Por: Yuri Eiras, Alexia Souza, Bruna Fanti e Everton Lopes Batista (Folhapress)

Despedida de Neguinho marca o segundo dia de desfiles na Sapucaí

Emocionado, Neguinho da Beija Flor, faz seu último desfile como intérprete da agremiação de Nilópolis | Foto: Alex Ferro/Riotur

A segunda noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial teve Unidos da Tijuca, Beija-Flor, Salgueiro e Vila Isabel. Única escola com enredo que não tratou de temas ligados à africanidade ou raízes brasileiras, a Vila fez um desfile qe não empolgou. Tijuca e Salgueiro fizeram bons desfiles, honrando seus enredos. A despedida de Neguinho da Passarela do Samba - o intérprete da Beija-Flor dez seu último desfile defendendo o samba da escola - emocionou o público presente assim como a homenagem ao carnavalesco e diretor Laía (morto em 2023). Ao lembrar Laíla, a escola citou seus desfiles memoráveis com o carnavalesco Joãosinho Trinta, morto em 2011. E, agora, sem Neguinho a agremiação de Nilópolis parece encerrar um ciclo em sua história.

Macaque in the trees
O desfile da Unidos da Tijuca refletiu a vitalidade, ousadia e fartura que a divindade Logun Edé representa | Foto: Tata Barreto/Riotur

 

A Unidos da Tijuca abriu o segundo dia de desfiles do Grupo Especial do Rio com um samba-enredo que tem a cantora Anitta entre os compositores. "Logun-Edé: Santo Menino Que Velho Respeita" homenageou o orixá filho Oxum e Oxóssi. O desfile refletiu a vitalidade, ousadia e fartura que a divindade representa. O carro abre-alas trouxe mulheres grávidas que expressavam a fertilidade de Oxum, orixá que aparecia gigante sobre o veículo, balançando os braços diante de búzios que se mexiam logo abaixo, na frente do carro, como se estivessem sendo jogados, prevendo o futuro do filho.

O segundo carro, colorido em verde, vermelho, azul e amarelo, simbolizava Logun Edé e suas representações animais, como o tigre e o camaleão - animal considerado mutável, como o próprio orixá. O carro entrou na avenida apagado. O uso de esculturas humanas e animais é característica do carnavalesco da escola, Edson Pereira. 

No enredo, a escola destacou a juventude do morro do Borel, favela localizada na Tijuca. A comunidade esteve representada no desfile pelo último carro, que transformou a avenida em um baile funk, com a escultura de um grande DJ e dançarinos fazendo o passinho carioca.

Macaque in the trees
A reprodução do carro alegórico Cristo Mendigo, censurado no Carnaval de 1989, foi um dos destques da homenagem da Beija-Flor a Laíla, um de seus grandes nomes | Foto: Alex Ferro/Riotur

Segunda escola a desfiar,  A Beija-Flor fez a despedida di intérprete Neguinho da Beija-Flor, que esteve com a escola pelos últimos 50 anos, em uma apresentação que fez homenagem a Laíla (1943-2021), um dos símbolos do Carnaval carioca. A azul e branco de Nilópolis oi ovacionada em sua entrada na avenida. No aquecimento, Neguinho cantou três sambas durante e precisou se recompor antes de começar a cantar o samba deste Carnaval. 

Já no início do desfile, a Comissão de Frente trouxe, cercado por símbolos religiosos, o ator Levi Asaf, 11, interpretando Laíla criança. O carro abre-alas da Beija-Flor fez referência a Xangô, orixá de cabeça de Laíla. À frente do carro, o ator Samuel de Assis, 42, representou o orixá.

Segundo o enredo da escola, Laíla herdou diversas características de seu Orixá de cabeça, como a determinação inabalável, o comportamento autoritário, a fama de ser temperamental e o ímpeto explosivo, que se manifesta com força diante de qualquer forma de injustiça.

Um dos momentos de maior animação do público aconteceu durante a passagem do tripé que reproduziu a alegoria do Cristo Mendigo. O Cristo Mendigo desfilou em 1989, coberto por plástico preto, após manifestação da igreja católica contrária à escultura. Na reprodução de 2025, o tripé apresenta sósias de Joãozinho Trinta, carnavalesco da época, e Laíla, o então diretor de Carnaval.

 

Macaque in the trees
O Salgueiro evolui na Praça da Apoteose com seu enredo que fala das mandingas | Foto: Tata Barreto/Riotur

O Salgueiro foi a terceira escola a desfilar. Com o enredo "Salgueiro de Corpo Fechado", a escola colocou na avenida uma série de rituais e símbolos de proteção religiosa. O abre-alas apresentou um preto velho pilando uma erva. A escultura soltava uma densa fumaça enquanto atravessava a Sapucaí. Na lateral da escola, mulheres carregavam turíbulos, instrumentos próprios para rituais de defumação.

No meio do desfile, a escola colocou na Sapucaí um tripé -carro alegórico no qual podem ir somente duas pessoas- com 30 mil litros de água. O tripé representava o processo de iniciação no candomblé, conhecido como "fazer o santo", envolvendo rituais corporais, oferendas e a construção de altares.

Mas foi o último setor que levantou o público ao colocar na Sapucaí representações de entidades da umbanda, como Zé Pelintra e Maria Padilha.

O Salgueiro atravessou a Sapucaí com boa evolução, principal problema recente da escola. O público reagiu positivamente ao desfile, cantando o samba. Viviane Araújo, rainha de bateria da escola, e Flávia Alessandra, que entrou vestida de Maria Bonita, foram destaques do desfile.

 

 

Macaque in the trees
José Loreto interpreta Satanás no desfile da Vila Isabel, que apostou nos elementos de terror em seu enredo e acabou não empolgando a plateia | Foto: Tata Barreto/Riotur

A Unidos de Vila Isabel encerrou a segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Rio apresentando um enredo sobre medo, assombrações e ícones do terror.

A Comissão de Frente encenou a lenda de Jack Lanterna, que deu origem às abóboras iluminadas tradicionais do Halloween. Na performance, o ator Amaury Lorenzo, 40, interpretou Jack, que na história engana o diabo, interpretado por José Loreto.

O abre-alas foi um grande trem fantasma, que teve como maquinista o humorista Rodrigo Santana, 43. À frente do carro, o cantor e compositor Martinho da Vila, 87, presidente de honra da escola, desfilou sobre a escultura de uma caveira. A rainha de bateria Sabrina Sato entrou fantasiada de vampira. Lendas brasileiras, como a cobra gigante boitatá, o saci e curupira, entraram na sequência.

Mas a escola enfrentou problemas. O quarto carro alegórico, que representava o castelo mal-assombrados de Conde Drácula, demorou para entrar na avenida. A alegoria precisou manobrar diversas vezes na curva e entrou com problemas de acabamento. Uma das pilastras do castelo descolou, obrigando a equipe técnica a subir em escadas já durante o andamento do desfile, em frente ao setor 1. O setor, contudo, ainda não é considerado desfile oficial e está fora da vista dos jurados.

A alegoria que representava a lenda do bicho-papão não empolgou, mesmo com referências à cultura pop, como as personagens da animação "Monstros S/A". Mesmo no início do desfile, onde ficam os torcedores mais fervorosos, a reação dos presentes foi assistir passivamente.