcela, compartilhou sua experiência pessoal com o câncer na família. A conversa reacendeu sua determinação. Com apoio de amigos e profissionais, o curta foi realizado e conquistou prêmios no Festival Celucine (2016) e no Arraial Cine Fest (2018). Mais que um filme, ele se tornou um catalisador de um projeto maior, reconhece Marcela.

A primeira sessão hospitalar do Curta Terapia ocorreu no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca. "Notamos que esses curtas premiados, muitas vezes restritos a festivais, tinham um enorme potencial para impactar vidas", explica Marcela.

E o formato se consolidou: exibições seguidas de conversas com pacientes, familiares e profissionais, ampliando a humanização no ambiente hospitalar e reforçando os princípios estabelçecidos em políticas públicas como o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar, do Ministério da Saúde.

"Oito anos depois, seguimos ampliando nossa atuação. Essa história precisava ser contada, e nossa missão é continuar transformando realidades através da arte", conclui Marcela.