Ao passar pelas telas de Roterdã, nesta sexta-feira, ao lado de Ralph Fiennes em "The Return", de Uberto Pasolini, a atriz Juliette Binoche será reverenciada pelo evento holandês sob um novo status, o de presidente do júri do 78° Festival de Cannes. De 13 a 24 de maio, a estrela francesa de 60 anos vai avaliar os concorrentes à Palma de Ouro de 2025.
"Eu continuo investindo no cinema para descobrir o que não sei, para ser surpreendida", disse Juliette ao Correio da Manhã em entrevista no Festival de San Sebastián, quando brilhou nas telas da Europa com "O Sabor da Vida".
Em 2024, ela foi escalada para um outro posto de comando: presidir a Academia Europeia de Cinema. Essa entidade cuida da preservação estética e política da produção do Velho Mundo.
"Tenho pensado muito na preservação de ecossistemas, inclusive o da memória, desde a pandemia. Acho que uma das coisas que mais me doeram no boom do coronavírus na Europa foi não poder estar livre para andar até o mar, caminhar numa praia. Isso é uma restrição que te cerceia da natureza, afetando até a minha forma de entrega aos filmes. Foi da ecologia que eu mais me aproximei no período da covid-19 e aprendi a cuidar melhor deste planeta", disse Binoche, que deve encontrar produções brasileiras em Cannes (quiçá "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, e "Deus Ainda É Brasileiro", de Cacá Diegues.
Estima-se que Spike Lee esteja lá também com "Highest 2 Lowest". A leva de vozes autorais que há de caçar a Palma dourada este ano é forte. Binoche estará lá, atenta, embora com múltiplas demandas paralelas. Em cartaz na Apple TV com "The New Look", ela não diminuiu seu ritmo de produção nas telas, mas tem muito trabalho em seus afazeres na Academia Europeia. A tarefa honorária do cargo que ela passa a ocupar tem um forte poder simbólico e personifica o projeto europeu de alimentar uma postura industrial autoral autossustentável. Ingmar Bergman foi o primeiro presidente da instituição, tendo sido escolhido pelos 40 membros fundadores da Academia em 1989. Wim Wenders sucedeu-lhe em 1996 e exerceu o cargo até 2020, tendo sido seguido por Holland, a primeira mulher presidente da Academia.
"Fico comovida quando as pessoas se contagiam com meu modo de trabalhar", disse Binoche, que promete arrebatar Roterdã com "The Return".
A trama filmada por Uberto Pasolini é inspirada nas reflexões de Homero. No roteiro, Odisseu (papel de Fiennes) decide voltar a seu lar depois de duas décadas de ausência. Em sua volta, muita coisa mudou em seu reino, sob o impacto da Guerra de Troia. Penélope (Binoche) será sua principal aliada.
Há novos filmes com Binoche para estrearem até dezembros. Seu próximo projeto será "Camino Real", no qual vai atuar sob a direção de Ethan Hawke, seu parceiro em "A Verdade", de Hirokazu Koreeda, que abriu o Festival de Veneza de 2019.
"Na vida a gente tem que aprender com os próprios erros, encontrar nosso próprio caminho", diz Binoche. "O cinema conseguiu me mostrar a serenidade".