Pelos protocolos habituais da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, em sua cerimônia deste ano, agendada para 2 de março, Cillian Murphy vai subir ao palco do Dolby Theatre para anunciar o ganhador do Oscar de Melhor Ator, honraria que levou em 2024 por "Oppenheimer". Cumprirá essa função num páreo disputado por Timothée Chalamet (por "Um Completo Desconhecido"); Adrien Brody ("O Brutalista"); Colman Domingo "(Sing Sing"); Ralph Fiennes ("Conclave"); e Sebastian Stan ("O Aprendiz") ao mesmo tempo em que laça um longa-metragem polêmico. "Pequenas Coisas Como Estas" ("Small Things Like These") está em ciclo de lançamento internacional e chega ao Brasil no dia 13 de março, 13 meses depois de sua primeira projeção mundial, na abertura da última Berlinale, na Alemanha.
Nesta quinta, uma nova edição do evento começa em Berlim, com o cinema brasileiro na disputa pelo Urso de Ouro, representado por "O Último Azul", de Gabriel Mascaro. A chegada do festival amplia a visibilidade do trabalho de Cillian, exibido com sucesso na Mostra de São Paulo, em outubro.
Enquanto "Pequenas Coisas Como Estas" estabelecia seu prestígio em solo berlinense, o ator irlandês filmou a sequência do cult "Extermínio" (2002), chamada "28 Years Later", e um filme ligado à série "Peaky Blinders", batizado provisoriamente como "The Immortal Man". Rodou ainda uma comédia dramática chamada "Steve", sobre o cotidiano escolar da região onde nasceu (Cork, na Irlanda). Em meio a todos esses compromissos, não ignorou a relevância do drama ambientado nos anos 1980 que levou a Berlinale a uma catarse. A produção saiu da maratona germânica com o Urso de Prata de Melhor Coadjuvante, dado à atriz Emily Watson.
Na capital alemã, durante a projeção de "Pequenas Coisas Como Estas", na disputa pelo Urso dourado, tinha gente carregando cartazes dele para os cinemas da Berlinale, em busca de um autógrafo. Apesar de sua narrativa intimista e de temas ásperos (aborto, violência clerical, pobreza), o longa, dirigido por Tim Mielants, adquiriu um status de espetáculo como rescaldo do sucesso de Cillian em "Oppenheimer".
"Queria muito trabalhar com Tim de novo, depois do que fizemos no set de 'Peaky Blinders', e saímos em busca de um projeto que nos tocasse até que minha mulher me sugeriu a literatura de Claire Keegan", disse Murphy, ovacionado na Berlinale.
O best-seller homônimo de Claire serviu como base para "Pequenas Coisas Como Estas", que foi produzido pelos atores Matt Damon, Ben Affleck e pelo próprio Cillian, que protagoniza o filme no papel de Bill Furlong, chefe de um entreposto de carvão. Às vésperas do Natal de 1985, o carvoeiro se dá conta de segredos de sua comunidade, envolvendo uma atitude dominadora da Igreja envolvendo adolescentes grávidas. É uma alusão ao caso conhecido como As Irmãs Madalena, no qual jovens eram escondidas em conventos, por freiras, e tinha seus bebês confiscados. Emily Watson é a (assustadora) religiosa que entra em choque com Furlong.
"A arte pode ser um alívio para as feridas", disse Murphy.
Parceiro de Cillian em "Oppenheimer", Damon passou por Berlim para assegurar uma acolhida mais serena a um longa polêmico. "Com esse time de artistas envolvidos, meu trabalho era apenas facilitar o ambiente para todos", disse Damon, em Berlim.
Além de "O Último Azul", 18 longas dos mais variados cantos do mundo entram com concurso na Berlinale a partir de quinta, quando a programação será inaugurada pela sessão hors-concours de "Das Licht" ("The Light"), de Tom Tykwer. O divo estadunidense dos filmes indie Todd Haynes (realizador de "Carol" e "Segredos de um Escândalo") vai presidir o júri. Ele vai avaliar os títulos em competição ao lado de três cineastas (a alemã Maria Schrader, que também é atriz; o marroquino Nabil Ayouch; e o argentino Rodrigo Moreno); da figurinista Bina Daigeler, egressa de Munique; da crítica de cinema Amy Nicholson, do "Los Angeles Times"; e da estrela chinesa Fan Bingbing. As atrações seguem na Berlinale Palast até o dia 23.
