Por: Affonso Nunes

Algo além das cicatrizes

Cada cicatriz é uma história, cada marca, um aprendizado. A obra de Bárbara Paz convida o espectador a refletir sobre a beleza da vulnerabilidade e a força que reside nas transformações do corpo e da alma | Foto: Divulgação

A atriz, diretora e artista visual Bárbara Paz retorna ao Rio com sua primeira exposição individual, "Auto-acusação", que poderá ser vista no Studio OM.art. Sucesso de público e crítica nas cidades por onde passou, como São Paulo e Lisboa, a mostra explora as cicatrizes deixadas em seu corpo após um acidente de carro, ocorrido quando ela tinha apenas 17 anos.

A exposição reúne uma variedade de linguagens artísticas, como fotografias, vídeos, instalações e performances, ampliando a compreensão sobre o conceito de identidade e a relação entre o corpo e as múltiplas facetas da experiência humana.

"Decidi não tirar essa marca. Quem sou eu sem ela?", reflete a artista, destacando o impacto da cicatriz em sua jornada de autoconhecimento e expressão. Em suas obras, Bárbara utiliza materiais que marcaram sua trajetória, como cacos de vidro, o ponto de sutura que a costurou, os cabelos e até a maquiagem que ajudou a esconder as cicatrizes no rosto. Ao reunir esses elementos em suas peças, ela cria um diálogo intenso sobre o corpo como matéria histórica e o modo como as marcas físicas moldam nossa percepção de nós mesmos.

"Um fio segurou minhas metades. Um nervo manteve minhas partes. Decidi não tirar essa marca. Quem sou eu? Fiquei com medo de mim sem ela. Um vaso quebrado", descreve Bárbara Paz. "Cada marca no meu corpo carrega uma história, e essas histórias se tornam parte de quem sou", completa.

Além das instalações, a exposição vai além das artes visuais, integrando teatro, canto, audiovisual e cinema. Um dos destaques é a presença de uma boca falante, uma referência à peça homônima de Peter Handke, "Auto-Acusação", que faz parte da coletânea "As Peças Faladas" e é explorada por meio de imagens no ambiente expositivo. A peça de Handke, que reflete sobre o processo de autoinvestigação, serve como metáfora para a experiência de Paz com seu próprio corpo e suas cicatrizes.

Durante o período da mostra, Bárbara Paz realizará performances semanais, ampliando a experiência do público e proporcionando uma imersão ainda maior nas questões que sua arte aborda. A cada apresentação, ela será acompanhada por uma artista convidada, e a programação completa será divulgada em breve. A exposição promete ser uma experiência profunda, que questiona o que é visto e o que é escondido, o que é aceito e o que é recusado.

A exposição não se limita a uma reflexão sobre as cicatrizes físicas da artista, pois extrapolam para uma investigação sobre as invisíveis, que moldam a identidade e revelam os diversos "eus" que coexistem em cada ser humano. Ao convidar o público a se deparar com sua vulnerabilidade e força, a artista propõe uma reflexão sobre a aceitação e a transformação pessoal.

SERVIÇO

AUTO-ACUSAÇÃO

Studio OM.art (Rua Jardim Botânico, 997)

Até 16/6, de terça a sexta (11h às 18h), sábados (12h às 20h) e domingos (10h às 18h)

Entrada Franca