Mostra "Amor Ódio" reúne obras inéditas de Jota, artista que dialoga com o panafricanismo e a realidade da periferia carioca
O artista visual Jota apresenta suas produção mais recente na exposição "Amor Ódio" no MT Projetos de Arte, trazendo um olhar visceral sobre as contradições que habitam um mesmo território. Nascido e criado no Complexo do Chapadão, o jovem pintor de 25 anos constrói sua poética a partir da convivência entre afetos intensos e violências cotidianas, revelando como amor e ódio coexistem nas periferias urbanas brasileiras.
A mostra apresenta trabalhos inéditos em formatos variados, desde pequenas telas de 10x10 centímetros até grandes composições de 150x150 centímetros. Com curadoria do jornalista, escritor e roteirista Dodô Azevedo, a exposição propõe uma reflexão sobre como a alegria pulsante dos bailes funk e a brutalidade da violência policial e do tráfico atravessam os mesmos corpos e espaços.
Para Dodô Azevedo, o trabalho do artista se mantém alimentado pela atmosfera do Complexo do Chapadão, onde foi criado e ainda reside. Suas composições compreendem o amor e o ódio entremeados e manifestados no mesmo espaço, em diferentes cenas e momentos, envolvendo simultaneamente o existir e o sentir. "Jota mostra tanto o pôr do sol sobre os barracos quanto as paredes marcadas por balas; tanto os namorados na laje quanto o olhar de quem atravessa a rua com medo de não voltar. Sua arte é como um díptico: de um lado, o afeto bruto; do outro, a raiva justa. Separar um do outro seria mutilar o sentido", escreve o curador.
Em sua fase mais recente, Jota incorporou elementos visuais e simbólicos do panafricanismo, movimento político, filosófico e cultural que defende a união de todos os povos afrodescendentes. A presença constante das cores da bandeira panafricana criada em 1920 remete aos seus significados históricos: o vermelho do sangue derramado na luta pela liberdade, o preto como afirmação da pele negra e o verde da fertilidade da terra africana. Nessa referência, o artista estabelece uma ligação entre os povos quilombolas, as periferias urbanas e os movimentos globais de libertação.
O artista acaba de apresentar uma individual em Milão; está presente na exposição "Rio é Poesia", da Secretaria de Cultura na ArtRio, com curadoria de Cesar Oiticica Filho; e na coletiva "Funk: Un cri de Liberté", em Lille (França), como parte das comemorações do ano do Brasil naquele país.
Johny Alexandre Gomes iniciou sua trajetória retratando cenas do ambiente familiar e do cotidiano da favela, além da cultura funk. Com o tempo, passou a explorar temas mais abrangentes, incluindo pobreza, violência e racismo estrutural, tanto nas favelas quanto na Zona Sul carioca, território que começou a frequentar após o reconhecimento de seu trabalho.
SERVIÇO
AMOR ÓDIO
MT Projetos de Arte (Travessa do Comércio, 22 - Arco dos Teles - Centro)
Até 25/10, sexta e sábado (11h às 18h)
Entrada franca