A Orquestra Voadora se inspira em Ailton Krenak para levar seu bloco às ruas no 16º desfile. Com o tema "Ideias para adiar o fim do mundo - O Carnaval como ferramenta criativa e de inovação para reimaginar um futuro possível", o coletivo provoca uma reflexão sobre como a folia pode ser um ato de resistência e um chamado à ação por um futuro mais justo e sustentável, promovendo a inclusão, a sustentabilidade e o impacto social. O cortejo acontece nesta terça-feira (4) no já tradicional itinerário do Aterro do Flamengo, partindo às 16h da altura do Outeiro da Glória em direção ao MAM. Às 15h30, o Coral de Mulheres do Povo Guajajara abre o desfile.
O bloco abraça a sustentabilidade ao unir-se a ativistas climáticos em prol de um futuro verde. Ações como gestão de resíduos, cálculo de emissões e compensação de carbono, além da reciclagem de fantasias, estão sendo desenvolvidas para realizar um desfile com o menor impacto ambiental possível. A inclusão também se destaca, com a celebração dos seis anos da ala de pessoas com deficiência, exemplo inspirador para o carnaval carioca. A Voadora mostra que a folia pode ser palco para mudanças reais, promovendo igualdade de gênero e um carnaval mais consciente para todos.
Tiago Rodrigues, trompetista e um dos fundadores do bloco, destaca que o objetivo do tema escolhido para 2025 é estimular os foliões a refletir e levar às ruas suas ideias para adiar o fim do mundo. "Se o carnaval é expressão, queremos que ele seja, cada vez mais, transformação. Que possamos sonhar juntos as mudanças necessárias. E que a música, a dança, as fantasias e a alegria sejam nossos meios para plantar nas pessoas uma semente de consciência, de responsabilidade e de impacto", afirma ele.
No livro "Ideias para adiar o fim do mundo" (Cia das Letras, 2020), além de criticar as ideias de civilização e humanidade da perspectiva etnocêntrica, que serviram para legitimar a conquista e colonização dos povos indígenas, o líder indígena, filósofo e ambientalista Ailton Krenak nos convida a uma escuta atenta da natureza, a uma descolonização do pensamento e, sobretudo, a um reencantamento do mundo.
Com alegria e responsabilidade social e ambiental, os voadores, formados por 250 músicos, 50 pernaltas, 20 artistas circenses e 70 integrantes da Ala de Acessibilidade, decolam neste carnaval. A fanfarra, potente e com um repertório diverso, traz músicas que reforçam o tema do cortejo, como "Todos Estão Surdos" (Roberto Carlos), que aborda a necessidade de se religar com o amor, e "Lucro" (Baiana System), que questiona a especulação imobiliária e a ganância destrutiva. Às clássicas, somam-se as novas "Paraíso das Águas" (Milena Sá) e "Banzeiro" (Dona Onette), que homenageiam as forças da natureza, e "Know Your Enemy" (Rage Against the Machine), um bom e velho rock de protesto sobre a luta contra o sistema e seus inimigos.
Seja pela sonoridade impactante dos instrumentos de sopro, pelo repertório eclético e irreverente, pelos circenses desafiando a física em suas pernas-de-pau, ou pelo cenário único dos jardins do Museu de Arte Moderna, a Orquestra Voadora criou uma identidade inconfundível e marcou presença no carnaval de rua do Rio. Sua história começa em 2008, quando amigos músicos, de diferentes origens, começaram a ensaiar nos jardins do MAM com um repertório inovador. Ao invés dos tradicionais sambas e marchinhas, a fanfarra, composta exclusivamente por instrumentos de sopro e percussão, apresentava versões instrumentais e criativas para grandes sucessos da música pop mundial e da MPB. No ano seguinte, o primeiro desfile, sem divulgação nem constatação no calendário oficial da cidade, reuniu 3 mil pessoas. Em 2010, com a explosão de foliões, o bloco foi transferido para o Aterro do Flamengo. Nesse mesmo ano, os pernaltas, hoje marca registrada da Orquestra, surgiram, oriundos da Grande Companhia Brasileira de Mystérios e Novidades.
SERVIÇO
ORQUESTRA VOADORA 2025
4/3 - Concentração: Av. Infante Dom Henrique s/nº (autopista do Aterro do Flamengo, altura do Outeiro da Glória), às 15h